Prólogo

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Kalina

Minha vida nunca tinha sido tão fácil, mas eu tinha tudo o que precisava: amigos, família e dinheiro suficiente para as necessidades básicas. Contudo, nos últimos meses... As coisas estavam muito complicadas.
Mas quando eu pedi a força superior que me tirasse dessa bendita Terra, eu não pensei que levariam meu pedido à sério.

Agora eu com certeza estava em outro mundo. Com... mulheres-raposas e gigantes que se pareciam algum tipo de porco-mais-evoluído. É tudo muito esquisito aqui.

— Qual é, Deus? Eu estava brincando quando disse que queria morar em outro mundo! — resmunguei e chutei a cela na qual eu estava presa agora. — É só um sonho ruim, isso vai passar.

Grunhi e me abracei, tentando me aquecer. Em vão, é claro.

~*~

Tudo começou quando eu resolvi tomar um ar na Floresta perto de casa. Era meu lugar favorito na vizinhança e de certa forma um refúgio para clarear meus pensamentos confusos.

Como se não bastasse os últimos ocorridos em meu país, minha família fazia pressão para que eu escolhesse logo meu futuro, ou melhor: a Faculdade que eu ingressaria. Tudo isso ao mesmo tempo em que aturava os jantares tediosos com os três pretendentes amorosos escolhidos por meu pai e me preparava para dirigir a empresa da família no futuro, já que eu era a única herdeira. Era tradição um dos herdeiros assumir a presidência. Nepotismo? Talvez. Mas ninguém nunca reclamou sobre isso.

Com meu aniversário de 18 anos chegando, tudo se tornava mais real. Meu pai assumiu a presidência com 24 anos, mas começou a ser preparado desde jovem pelo meu avô. E é claro que eu teria que seguir o exemplo de meu pai. 

George Gardisto era meticuloso e iria fazer questão de me treinar rigorosamente para que eu fosse uma boa sucessora. Para alcançar a perfeição, ele queria que eu cursasse ciências administrativas. Mas minha verdadeira vocação era totalmente diferente.

A minha segunda opção era abrir mão da presidência e entregá-la à um futuro marido, que seria treinado em meu lugar. Se eu fizesse isso, consequentemente iria quebrar a tradição, ferir o orgulho da minha família e deixar o meu pai um pouco magoado — talvez furioso — no processo. Sem falar que abrir mão da presidência e seguir outra carreira também significa ter que escolher entre um dos filhos dos três sócios da empresa para me casar — e nenhum me agradava muito. Em meio à tantas decisões importantes, eu estava totalmente perdida e precisava mesmo de um pouco de calma.

Eu consegui me acalmar razoavelmente após um longo momento andando pela trilha que levava até o riacho que atravessava a cidade. Foi ai que eu fui atraída pelo bendito portal!

Eu já estava prestes a dar meia volta para ir para casa quando avistei um círculo de cogumelos de um tipo cujo eu nunca tinha visto antes – e eu já havia passado por aquele caminho umas centenas de vezes. Curiosa, quis conferir de perto. A grama no meio parecia mais brilhante, era encantador. Não sei o que aconteceu, mas eu me senti atraída e... quando vi: já estava dentro dele. 

De repente, começou a ventar muito forte. As árvores farfalhavam e eu precisei colocar os braços na frente do rosto para me proteger da terra e das folhas que dançavam sem rumo no ar. Vagalumes apareceram e começaram a voar ao meu redor. Logo depois uma luz extremamente forte me envolveu e eu não consegui entender nadinha. Semicerrei os olhos, que se incomodaram com a intensidade da luz.

Quando eu finalmente pude começar a enxergar cores e formas de novo... no lugar da Floresta, me deparei com um ambiente extremamente diferente.

Lembro-me que era uma sala grande e redonda. O chão onde meus pés pisavam era um mármore na cor rosa claro e o teto era formado por um padrão hipnotizante de figuras geométricas pintadas num tom de azul escuro, que se destacavam por cima da cor turquesa claro. As paredes na verdade eram formadas por grandes janelas de vidro, mas o que mais chamava atenção era o grande cristal azul no centro.

Era um lugar encantador e bizarro ao mesmo tempo. O cristal ficava numa espécie de altar e era rodeado por um poço muito alo. Uma passarela possibilitava o acesso à ele. Naquela hora, sem saber pra onde ir, eu acabei me aproximando desse cristal como se estivesse hipnotizada pela luz que ele emanava. E então, uma mulher esquisita quase me matou do coração.

— Ei! Quem é você? Como conseguiu entrar aqui? — ela quase gritava.

Eu não consegui me explicar, porque um barulho alto me impediu.

Cuide dela Jamon, você sabe o procedimento. Preciso verificar o que está acontecendo. — ordenara a mulher-esquisita vulgo raposa.

Procedimento? Que procedim...

Fui interrompida por um ser gigante – bom, ele era BEM maior que eu – que me puxou pelo braço. Apesar dos meus protestos de dor ele continuou me arrastando pelo lugar, sussurrando uns ''Grr''s estranhos. Passamos escadarias que não pareciam ter fim, vários lugares estranhos e... e...

— E cá estou eu! Presa numa cela. — sorri, nervosa.

Eu estava exausta, minhas pernas doíam de tanto descer escadas. E para melhorar eu não sabia há quanto tempo eu estava presa. Se é que aqui o tempo funciona igual o da Terra.

— Se ao menos eu tivesse meu celular... — joguei minha cabeça para trás, resmungando. Eu havia checado várias vezes e meu celular não estava em nenhum dos bolsos da minha calça jeans. Provavelmente ele deve ter caído na Floresta, em meio a toda aquela confusão.

Por que vim parar aqui? — suspirei, me deitando no chão gelado da minha cela – Só queria entender... Só queria voltar pra casa...

De repente, eu não conseguia manter meus olhos abertos.

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