Os sussurros atraiam olhares desconfiados por onde os agentes passavam. Apesar de perceber, os dois decidiram desde sempre, em um acordo mudo, ignorar. Não apenas o tom de voz chamava atenção, mas os sorrisos e a animação contagiante eram os principais. Alguns achavam estranho, afinal eles estavam a caminho do necrotério e o caso tampouco parecia solucionado.
Ninguém sabia, mas os agentes não conversavam sobre o caso. Passaram o caminho compartilhando histórias e risadas, porém assim que chegaram em frente a porta do lugar, seus semblantes se tornaram sérios soltando um suspiro ao entrarem.
- Por que sempre que chegamos aqui o Otávio não está? - Augusto pergunta.
- Eu acho que ele gosta de entradas dramáticas e repentinas, - Ângela fala olhando ao redor - Otávio?
- Que bom vê-los aqui outra vez! - Otávio fala assustando os dois - Já estava com saudades.
- Eu não... - Ângela murmura encarando o corpo a sua frente.
- Giovanna Andrade dos Santos é a quarta vítima, não é? - Otávio pergunta seguindo o olhar da agente.
- Sim, o que você descobriu?
- A garota assim como Wallace, a segunda vítima, foi drogada. - disse observando o ar ficar mais pesado - Calma, não encontramos nenhum sinal de estupro. Na verdade, acho que ela nem sofreu muito.
- Como? - a agente pergunta com uma sobrancelha arqueada.
- A droga usada desta vez foi a Flunitrazepam, um medicamento que induz ao sono em poucos minutos de sua ingestão. - o papel entregado aos agentes mostravam as diferenças de uma droga para outra - Outra diferença, é que dessa vez à quantidade encontrada no corpo da jovem foi muito elevada.
- Essa substância foi encontrada no copo que achamos pela metade?
- Sim, A bebida estava cheia da droga. Altas doses dessa droga podem levar ao coma, o que seria preocupante, mas levando em consideração às atuais circunstâncias... - disse olhando o corpo.
- Então, tecnicamente ela não sofreu?
- Exatamente. Muito diferente do garoto Lucas, que não foi encontrado nenhum tipo de droga em seu corpo. Tudo o que foi feito, aconteceu com ele consciente. Ou até mesmo Wallace, também foi drogado, mas ele ainda estava consciente e a quantidade de droga encontrada em seu corpo foi baixa.
- E Fernanda?
- Bem, no caso dela não foi apenas uma droga e sim um coquetel, muito parecido com a injeção letal usada em países como os Estados Unidos. - Otávio revira alguns papéis até pegar três deles - No corpo de Fernanda foi encontrado seis gramas de tiopentato de sódio, uma grama a mais usada no procedimento, à induzindo ao coma; 100 mg brometo de pancurônio, paralisando o diafragma e os pulmões, assim cessando a respiração e a terceira droga; cloreto de potássio que induz à parada cardíaca. As mesmas substâncias do procedimento da pena de morte.
- As vitimas não tinham a menor chance contra seu algoz.
- Nenhuma delas tinham! - o legista reitera.
O corpo da jovem além do corte no peito, parecido com o de Wallace, havia um corte no pescoço, mais precisamente em sua jugular. O corte ligava o início da nuca até a garganta.
- Não faz sentido! - Ângela fala de repente - Wallace ainda tentou se defender, seu corpo levava escoriações como prova. Giovanna entrou em coma antes de ser morta e isso explica o porquê de não ter tentado se defender. Lucas levou muita pancada na cabeça o que pode ter deixado ele, no mínimo, desorientado - morde o lábio com força e encara o amigo - Mas, Fernanda não foi dopada.
- Além de ter sido a única que não teve marcas de agressão. - Augusto fala entendendo o pensamento da agente - O que leva a crer que ela nem ao menos tentou se defender.
- Exatamente! - a agente diz empolgada - É claro que o psicopata era íntimo de todos, mas ainda assim, no caso de Fernanda a própria vítima parece passiva demais quanto a situação.
- Ela poderia estar sendo ameaçada ou forçada a usar a injeção? - pergunta o legista confuso.
- Não é apenas isso, doutor! - Ângela o responde - A mulher saiu do trabalho mais cedo, estava estranha semanas antes da morte e alguns amigos diziam que ela falava com eles em tom de despedida.
- E outros detalhes estranhos que teremos que revisar. - o loiro completa.
- Mas, isso nós vamos resolver quando sairmos daqui.
- Sim, agora gostaríamos de saber sobre a arma usada nesse caso.
- Claro! - o legista fala sorrindo amplamente, os agentes perceberam, sem muitos esforços, que o homem era um entusiasta quando o assunto era armas - Bem, a arma também é diferente, provavelmente foi usado uma Katana dessa vez. O corte no peito não tem curvatura ou inclinação, é simplesmente reto. - Otávio segura a cabeça da mulher o virando de lado, mostrando a extensão do corte no pescoço - Houveram algumas dúvidas na equipe quanto a arma usada no pescoço da vítima. Alguns acreditam que o assassino possa ter usado a Katana, outros apostam em um canivete ou uma arma menor.
- Por que ele usaria duas armas?
- Isso apenas o assassino pode te responder. - Otávio responde - Mas isso é uma hipótese, ainda ficaram outros detalhes em aberto que não conseguimos entender completamente.
- Que seriam? - Augusto pergunta.
- Giovanna já estava morrendo! - os agentes o encaram surpresos - Fizemos vários testes na jovem e descobrimos que ela estava com leucemia. Foi por isso que pedimos o histórico de saúde, eu precisava saber se ela já havia tido antes ou se ela tinha familiares com casos de câncer.
- E...?
- Sim, para as duas questões. Giovanna já teve leucemia quando era apenas criança e por parte do pai, há vários casos. - Otávio os encara - Antes que perguntem: não, nenhuma outra vítima tinha alguma doença os matando. Todos eram plenamente saudáveis.
- Então, talvez seja apenas uma infeliz coincidência... - Augusto diz incerto.
- Foi uma das coisas que deixei em aberto.
Ângela encara a jovem e toca o corpo gélido. Poderia ser coincidência, é claro. Mas, e se não fosse? Quem saberia sobre a doença de Giovanna?
Isso não se assemelhava a personagem, aliás, as únicas características parecidas de Susan e Giovanna, pareciam se limitar a física.
E ainda havia o fato insistente do assassino não querer causar dor na vítima. Seria misericórdia? Bem, o serial killer não era tão misericordioso ao ponto de não mata-la e martirizar o corpo da jovem. Isso eles tinham certeza e a prova bem a sua frente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
HQs: Mortes em Série
RomanceO que fazer quando mortes fictícias assombram a vida real? Um serial killer assombra a cidade do Rio de Janeiro inspirado em situações de histórias em quadrinhos da Marvel e DC Comics. Sempre no dia 05, alguém aparece morto junto a uma carta detalha...