O ar estava pesado na sala dos agentes, os pontos de vista divergiam e isso ora ou outra causava um atrito nas conversas. Apesar da implicância mútua, havia meses que eles não discutiam de verdade.
Porém, tudo mudou com o desejo de pegarem o serial killer de uma vez por todas. Cada um jogava provas pro outro tentando convecê-lo do seu raciocínio. Esse jogo insensato, não ajudava em nada no caso, mas parecia que nenhum deles percebia isso.
- Já podemos afirmar que temos provas confirmando que Thiago é o assassino, não entendo porque insiste em teimar contra.
- Não é teimosia! E se for por provas, também temos outras apontando para Luan, por exemplo. Ou até mesmo Leandro. - franze o cenho irritada e incomodada.
- Confie em mim, ao menos uma vez. - Augusto diz exasperado.
- Eu confio em você. - a policial estava indignada com a acusação, que para ela, era sem fundamento.
- Não parece, porque eu sempre tenho que pedir isso.
- Pare de me acusar e ser tão hipócrita. - esbraveja um pouco mais alto do que o esperado.
A dupla se encara, ambos vermelhos em cantos opostos da sala.
- Hipócrita, eu?! - o agente solta uma risada incrédula e nervosa. Seu sotaque sulista aparecendo.
- É claro que é você! Consegue ver mais alguém além de nós dois aqui? - sentada de frente ao computador, a mulher bate irritada nas teclas - Você nem percebe. Tem essa pose impecável de policial modelo e adora pedir para as pessoas confiarem em você, mas você não faz isso, né? Porque nem mesmo a sua ex-parceira sabia sequer sobre você ser casado.
O loiro paralisa, perdido nos sentimentos conflitantes. Se sentindo exposto e atacado, sem saber como revidar.
- Tu não entende! - diz passando a mão sobre o cabelo em um gesto nervoso - Tu não sabe como é ter medo das pessoas se afastarem e te rejeitarem, simplesmente, por ser você. Ainda mais onde trabalho, tu não tem o direito de me julgar.
- Não sei como é, concordo com você. - levanta pegando sua jaqueta - Mas, não sou eu quem está sendo hipócrita aqui. Eu sempre fui muito direta.
- Direta e arrogante, sem se importar se irá machucar alguém.
- Quer falar sobre machucar pessoas? - Ângela para em frente a porta e volta a encara-lo - Você ao menos já se perguntou porquê Hugo se apegou tanto a mim? Eu respondo, porque eu fui a primeira pessoa que você apresentou a ele, que era do seu trabalho, ele é seu marido, deveria saber que isso era importante pra ele.
Os dois agentes se encaram tentando controlar a respiração. Ambos voltam a realidade com batidas tímidas na porta deixando seus olhares caírem ao chão, visivelmente envergonhados.
- Oh, desculpa interromper! - Alicia entra extremamente desconfortável, arrumando o óculos no rosto - Mas, está dando pra ouvir os gritos da sala ao lado.
- Nós quem pedimos desculpas, Alicia! - Augusto vê Ângela concordar sutilmente.
- Já deu minha hora, com licença! - a agente diz saindo da sala, mas a tensão continua tão palpável quanto antes.
- Você quer...
- Acho que vou pra casa! - Alicia observa o agente ajeitando papéis sobre a mesa rapidamente. - Nos vemos amanhã, até!
- Até! - sussurra perdida o vendo ir embora.
Ângela ainda sentia sua pulsação bater forte contra seus ouvidos enquanto dirigia e fumava seu terceiro cigarro em direção a Praia do Flamengo. Deixando suas memórias recentes e antigas a atingirem com força, sem se esforçar para refrea-las pela primeira vez.
Augusto dirigia no automático, sem prestar atenção no caminho, tentando chegar em casa o mais rápido possível. Passando pelo porteiro sem cumprimenta-lo, algo raro para ele. Entrou no apartamento observando seu marido se aproximar com seu costumeiro sorriso gentil.
- Eu machuquei você? - Hugo o encara assustado e paralisado a poucos metros, seu sorriso morrendo no rosto.
- O quê? - pergunta desnorteado olhando ao redor e volta sua atenção ao seu marido.
- Eu não sabia... eu não percebi. - Augusto fala deixando algumas lágrimas escorrem pelo seu rosto. Deixando-se ser abraçado. - Desculpa!
- Por que não me explica o que está acontecendo pra que eu possa te ajudar, hm? - Hugo os leva pro sofá.
O loiro explica sua discussão com Ângela enquanto recebia cafuné. Ficaram em silêncio até o choro cessar e seus pensamentos estarem em ordem.
- Não posso negar que muitas vezes fiquei chateado. E as vezes cheguei a pensar que poderia estar com vergonha de nós...
- Não! - fala levantando rapidamente do colo do outro - Não foi por isso que nunca falei, não sinto vergonha de você ou da gente.
- Sei disso, assim como sei das suas inseguranças e medos, por isso nunca te cobrei nada, meu bem. - beija o marido e passa a mão pelos cabelos lisos em uma doce carícia - Amanhã, você precisará pedir desculpas a Ângela também.
- O quê? - o olha indignado - Por que?
- Eu presenciei algumas discussões de vocês dois e pode não parecer, mas Ângela não é a única que te machuca. Você não percebe, mas já disse coisas um pouco - desvia e olha ao redor procurando as palavras certas para não deixar o loiro aflito - desagradáveis a ela. Então, estou supondo que ela também não está tão bem quanto você pensa.
- Oh... - o loiro se mexe envergonhado - Vou ligar pra ela.
- Não, - Hugo o tira o celular o encarando sério - você vai tomar banho e depois cama. Eu falo com ela.
O homem espera o outro ir pro banheiro e liga pra mulher. Caixa de recados. Quatro ligações e nenhuma atendida. Hugo suspira e decide mandar mensagens. Ia respeitar o momento da amiga deixando claro que estava ali, para quando e se ela quisesse desabafar.
- Eu posso ao menos comer antes de dormir? - Augusto pergunta sorrindo e Hugo se perde nos olhos azuis.
- Você é tão bobo! - sorri e caminha pra cozinha - Adorável.
Do outro lado, Ângela chegava em casa exausta. Falava ao telefone em inglês e seu humor parecia muito melhor. Soava nostálgica e emocionada.
Depois da morte dos seus pais e com sua carreira em avanço, mudou-se para os Estados Unidos e lá encontrou pessoas que ela era grata em ter ao seu lado. Naquele momento ela precisava respirar outros ares e a mudança lhe ajudou muito a enfrentar a perda e saudade da família. Com a proposta de voltar ao Rio de Janeiro, ela se viu perdida, depois de tanto tempo. Mesmo assim decidiu voltar e com isso teve que lidar com novas despedidas.
Ela deixou pessoas importantes no outro país, mas no Brasil, conheceu outras incríveis. E ela estava lidando melhor até do que o esperado. Conversar com pessoas que a acolheram, mesmo longe, a fez ficar mais calma e refletir. Estava chateada, porém iria pedir desculpas ao amigo. Toda aquela confusão era desnecessária e só atrapalhava, se eles quisessem concluir aquele caso teriam que trabalhar juntos e não disputar para ver quem estava certo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
HQs: Mortes em Série
RomanceO que fazer quando mortes fictícias assombram a vida real? Um serial killer assombra a cidade do Rio de Janeiro inspirado em situações de histórias em quadrinhos da Marvel e DC Comics. Sempre no dia 05, alguém aparece morto junto a uma carta detalha...