Prólogo

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Localizada em um bairro nobre do Rio de Janeiro, a casa acinzentada era belíssima, como todas as outras ao redor. Extremamente confortável e espaçosa. Bom, para a senhora Fernanda era espaçosa demais para apenas duas pessoas morarem. Já seu marido adorava todo aquele espaço.

Murilo adorava provoca-la ao falar que poderiam ter muitos animais na casa e eles ainda poderiam não se ver pelo tempo que quisessem, cada um em um cômodo. Obviamente, aquilo era um exagero e Fernanda sabia disso.

- Filha, você precisa vim ver seus velhos pais antes de morrerem. - Murilo brinca ao sair do carro recebendo uma reclamação irritada no telefone - Eu e sua mãe estamos morrendo de saudade, já faz mais de um ano desde que você veio nos visitar.

- Pai, eu vou sair de férias no final desse ano. - o homem escuta um barulho do outro lado da linha - Sabe, a culpa não é só minha, vocês poderiam muito bem ter vindo me visitar.

- Nunca pensei em sair do país não será agora, minha filha, e eu também tenho medo de avião - o homem sorri saudoso com a risada da filha ao mesmo tempo que procura sua chave - Respeite seu velho pai, Talita.

- Tudo bem, já chegou em casa? A minha mãe está aí?

- Calma, estou abrindo a porta. - volta a escutar um barulho e a respiração de sua filha do outro lado da linha ao fechar a porta - Querida? Nossa filha quer falar com você. Espere um pouco, Talita, acho que ela está na cozinha.

O homem se desloca até o aposento para encontra-lo vazio. As luzes estavam acesas, sinal de que sua mulher já havia chegado do trabalho. Murilo volta a andar, dessa vez seguindo para o quarto. O homem de poucas rugas encontra sua mulher sentada na cama, imóvel, olhando um ponto fixo que ele não se deu o trabalho de procurar.

- Querida, nossa filha quer falar com você. - aproxima-se da mulher e toca sua mão. Estava gélida e ela permanece imóvel, ele encara as duas mãos sobre a cama e depois o rosto de sua esposa.

Sua expressão esmorece, sem perceber nem se importar com uma flor branca e um pedaço de papel próximos a Fernanda, ele pisca insistentemente seus olhos.

- Mãe? - a voz fala animada, mas recebe um suspiro pesado - Por que você ainda não passou o telefone pra minha mãe, pai?

- Fernanda, fale comigo! - ele fala num tom suplicante, mas tampouco procura o ponto de pulso da mulher, simplesmente a abraça.

- Pai, está tudo bem? O que está acontecendo?

E então, inesperadamente, a casa se torna espaçosa demais para uma só pessoa.

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