Go back to the real world, Sina
- Andy... - Sina fala o nome da garotinha em sua boca, sentindo as letras saindo por seus lábios. - É um ótimo nome. Diz e abre a porta para sair. Era o início de sua jornada.
[Desafio 1 - O Passado]
- Noah... Noah... - A pequena Sina de 4 anos tinha invadido o quarto de seu irmão mais velho devido à um pesadelo. Ela lembrava daquele dia. - Noah acorda...
- Ai Sina... - O mais velho resmunga. - Me deixa dormir... - O jovem de 12 anos dá um pequeno empurrão na mãozinha que lhe perturbava, fazendo o pequeno corpinho se desequilibrar um pouco e cair no chão, mas aquilo não desestabilizaria a jovem Deinert determinada a conseguir a atenção de seu irmão mais velho para espantar os monstros que dominavam seus pesadelos.
- Noah... - Sina insiste. - Eu tive um pesadelo... - A jovem fala com a voz manhosa e fazendo um bico. A Sina adulta via aquela cena de longe, ela sabia que aquilo tinha a marcado, só não entendia o porquê dessa cena estar ali, porém iria seguir.
- Devia ter dito antes. - O mais velho fala e se levanta da cama, pegando a irmã no colo,que não pode deixar de sorrir. - Sonhou com o que?
- Minha mãe... ela morria... de novo. - A menina fala e a feição de Noah fecha, Sina sempre ficava sensível quando sonhava com a mãe.
- Ei Sininho... - O jovem rapaz fala passando os polegares nas bochechas da criança, limpando as lágrimas. - Deinert's não choram, ok? - Pergunta e Sina assente. - Já sei o que vai te fazer melhorar, mas tem que prometer silêncio. Se não mamãe pode nos pegar, e você sabe o quanto ela odeia ser acordada. - O menino diz sorrindo e Sina assente, passando os dedos pelo seus lábios, num gesto de um zíper sendo fechado em sua boca. - Vamos lá.
E assim foram, os dois andando devagar até a sala onde ficava o grande piano de cauda branco. Sina logo soube, Noah iria tocar para ela e a criança logo se animou. Ela adorava quando Noah tocava, o jovem tinha maestria nas teclas.
- Você vai tocar? - Sina pergunta apenas para confirmar.
- E você vai tocar comigo. - O homem fala e a menina nega com a cabeça.
- Eu não sei tocar Noah... - Sina fala revirando os olhos, ele sabia disso.
- Vem. - O menino estende a mão para a pequena Sina que aceita e se senta no banco ao lado dele. - Quero que faça esse movimento com as mãos nessas duas teclas. - Noah faz o movimento com dois dedos. - O ritmo é assim. - Começa a contagem enquanto tocava as mesmas teclas que anteriormente. - 1,2,3... 1,2,3... Entendeu? - Pergunta e vê a pequena assentindo. - Ótimo. Agora faz para mim ver. - Pede e Sina assente fazendo a mesma ação que Noah, com perfeição. - Ótimo. - O rapaz fala e começa a tocar as outras teclas, formando as notas da música.
- Que música linda... - Sina fala ouvindo a introdução da música. - Mas nunca ouvi você tocar... - A jovem Sina fala curiosa.
- Se concentra na letra. - O rapaz pede e a menina logo se cala.
- Você sempre foi curiosa. - Sina escuta uma voz que estava fora da cena, aquela voz falava com ela enquanto se aproximava.
- Ainda não entendo como não te acordamos nesse dia. - Sina fala para a pessoa que se colocou ao seu lado. - Mamãe...
- Sem joguinhos comigo aqui Sina. - Ale fala com sua voz autoritária.
- O que você representa?
- Eu posso dizer que sou o fantasma do seu passado. - A mulher diz voltando aprestar atenção na melodia que Noah cantava.
I'll keep you safe
Eu vou mantê-la segura
Try hard to concentrate
Tente se concentrar
Hold out your hand
Estenda a sua mão Can you feel the weight of it?
Você pode sentir o peso disto?
