Havia se passado alguns dias desde o incidente na cela, e tudo parecia muito quieto. Todos estavam agindo de forma estranha, principalmente Kai. Ele estava evitando qualquer tipo de contato diretamente comigo. Grish por sua vez, acabou se tornando um barra pesada durante esses dias, me submetendo a sessões de torturas envolvendo eletricidade e produtos químicos, alguns acabavam me deixando em um estado de sonolência constante. Scott acabou ficando de guarda na minha cela, mantendo uma conduta rígida comigo, qualquer movimento que eu dava, ele já lançava um olhar ameaçador.
Kai era o único que mesmo me evitando na maior parte do tempo, eu conseguia sentir que ele não queria fazer isso, eu sentia que ele confiava em mim, sem contar as vezes que ele se recusou a me agredir, quando Grish o forçava. Em uma noite Kai acabou sendo designado a ficar em um turno sozinho de ronda na minha cela no lugar de Scott, onde várias vezes o peguei dizendo algumas palavras em um tom baixo, completamente indecifrável e inaudível, e quando eu o pegava fazendo isso, ele desviava o olhar e virava as costas.
O general Charles desde então, ainda não havia aparecido, porém suponho que todas essas torturas sejam a mandato dele, depois de tudo que fiz.
Estava tudo muito estranho desde aquele acontecimento, parte de mim não se recordava de muita coisa nem como aquilo havia acontecido, mas sinto que só piorei as coisas.
Durante dias, estive dormindo sentado por conta das correntes que impossibilitavam os movimentos. A corrente era presa ao teto e no chão, parecendo pesar toneladas. Era como se aqueles ferros fossem partir seus braços e pernas a qualquer instante, seja qual for o movimento que fizer.
Kai entra na cela, trazendo uns frascos de remédios nas mãos, junto de uma sacola não identificável.
- Como você está? - pergunta olhando diretamente em meus olhos.
- Já estive melhor, se não fossem essas correntes pesadas parecendo que vão arrancar meus braços a qualquer instante - ironizo, tentando não parecer desconfortável estando ali.
- Vou soltar você por um instante ok? precisamos conversar.
Ele retirou do bolso um molho de chaves, com um pingente prateado escrito seu nome, bem detalhado, e o mesmo foi soltando cada corrente que prendia meus braços e pernas. Massageio suavemente as mãos sentindo a leveza de estar livre de novo.
- Se sente melhor? - pergunta ele me oferecendo uma caixa com um cheiro muito bom - vi que você não tem comido nada direito então trouxe Tacos para você comer.
- Obrigado por isso - respondo abocanhando um dos tacos - inclusive eu agradeço por ter me soltado um pouco.
- As coisas não estão nada boas para seu lado - disse, dando uma mordida no seu lanche.
- Imagino. Quase que acabo fazendo algo pior.... - digo diminuindo o tom de voz.
- Grish me mandou pedir desculpas a você. Tudo que ele ou Scott fazem são por obrigação e obediência a Charles - disse.
- Eu entendo que eu sou um ser sobrenatural. Mas por que ele é tão rígido? Eu sou uma aberração? - digo rápido, atropelando as perguntas.
- Não nada disso Jordan. Era sobre isso que gostaria de falar com você. Imagino que tenha dúvidas sobre o que seria esse ser sobrenatural que habita em você ou por que Charles te pegou - diz ele, dando um gole em seu guaraná.
- Seria ótimo - respondo, tentando não parecer tão animado. Saber como vim parar aqui era a minha maior dúvida.
- Eu sei de basicamente tudo que aconteceu com você desde o dia que você veio parar aqui. Sei onde está Katherine também - Kai sussurra o último nome.
Katherine... Ao ouvir aquele nome, senti meu coração bater descompassadamente, sentindo uma forte preocupação crescendo em meu peito.
- Ela está bem? - digo temendo por uma resposta negativa de Kai.
- Ela? sim ela está. Porém eu a escondi, onde o general não poderá encontrá-la - disse Kai, perto de mim num som quase inaudível.
- O que o general quer com ela? - pergunto curioso.
