O Solstício de Inverno

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  Aquela ventania da manhã iluminando as janelas da casa Smith... Aquela ventania que despertou Adam de seus devaneios em meio a tempestades de sua vida. Ele encarava a janela como se buscasse resposta sobre o mundo. 

— Os céus está com raiva hoje. — Ele disse sem olhar pra trás. — Algo está errado. Estou com mau pressentimento. — Disse agora sim olhando para trás e encarando os gêmeos que se olharam em retorno. — Se tiverem de perdoar alguém, façam enquanto há tempo... Posso garantir que se não perdoarem, que se não amarem hoje... — Ele hesitou em terminar. — pode ser que não haja amanhã meninos.

  Macayla acordou com um pequeno susto. Havia tido outro pesadelo, e estava de bruços para a cama,  ao abrir os olhos percebeu que estava sozinha ao lado de  uma bandeja de café com pão suco, frutas e um bilhete de desculpas.

  A menina respirou fundo colocando a mão na cabeça e gemendo de dor. Estava agora de ressaca, e correu para o banheiro vomitar.

  Quando acabou, lavou o rosto e a cada piscada que dava naquele banho de água era um flashback da noite passada. Maca arregalou os olhos ainda sem cair sua ficha sobre o que havia acontecido enquanto suas memórias se voltavam cada vez mais fortes.

— Que merda... — Disse ela se encarando no espelho. — O que foi que eu fiz? 

***

  Laura Hollis foi acordada com um beijo gracioso de Carmilla em seus lábios.

— E minha mãe? —  Perguntou a bruxa iluminada ao colocar uma mecha de cabelo atrás de sua orelha.

— Saiu... Foi atrás de Elizabeth. —  Respondeu Carmilla com uma expressão de alguém que não havia gostado de responder o nome da bruxa negra.

— É... Sinto muito por isso. — Disse Laura. — Não deveria ter deixado a porção com Macayla e agora sua mãe voltou...

— Está tudo bem, Elizabeth é uma vaca, mas sei que ela preza a liberdade mais que sua própria beleza. Ela não vai deixar Aurora fazer o que quer e acabar com a chance dela de tacar o terror na terra. — Disse Carmilla.

  Laura sorriu e na porta Eva surgiu com uma expressão nada boa. 

— Precisamos nos apressar... — Disse Eva. — Hoje é o dia da Lua roxa. 

— Droga esquecemos completamente disso! — Disse Laura se levantando.

— Macayla sabe ? — Perguntou Carmilla e Eva fez que não com a cabeça.

— Temos que encontrar Macayla antes de Aurora. —  Respondeu se apressando em trocar de roupa. — Ou então ela vence essa guerra! — Respondeu Laura vestindo seu casaco.

***

  Handriel Parker havia entrado na universidade onde dava aula de cabeça cheia. Ainda não passava por sua cabeça a forma em que Rebecca morreu, e agora os seus próprios filhos o recusando, estava tudo dando tão errado...

  Ele estava destruído por dentro, exceto pela luz que viu ao entrar em sua sala e ver uma pessoa. Uma menina sentada em sua cadeira e folheando um de seus livros.

— Sempre gostei da história de Cristo. — Disse ela. 

— Alexia... — Sussurrou Handriel se aproximando da mesa quando ela fez um sinal com o indicador para que ele parasse ali mesmo.

  Alexia fechou o livro e o jogou em cima da mesa se levantando da cadeira e rodeando a mesa para sentar na ponta dela.

— Como está? — Ela perguntou primeiro.

— Levando... E você? — Perguntou ele e ela sorriu preguiçosamente fechando os olhos e os abrindo novamente.

— Eu não sei. — Disse olhando nos olhos dele. — Hoje é o dia em que não sei se eu vou morrer ou sobreviver pai. — Handriel pareceu assustado naquele momento. — Mas não vou fugir. Irei enfrentar minhas batalhas, e vim aqui pra te dizer umas coisas. Vim dizer que, eu te perdoo. — Respondeu o deixando ainda mais assustado. — Se hoje for o meu dia de morrer, não quero que morrer sabendo que meu pai acha que o odeio. Por que na verdade eu não consigo te odiar. Sou teu sangue, tua filha. Infelizmente compartilho do teu gene.

