Não é o fim.

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Considerações no final....









- Anala...- Suspirei.

- Oi mãe. - Murmurou. - Cheguei.

Ele me desceu devagar, colocando-me no chão com certa reverencia.

Ainda com a visão embaçada e com os braços trêmulos, me forcei a me afastar um pouco e olhar para ele.

Meu Deus, como ele era lindo.

Meu filho mais velho se parecia muito com Khaleel quando era mais jovem, a pele caramelada, os cabelos escuros, caindo-lhe quase até os ombros, as sobrancelhas grossas acima de cílios muito espessos que destacavam seus olhos acinzentados.

Passei a mão por seu rosto, a garganta travada, não consegui dizer nada, só chorar.

- Não. - Ele disse, sua voz era grave, como se o próprio estivesse se segurando para conter a emoção. - Não, mãe, não chora.

Sua mão acariciou meu rosto, retirando os vestidos das lágrimas teimosas que desciam sem permissão.

- Desculpa. - Tentei me recompor. - Eu não, eu...

Anala segurou minha mão com carinho, e sorriu, uma covinha apareceu na sua bochecha.

- Eu sei. - Ele beijou a palma da minha mão. - Acredite em mim, eu sei.

Um som saiu da minha garganta enquanto eu voltava a abraça-lo.

- Não faça isso comigo. - Pedi. - Ou nunca vou conseguir parar.

Um lenço escuro entrou no meu campo de visão.

Me afastei um pouco, Khaleel estava bem atrás de mim, foi nesse momento que eu comecei a me dar conta do barulho que havia a nossa volta, haviam famílias se abraçando, chorando e conversando, quando vi Anala entrei em um transe tão grande que não consegui notar ninguém a nossa volta.

Havia um rapaz muito bonito perto de Naveen e Libby, ele conversava com a mãe, Dabila, com entusiasmo. Se eu me lembro bem, seu nome era Dama, e ele nascera com os genes do pai, os mesmos cabelos castanhos e olhos chocolates, Dama possuía expressões harmônicas e parecia se mover com uma graça elegante.

Procurei Durva e a encontrei não tão longe, ela estava com os gêmeos, Johar e Dinesh, eu só não saberia dizer quem era quem, afinal, eles eram idênticos. Durva abraçava um enquanto o outro sorria, acariciando suas costas, acho que ela estava se apegando a única lembrança que Ren deixara para ela.

Rajan deu uma gargalhada alta e chamou a atenção de todos quando tomou Kabir em seus braços e o girou no ar.

Virei para meu marido e pude contemplar nos olhos dele o orgulho que Rajan tão fortemente esbanjava.

Às vezes eu me esquecia que eles já estiveram no lugar daqueles garotos, cada irmão de sangue naquele ambiente, cada pai ali, já haviam sido os filhos que perderam dezessete anos da vida deles longe de suas famílias, e agora era obvio que não queriam perder mais tempo.

- Venha aqui. - Khaleel abraçou Anala com força.

Passei a mão no rosto, tentando evitar que me debulhasse em lágrimas novamente.

- Mãe? - Maya puxou minha mão.

Olhei para trás, as crianças estavam paradas próximas de nós, parecendo acanhadas.

- Venham, venham. - Estendi as mãos. - Venham conhecer seu irmão.

- Anala. - Khaleel o puxou para perto. - Esses são seus irmãos mais novos: Raj, Niirav, Maya e Ravi, ainda falta Mihai, mas...- O olhar de Khaleel vasculhou a multidão. - Enfim, ele deve chegar logo.

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