45-Conformado

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O voo até o Tennessee foi tranquilo, fiquei sozinho em uma das fileiras do avião, dormi o voo todo. Eu já havia ido duas vezes para a casa da minha irmã, mas agora era totalmente diferente, ela tinha um filho e eu... uma cicatriz no peito.

- Podemos colocar um colchão no quarto do Henrique- ouvi Spencer dizer para Linsey quando chegamos.

- Durmo na sala- terminei de colocar as malas da Linsey para dentro e me joguei no sofá.

- A gente pode brincar?- Henrique perguntou tentando abri a porta que dava acesso ao jardim.

- Vamos, depois a gente faz o almoço- minha irmã pegou ele no colo- quer vir Noah?

- Aham- joguei meu fone no sofá e segui eles.

Me senti feliz. Uma semana no escuro eu... estava feliz ali. Faltava a Sina, mas eu precisava me conformar que seria assim. Brinquei com Spencer, impedi que minha irmã fosse atingida por uma bola de futebol americano e ficasse sem a cabeça e brinquei com o Henrique.

É, eu fiz. Tentamos fazer estrelinha, ele consegui, mas eu caí de bunda no chão. Levantei a cabeça e olhei para o seu enquanto eu ria da minha própria desgraçada.

- Viu isso?- perguntei rindo e deitei na grama- caí igual um...- voltei a rir.

- Nós vamos fazer o almoço, grite se precisar de alguma coisa- meu cunhado disse e minha irmã entrou na casa com ele.

Henrique ficou comigo no jardim, a energia daquele garoto era surpreendente. Fiquei olhando para o céu, meus olhos quase não abriam por causa do sol.

- Você é um bom tio- Sina disse deitada ao meu lado- também será um bom pai.

- Não vou ser pai- a encarei.

- Por que não?

- Porque você não vai ser a mãe dos meus filhos.

- Isso não é um bom argumento- ela fez bico me fazendo rir.

- Não consigo amar mais ninguém Si, nunca mais vou conseguir amar como eu te amo.

- Você precisa seguir em frente- ela segurou minha mão- por favor.

- Eu vou- sorri- mas isso não significa que preciso te deixar para trás.

Ela sorriu e levou seu olhar para o céu, fiz o mesmo, e quando olhei de novo para o lado, Sina não estava mais lá. Sentei e abracei minhas pernas, não me preocupei em estar meio louco, pelo menos ela estava do meu lado.

- O senhor tá triste?- Henrique sentou na minha frente, confirmei sua pergunta balançando a cabeça- por que?

- A tia Si foi embora- respirei fundo.

- Pra onde ela foi?

Boa pergunta Henrique, ótima pergunta.

- Um lugar longe, e bonito- ri fraco do que eu falei- tem vários balões amarelos e... café.

- Café?

- Café. Si gosta de café.

- Por que o senhor não foi com ela?

Outra pergunta muito boa, muito boa.

- Ela queria que eu ficasse aqui, fazia parte do plano dela- ele ainda parecia confuso, mas desistiu de fazer perguntas.

- E quando ela volta?

Henrique era uma máquina de boas perguntas, e eu só tinha resposta para a última. Sina plantou em mim uma sementinha de sensibilidade, agora eu enxergava o mundo com outros olhos. Admirava a pequenas coisas, dava valor aos pequenos gestos. Mas eu ainda não conseguia ouvir as estrelas rindo para mim, e eu tinha certeza de que quando eu conseguisse, me sentiria menos sozinho.

Happier🌻NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora