Capítulo 2 - The Results

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HOLLY

Meu pai e Danielle ficam se entreolhando de lado enquanto estamos sentados a mesa almoçando.
Danielle é minha madrasta desde os 8 anos. Minha mãe morreu quando eu tinha 6. Um tumor maligno apareceu em sua cabeça poucas semanas depois de meu sexto aniversário. Ele foi rápido e cruel. Minha mãe se definhou em 5 meses e faleceu, pelo pouco que me lembro. Me culpo por minha memória de infância parecer se apagar a cada ano e não conseguir lembrar tanto de minha mãe como gostaria. Mas algumas dessas lembranças são tão vivas quando o céu azul lá fora, e me apego a elas com todas minhas forças. As histórias antes de dormir, eu ajudando a estender a roupa ao seu lado e como ela fazia batatas fritas mais do que devia para uma garotinha e 5 anos.
Logo depois meu pai começou a namorar Danielle e em 13 meses eu ganhei uma madrasta. De alguma forma, eu acho que o luto em homens viúvos é diferente das mulheres. E com certeza a próxima da fila, a madrasta, se importa menos ainda. Foi assim minha infância e adolescência sem minha mãe. Menos atenção de meu pai, mais Danielle se intrometendo em minha vida. E é exatamente o que ela continua a fazer até hoje.
- Então... Lucas estava lá? - pergunta Danielle limpando os lábios com o guardanapo depois de mastigar.
- Aham. - respondi sem vontade.
- E aí, ele é lindo ao vivo? A cena foi com ele, ou ele só estava lá?
Eu olhei para ela por cima dos óculos e confirmei com a cabeça enquanto mastigava e num pedido desesperado para aquela conversa acabar logo, pois tinha medo de até onde ela nos levaria.
Meu pai perguntou mais alguma coisa e logo terminei meu jantar. Pedi licença e me levantei.


***

Não quero conversar sobre o teste com ninguém além de Emily.
Conheci Emily no jardim de infância e somos amigas desde então. Estudamos na mesma escola até o sexto ano, quando meu pai resolveu contratar um tutor para mim afim de conciliar minha agenda de trabalho com a escola.
Além de melhor amiga, Emily era como se fosse meu refúgio de "vida normal". Enquanto eu era levada por meu pai e a interesseira da Danielle para todos os lados, fazendo comerciais aqui e alguns filmes ali, voltar para casa e ter Emily morando há alguns quarteirões, era como se fosse um copo de água num dia de sol. Foi com ela que fiz furos na orelha, espionei garotos bonitos da vizinhança (armada com os binóculos do pai dela), aprendi a andar de skate (mais ou menos) e tive aulas de direção. Com Emily, dormimos uma na casa da outra, vamos à manicure e conversamos sobre tudo. Com a Emily, eu me sinto normal.
Ligo para ela assim que entro no meu quarto e ela atende no primeiro toque.
- E aí, que cena você fez? Foi uma boa? Você se saiu bem? - ela dispara sem pausa para respirar.
- A cena do hospital.
- Gente... A mais difícil?
- Sim, a mais difícil. Mas por algum motivo... - respirei fundo ao me lembrar da cena mais cedo - Lucas me deixou confortável e acho que me sai bem.
- Confortável? Qual é, Holly! Que história é essa de "confortável"? O que Lucas Zumann fez com você?
Comecei a rir e me joguei na cama.
- Sei lá... Eu estava nervosa com o teste, mas quando o conheci a fomos para o set eu me senti super tranquila. Fizemos apenas dois taques e já estava pronto.
- Esse papel já é seu, Holly. Anota aí.
Paro mais um instante para refletir em tudo que esse papel significava pra mim. Ser reconhecida, ser chamada para outros papéis importantes, entrevistas em programas de TV... E uma conta bancária gorda o suficiente para comprar meu próprio apartamento e sair desse inferno que eu chamo de casa. Só assim Danielle pararia de usufruir dos meus benefícios financeiros.

