-Pedi pra ela não fazer isso comigo, mas ela ignorou completamente- algumas pessoas sorriram- Vamos falar sobre o tempo. Não sei se vocês sabem, mas perdi o meu irmão mais novo dois anos atrás. Ele estava doente, mas um dia foi liberado do hospital e nós fomos pra casa. Minha mãe foi na farmácia e meu pai foi trabalhar, ele disse que se caso acontecesse alguma coisa com o Nico, eu tinha que ligar para ele. Deixei meu irmão no quarto dele e saí, quando voltei ele estava agonizando na cama. Liguei para o meu pai, e esperei ele atender por trinta segundos. Nesses trinta segundos o meu irmão morreu. Se eu soubesse a gravidade da doença dele eu não teria saído do quarto, então carrego um pouco de culpa pela sua morte. Bem, não vamos falar do meu irmão- ri fraco - a questão é, depois que ele morreu eu passei a prestar atenção no tempo. No tempo gasto, no tempo perdido, no tempo em silêncio. Depois da Sina isso tudo fez mais sentido, porquê ficávamos muito em silêncio. Foram 37 horas em silêncio. Os dois acordados, mas sem trocar uma palavra, o que me fez pensar em quantas coisas podem ser ditas e feitas nesse tempo. Podiam ser mais 37 horas com ela, mais 37 horas ouvindo sua risada, ou com nossas mãos juntas, trocando nosso posso conhecimento de dezoito anos de vida. Podia ser mais 37 horas eu e ela. Mas não vai ser, porquê vivemos o tempo que tínhamos que viver. Sina não morreu por falta de amor, não mesmo. Não tenho uma resposta certa se alguém me perguntar porquê ela morreu, mas com certeza não foi falta de amor. Talvez tenha sido pelo pouco amor próprio que restava em seu coração, só ela sabia como doía. Não dá pra entender... O amor é uma coisa que podemos sentir, mas não podemos explicar. Pode somente se explicar a ideia. Você ama aquilo que você pode perder. Sina amava muito, amava tudo. E eu amo ela, para sempre. Antes de ir embora ela me disse pra não chorar, pois não seria o fim do mundo e na hora me faltou voz. E o que me deixou triste foi exatamente isso, o mundo não vai acabar, mas sem ela não faz muito sentido. Eu podia dizer para vocês não chorarem porquê ela não gostaria disso, mas chorem, respeitem a dor. Depois da dor vem a saudade, depois a lembrança, e depois vira presença. Somos honrados em poder sentir a presença dela, então aproveitem. Sintam saudades, chorem, riam, mas nunca esqueçam da dona do sorriso mais bonito que esse mundo já teve.Coloquei a mão no caixão, algumas lágrimas minhas caíram na madeira. Voltei para o meu lugar e coloquei as mãos nos bolsos, Josh me abraçou de lado, deitei minha cabeça em seu ombro.
Depois de uma breve oração, enterraram a Sina. Aos poucos as pessoas foram indo embora, algumas me abraçaram e outras sorriram em apoio. Meus amigos me deram um abraço coletivo, nenhum deles estava em condições de consolar ninguém.
- Vou dormir na sua casa hoje, mais tarde apareço lá- Josh segurou meu rosto- qualquer coisa me liga.
- Valeu- o abracei, ficando ali por um tempo- obrigado.
Eles nos separou e se afastou devagar. Caminhei em passos lentos até a lápide da minha namorada, sentei ao seu lado e abracei minhas pernas.
"Sina Maria Deinert, alguém feliz."
Alex disse que Sina havia escolhido a frase, não tinha nada melhor para colocar ali. Tinham algumas rosas no chão, brancas, vermelhas, e algumas flores amarelas. Respirei fundo e coloquei a mão no bolso, tirando dali um balão redondo amarelo com um desenho preto e um fio de nylon. Enchi o balão e amarrei, enrolando sua ponta no fio transparente. Olhei para o lado e encontrei uma pequena pedra, amarrei a outra ponta do fio nela e me levantei. Coloquei a pedra ao lado da lápide, sorri fraco e me afastei.
Caminhei devagar até meu carro, deixando as lágrimas escorrerem livremente pelo meu rosto. Abri a porta e sentei no banco, deixando as pernas para fora. Olhei para o céu e ri, eu nunca havia enchido um balão antes da Sina, ela tinha mudado minha ideia sobre várias coisas.
Quando sentei direito no carro, meu telefone apitou e eu o peguei, era Alex.
"Ela pediu para que eu te enviasse depois de tudo..."
Era um áudio, eu estava rezando para que Sina não estivesse chorando naquele áudio, eu não aguentaria. Conectei meu celular no carro e comecei a dirigir, e quando eu me sentia longe o suficiente do cemitério, soltei o som.