- Bom Jordan - disse ele respirando fundo - Vocês dois possuem uma ligação com o mundo sobrenatural. Não diria o mesmo poder, mas é algo parecido - Você é uma espécie rara do que chamamos de Cão do Inferno, ou Portador da Morte, sendo considerado ser um espírito sobrenatural que possui os corpos dos seres humanos que em sua jornada acabam morrendo, fazendo renascer a fim de completar suas missões. Entretanto -fez uma leve pausa - o Cão do Inferno possui poderes pirocinéticos e termocinéticos, sendo considerados nem bons e nem ruins, apenas neutros. E por fim a criatura pode se fundir com você, quando assume a forma do Cão do Inferno você acaba tendo um apagão em suas memórias de tudo que aconteceu .
- Isso já me exclarece muita coisa - respondo, ouvindo atentamente tudo que Kai falava.
- Não sabemos ao certo como que ele apaga suas memórias. Notei que ele age de forma impulsiva, fazendo com que o fogo se alastre rapidamente pelo seu corpo, deixando você inconsciente em questão de segundos, sendo assim ele ter controle total em seus atos.
- Como você sabe tantas coisas sobre mim? - digo.
- Digamos que eu faça parte do mundo sobrenatural também. Mas ninguém sabe disso a não ser você - Kai sussurra.
- O que você é exatamente? - pergunto, tímido. Me pergunto se eu estava sendo invasivo ou perguntando demais.
- Sou um bruxo. Mas um bruxo bem poderoso - respondeu Kai, tambolirando a palma da mão.
Uma memória começou a surgir. Outro flashback se formava, ficando com mais clareza do que se tratava. A visão se tratava de Kai dizendo algumas palavras em um tom baixo, e ao dizer isso, ele havia conseguido controlar esse espírito que havia em mim. A memória havia evaporado da minha mente, e pude ver a expressão de Kai.
- Como você... Fez isso - pergunto com um tom surpreso em minha voz.
- Você se lembra graças a um feitiço que eu uso para transmitir minhas memórias a você - disse ele suspirando.
- Por que então saí do controle? - pergunto, permanecendo ainda em curiosidade.
- O Cão do Inferno o protege quando há algo que o faça sentir ameaçado. No caso imagino que ele tenha se sentido assim no momento que falou com Scott.
- Ele sempre foi assim? - questiono.
- Scott só está encarregado do que lhe foi mandado. Ele é um refugiado que decidiu servir ao coronel Charles. Como sou apenas um guarda sem atributos do general, eles estão submetidos ás ordens dele - pontuou Kai, exclarecendo mais dúvidas.
- Aquele dia.... - pauso - realmente pude sentir uma entonação de raiva vinda dele. Achei que ele seria perigoso ou me ameaçaria...
-Confie em mim Jordan. Scott não é tão durão como você pensa - disse Kai, me dando tapinhas no ombro - Preciso te contar sobre Katherine, mas numa hora melhor. Não confio nesse lugar muito menos nos outros guardas. Mas posso te assegurar que ela está em um local seguro.
Suspirei de certa forma aliviado por saber que ela estava bem.
- Eu confio em você Kai - retribuo o tapa de leve em suas costas, notando seu sorriso aparecendo gradualmente.
- Preciso ir, a magia deve estar cessando. Avisei aos outros que iria te levar para o laboratório de testes, mas na verdade usei um feitiço que nos mantém invisíveis por um certo tempo - disse ele relaxando os ombros enquanto me colocava de volta nas correntes - vou arrumar uma forma de tirar você daqui em segurança eu garanto.
Kai se vira de costas, apertando o passo e retomando a segurança em seu posto. Após isso, passou alguns minutos e todos estavam de volta à cela, como se nada tivesse acontecido.
Isso explicava tudo. Presumo que Kai estava se assegurando que eu iria ficar bem no laboratório de testes, assim como usou de seus "poderes" para proteger o Cão do Inferno e nos protegeu de forma secreta, onde ninguém sabia que estávamos aqui sob a magia de Kai.
Dormi aquela noite acorrentado, porém feliz e com uma esperança que Kai pudesse me tirar daqui, para poder saber mais do que eu sou, e reencontrar Katherine.
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THE HELLHOUND { REESCREVENDO }
Mystery / ThrillerEm um mundo onde criaturas sobrenaturais existem, há pessoas que se vangloriam em usar as suas vantagens para o mal. De um lado temos Jordan Parrish, que se auto descobriu ser portador de uma criatura denominada Cão do Inferno. O mesmo luta pelo bem...