Plano broadway

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★Mesmo dia pela manhã★

Era horário da troca de turno e Palermo desejoso de rever Helsink, o viu adentrando no banheiro masculino do andar e aproveitou para seguir o amigo. Nairóbi o havia desmascarado na frente dos outros, mas o que o incomodava não era o fato dela ter falado aquelas coisas na frente dos outros, mas sim porque ela tinha toda razão. Ele era um covarde, precisava admitir isso por mais que o incomodasse. Todo misero intento de relação que teve depois de Andrés ter partido seu coração, foi um fiasco. Não conseguia levar nada com ninguém adiante, nem ao menos tentava isso. Tinha medo, era covarde. Após a morte de Andrés, Martín pensou que jamais sentira dor igual, mas que também não deixaria mais ninguém fazê-lo sentir nem de perto o que estava sentindo. Não era só uma questão de prevenção mas também de ego. O medo de ser sempre machucado era tão grande que Martín criou um escudo no qual ele permaneceu durante muito tempo, no qual se forçava a todo custo isentar-se de todo e qualquer sentimento para com os outros. Esse seu casulo anti-romântico não passava de uma armadura. É preferível machucar ou ser machucado? Para ele as relações eram assim, o que bate e o que apanha. Assim que, quando Helsink apareceu na sua vida, pensou que seria mais um que usaria para satisfazer seus desejos do ego e da carne. No entanto, com o passar do tempo Palermo percebeu que passava a sentir algo novo, algo diferente. Sim, diferente de que ele sentiu um dia por Berlim, que era o seu modelo de sentimento amoroso. Teve medo, isso o assustou, como poderia ter deixado nutrir qualquer sentimento por outra pessoa? Não passava de medo. As palavras de Nairóbi não só o desmascararam como também o definiram. Tinha medo. Era egoísta por não deixar ser recíproco, e assim fazer sofrer o outro e a si mesmo; mas era também covarde por não tentar, por temer sentir a dor do que passou com Berlim. Era traumatizado. Preferia se sentir um completo idiota que, sabendo dos sentimentos do amigo, continuava a fingir ignorância e desapego do que refletir sobre o que sentia e afinal ver que se tratava da mesma coisa. É preciso ter coragem para amar, porque amar é deixar parte de si sob os cuidados do outro, é correr o risco de deixar nas mãos do outro parte muito grande da sua vida, da sua felicidade, dos seus sonhos, de você. É confiar no outro o zelo daquela parte sua, porque quando não a cuidam, as consequências são desastrosas e é preciso coragem e força para aguentá-las. Pra amar verdadeiramente é preciso ser muito corajoso. Palermo tinha noção do homem que se tornou com tudo o que passou, e não gostava dessa sua versão, na verdade a odiava. Infelizmente, só percebeu, ou encarou o que se passava, quando ao visualizar o pranto de Helsink, sentiu vontade de tomá-lo nos braços. Sentiu o peito apertar e o coração doer tanto que aparentava ser espremido dentro do peito. Não era somente culpa, sabia diferenciar pois sim, sentia muita culpa. Mas sua vontade alí era apenas fugir para outro lugar e ajudar Helsink. Quando conversaram no banheiro após o surto de Helsink com Gandía, Martín o havia prometido que não iria abandoná-lo, e Helsink lhe disse que sempre enxergou o seu verdadeiro eu, o verdadeiro Martín por trás de todos os traumas e sentimentos mal resolvidos que o haviam transformado em uma personalidade repugnante. Então nesse momento Palermo não o disse, mas decidiu que não queria seguir de alí sem ele. Não queria sair dali e voltar pra sua vida vazia e solitária que levava. Martín lembrou que um dia fora falar com Sérgio em uma das tardes e o viu selecionando alguns lugares possíveis para o grupo ir após o roubo e mesmo que Sérgio o tenha descoberto e fechado suas anotações quando vira Martín, este conseguiu ver alguns dos pares organizados e que Helsink estava com Nairóbi. Logo supôs o porque da amizade forte dos dois. Com a morte de Nairóbi, o que já passava pela cabeça de Palermo se intensificou. Ao ver Helsink desmoronando e sabendo o que o aconteceria após o roubo se seguisse sozinho, pensou que não seria má ideia partir dali com o amigo. Pensou que os dois poderiam ser a oportunidade um do outro.

Estava decidido, não deixaria mais que aquilo se fizesse nó em sua garganta. Helsink deveria saber o que sentia por ele e o que desejava para o pós roubo, já tinha passado da hora de tê-lo dito. Entrou no banheiro e viu Helsink sentado sob o grande banco feito com mesmo material que o piso. Com as pernas abertas, os cotovelos nos joelhos e as mãos segurando cada lado da cabeça. Pensativo e abatido. Ao perceber a invasão de alguém no ambiente, o russo apenas virou a cabeça, voltou rapidamente para a mesma posição que estava e se ajeitou para levantar-se enquanto inspirava forte o ar.

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