***

LUCAS

Fiquei no set de filmagens até o fim do dia acompanhando todos os testes e conversando com George. Algumas garotas foram boas, outras péssimas. Mas uma delas se destacou: Holly Evans. Seu jeito tímido, mas confiante, nos deixou de boca aberta. E ela parecia perfeita para o papel de Liz. Mas não sou eu quem decido, então deixo esse trabalho de escolha para George e vou embora.
Peguei meu carro no estacionamento e dirigi até em casa. Quando abri a porta do apartamento, senti um cheiro maravilhoso de queijo derretido.
- Hmmm... Que cheiro é esse?
   Tirei os sapatos perto da porta e joguei as chaves na mesa do corredor. Chegando na cozinha, vi Shannon mastigando alguma coisa e colocando uma travessa de lasanha sobre a bancada.
- Hoje teremos uma noite de massas. Lasanha, macarrão e canelone.
Shannon apontou para os outros dois pratos que já estavam prontos sobre a mesa.
- E seremos só nós dois ou convidou mais umas 10 pessoas? Porque aqui tem comida demais...
Shannon riu e ajeitou o cabelo.
- De jeito nenhum. Só nós dois. Daqui há dois dias eu vou embora e a última coisa que eu quero é dividir sua atenção com mais alguém. - Shannon se aproximou e envolveu meu pescoço com seus braços. A beijei profundamente e em instantes já estávamos no sofá nos esfregando um ao outro.

Não sei quando tempo se passou, mas quando fomos de fato jantar, o queijo já estava frio.


HOLLY

Quando volto para casa depois da academia, meu pai e Danielle estão abrindo uma garrafa de champanhe.
- Você conseguiu o papel! - diz ele enquanto ela solta gritinhos e me oferece uma taça.
Agora era oficial. Eu seria o próximo par romântico de Lucas Zumann num filme de Hollywood. As filmagens começariam daqui duas semanas em San Francisco.
Ofuscada pela novidade, pelo salário e pela ideia de trabalhar com Lucas Zumann durante três meses inteiros, faço o que qualquer outra garota faria: pego o celular e mando uma mensagem para minha melhor amiga. Emily estava no intervalo da faculdade e me responde no mesmo segundo.

CONSEGUI

AIMEUDEUS!

Eu sei! PQP!

Eu nunca tive inveja de você, MAS LUCAS ZUMANN?!!!!!

Te ligo depois da comemoração com champanhe e da dancinha de felicidade de Danielle. AFF!

Ignora ela. VOCÊ é a estrela!

***

- Acho que não vamos poder fazer isso pra sempre, né? - diz Emily, olhando ao redor da praça de alimentação.
- O quê, sair em público? Acho que não vou ser tão conhecida assim.
- Realmente não sabemos ao certo até que ponto sua fama vai chegar, mas não se esqueça - ela se aproxima e abaixa a voz - que você vai beijar Lucas Jade Zumann, e isso vai te transformar em alvo de ódio e mensagens iradas de metade das pré-adolescentes do mundo.
- Droga.
- Total. Exceto a parte de beijar Lucas Jade Zumann - Emily me lança um olhar malicioso, erguendo uma das sobrancelhas.
- Emily, você está parecendo um disco arranhado.
Ficamos ali ainda por um bom tempo observando as pessoas ao redor, vendo crianças puxarem suas mães pela saia e arrastarem até a fila do McDonald's, casais apaixonados dando as mãos por cima da mesa e percebi que realmente, não sabia quando seria a próxima vez que faria isso com minha melhor amiga. Ou se algum dia faríamos de novo.
- Eu queria poder te levar comigo. - digo a ela com um olhar triste - Você me mantém lúcida.
- E eu com certeza iria, se pudesse. Nem que seja em sua mala.
Sorrimos uma para a outra e continuamos nossas compras pelo shopping.

The Last MovieOnde histórias criam vida. Descubra agora