"Olá!"
Ela estava sorrindo, eu soube pelo tom da sua voz, sorri em meio as lágrimas com aquilo.
"Bom, pensei em escrever uma carta, mas muitas histórias terminam com cartas, então eu gravei um áudio! Pensando melhor, não sei se foi uma boa ideia... acho que nada será uma boa ideia mas! Enfim... espero que não esteja chovendo, e que você esteja triste. Qual é? Quero saber que tive importância na sua vida, preciso que você chore um pouco. Não muito. Nem para sempre. Só um pouquinho já está bom. Nesse momento você está aqui do meu lado, dormindo feito um anjo, e puta merda... você é muito lindo, até dormindo."- não contive uma risada- "Um, porquê eu sei que você riu. Mas ok, a questão é: acabamos de fazer sexo, foi maravilhoso, e eu conheci seus amigos de infância, eles são incríveis. Não estou conseguindo dormir, pensar que um dia você pode estar namorando com sua amiga Haley me tira o sono. Pensar em você namorando com qualquer pessoa me tira o sono, mas vamos seguir o rio, está tudo bem! Talvez seja paranóia minha, tenho quase certeza que é."- com certeza era- "Pensando nisso, eu comecei a fanficar como será sua vida depois que eu fizer o que eu vou fazer, no caso eu já fiz no momento em que você está ouvindo isso. Isso é muito confuso, estou falando com você como se você não estivesse aqui do meu lado. É interessante. De qualquer modo, eu lembrei que eu tenho direito a um último desejo, aquilo que as pessoas fazem antes do últimos suspiro depois do check-out. Eu acho que não vou conseguir falar o que eu quero antes do check-out, eu vou estar meio noiada, então decidi falar agora. O meu último desejo é que você viva como se eu tivesse mudado a sua vida. Não quero que você vire outra pessoa, mas eu quero muito que esse tempo que passamos juntos tenha mudado alguma coisa em você, pra melhor. Sei lá, desejo que você faça coisas que não faria se eu não tivesse passado pela sua vida, plante uma árvore. Ah! Eu sempre quis plantar uma árvore, plante uma árvore por nós! Meu plano era mudar a vida de alguém, e eu espero que eu tenha te ajudado a mudar a sua. Você disse que eu estraguei seus planos, mas em contra ponto você salvou o meu. Espero que isso te conforte de alguma maneira. E eu espero de verdade, que eu tenha deixado você feliz. Eu te amo Urrea, obrigada por tudo."
Parei o carro no canto da estrada e chorei, chorei muito e muito forte, minha ficha estava caindo aos poucos, eu ainda não tinha entendido que Sina não estaria ao meu lado na cama no outro dia.
[...]
Desci em um posto de conveniência e comprei um sanduíche, com certeza meu rosto estava inchado e minha cara horrorosa, eu mal conseguia ficar de pé.
- Foi abandonado no altar?- a atendente do caixa perguntou.
Franziu o cenho e ela apontou para o meu terno, e discretamente para a minha cara.
- Acabei de enterrar minha namorada- sorri forçado e ela arregalou os olhos.
- Eu sinto muito, ah meu Deus.
- Tudo bem, pode ficar com o troco- empurrei a porta e saí.
Antes que eu continuasse andando, meus olhos pararam em um garoto na frente da lanchonete. Eles devia ter oito anos, negro e não me parecia morador de rua. Parei ao seu lado e ele colocou as mãos na frente do corpo.
- Por que você não entra?- apontei para o estabelecimento.
- Vão achar que eu quero roubar, aí vão chamar a polícia, não quero isso...
Respirei fundo, estiquei minha sacola para frente e ele me encarou confuso.
- Pegue.
- Não posso.
- Pode sim, isso é culpa minha, em parte- ele sorriu e ainda envergonhado, apanhou o sanduíche da minha mão.
- Muito obrigado- ele sorriu e saiu.
Fiquei olhando ele se afastar e sorri andando de volta para o carro, sentei no banco e olhei para o céu.
- Viu isso?- sorri- você fez um ótimo trabalho amor, você conseguiu.
Ri fraco e voltei a dirigir, ficando em silêncio dessa vez o caminho todo. Não completamente, na minha cabeça ecoava a risada dela, a voz, o choro, os gritos... só ela.
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E vamos de choro...
O que acharam?
Amo vcs!
Bjos, Mary🖤🌻
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Happier🌻Noart
Fanfiction*OS CAPÍTULOS ESTÃO FORA DE ORDEM, PORÉM, NUMERADOS* Quando Noah Urrea se muda para Los Angeles, sua nova meta de vida é cursar o último ano da escola sem ser notado. Ele percebe que falhou miseravelmente quando já no primeiro dia de aula, atrai a a...