— Obrigado... Te prometo que vamos ir embora desse lugar, você e seu irmão... E-E... Nada vai te acontecer eu prometo que...

— Você ainda não entendeu. — Ela o interrompeu. — Eu não vou fugir pai.  Vou lutar pela minha liberdade, pois não tenho medo das consequências se eu tiver de morrer lutando morrerei ao lado do meu irmão com honra. Essa é minha essência, e é quem eu sou. — Alexia se aproximou de Handriel que embora estivesse surpreso sorriu.

— Você não faz ideia, do quão orgulhoso eu estou... Você é tudo o que eu não pude ser. Tudo o que não fui. — Ele a tocou no rosto e de repente lágrimas escorreram de seu rosto. Ele parecia tão arrependido e triste naquele momento, mas Alexia também tocou seu rosto, e sua testa foi colada na dela. — Eu te amo... Eu te amo minha filha.

— Também amo você. — Ela respondeu se afastando. — Reze por minha alma pai e pela de Azakiel.

  Handriel fez que sim com a cabeça e Alexia saiu pela porta o deixando sozinho.

  Ele respirou fundo. Uma vida de arrependimentos, com coisas que ele definitivamente não se orgulhava, mas que havia se arrependido.

  Handriel retirou uma arma de seu bolso. Sentou-se na cadeira de professor e começou a chorar. Em pensar que sua filha viria para perdoá-lo justamente no dia em que tiraria sua vida era inacreditável.

— De nada por isso. — Disse uma voz grave o alertando. Era Bellamy. — Tenho que voltar a cidade celestial agora, Becca está em processo de transformação. Se tornará um anjo sabia? Um anjo de puro sangue. E Miguel me pediu para mandar um abraço. 

— E você acaba enviando minha filha? 

— Digamos que... Sei como é perder alguém que eu amo por egoísmo. Perdi Ariel pra sempre por isso e... Minha vida foi bem egoísta. — Ele riu daquilo. — Como professor de Teologia deveria saber que... Tirar a própria vida é um pecado que se paga com o inferno. — Ele se aproximou de Handriel.

— Estou em um momento em que nem me importo mais...

— Se não se importa de ir para o inferno o que faz sentado aqui? — Perguntou encarando Handriel. — Vai ajudar os teus filhos a não morrer seu imbecil. 

  Handriel pensou.

— Eles não querem minha presença...

— Handriel, tua filha acabou de dizer que te perdoa na sua frente. E acha que eles não querem a tua presença? Eles querem um pai! E se agarraram ao pai de Rafael por não sentir que tinham um! —  Aquelas palavras o atingiram como um soco na boca do estômago... Ele ia desistir? Ao invés de correr atrás do que lhe foi perdido?

— Você tem razão. — Ele secou suas lágrimas.

— Mas se quer mesmo ir, vá por eles, não por você. — Bel engoliu em seco e Handriel o encarou. — Saiba que quando você perder o título de anjo será bem pior. O inferno é um lugar horrível onde você passa por mil torturas e mil mortes. É insuportável e uma hora você enlouquece! Essa é a verdade do que vai te acontecer.

— Obrigado pelo discurso motivacional. —  Disse sendo sarcástico.

— Mas melhor morrer como um herói, do que como um suicida não é mesmo? — Disse por fim fazendo com que Handriel encarasse-o de novo, mas Bellamy já não estava mais ali, e o sinal havia batido.

  Os alunos começaram a entrar na sala e ele rapidamente guardou a arma se sentando na cadeira novamente. Ele tinha razão... 

  Bellamy tinha toda razão.




Descendentes do Inferno - Uma história Renegados do Inferno - Vol ÚnicoOnde histórias criam vida. Descubra agora