The whole world at your fingertips
O mundo inteiro ao seu alcance
- A propósito... Eu fui sim acordada. - Ale diz e estende com o braço para uma figura de robe no topo da escada, olhando a interação entre irmãos a tal hora da madrugada. - Noah sempre seguiu minhas ordens, apenas tocava clássicos. Mas nesse dia... nesse dia ele tocou uma música diferente. Para você.
- Sim. - Sina confirma. - Ele cantou I'll keep you safe, do Sleeping At Last, passei os anos seguintes escutando todas as músicas deles. Elas são profundas... reflexivas.
- Sim. Mas e Noah?
- Ele nunca mais tocou... ao menos para mim. - Sina fala e Ale assente, apenas voltando a observar a música.
Don't be, don't be afraid
Não tenha, não tenha medo
Our mistakes, they were bound to be made
Nossos erros, eles foram destinados a serem feitos
But I promise you I'll keep you safe
Mas eu prometo que vou mantê-la segura
You'll be an architect
Você será uma arquiteta So pull up your sleeves
Então, puxe as mangas
And build a new silhouette
E construa uma nova silhueta
In the skylines up ahead
Nos horizontes à frente
Don't be, don't be afraid
Não tenha, não tenha medo
Our mistakes, they were bound to be made
Nossos erros, eles foram destinados a serem feitos
But I promise you I'll keep you safe
Mas eu prometo que vou mantê-la segura
I'll keep you safe
Eu vou mantê-la segura
- Por que está me mostrando isso? - Sina pergunta para a mulher, ou melhor... para sua consciência.
- Preste atenção no que Noah fala quando termina a música.
- Sina... - O rapaz suspira e se volta para a criancinha. - Os Deinerts são uma família complicada. Amor não é o nosso forte, eu cresci cheio de traumas, problemas de auto estima, e outros afins, nunca fui contra qualquer ordem da minha mãe, porque sabia as consequências que isso traria para mim. Mas você chegou e mudou tudo, mudou para mim. A luz na minha escuridão, eu vou te proteger do mal que é ser um Deinert, você será boa, tudo bem?
- Eu não entendo porque você está falando isso Noah. Você sempre será meu irmão mais velho que espanta os monstros debaixo da minha cama não é? - Sina pergunta confusa e Noah apenas suspira.
- Você e eu... somos irmãos, mesmo que apenas filhos do mesmo pai. Eu sempre vou estar lá para você, mesmo que seja apenas como um obstáculo para você superar. Mesmo que você me odeie, isso é o que irmãos mais velhos fazem. Entendeu?
- Entendi sim. - A mais nova fala e Noah então se levanta.
- Vamos. Vou te colocar na cama.
- E espantar o monstro do pesadelo? - Pergunta esperançosa e Noah apenas sorri.
- E espantar o monstro do pesadelo. - Ele fala e o último resquício daquela cena que Sina viu, foi os dois irmãos Deinerts subindo as escadas, logo depois tudo virou uma tela em branco, mas uma pessoa continuou do seu lado, Ale.
- Por que me mostrou isso?
- Para sobreviver nós nos agarramos a tudo aquilo que aceitamos como "certo". E criamos a nossa realidade.... Mas o "certo" não passa de um mero conceito vago...E essa tal de realidade, pode ser apenas uma ilusão. Todos os humanos têm de viver com possíveis suposições. Mas isso não é apenas outra definição?
- Não entendi. - Sina fala continuando em dúvida e a mulher apenas suspira, negando com a cabeça.
- Por que a partir daquele dia, tudo mudou no destino de vocês dois. Seu e de Noah Ela fala e Sina fica pensativa. - Vamos Sina, é fácil. Até você que era uma criança deve ter percebido Noah mudar com você. - A mulher diz mas Sina continua em silêncio. Sinceramente... - A mulher resmunga e logo a parede em branco começa a se fechar em um corredor cheio de quadros de fotografias, como uma exposição de galeria.
- O que é isso?
- Isso... É o seu encontro com o passado. Você precisa se acertar com ele. E também conhecer o passado de Noah ao mesmo tempo. - A mulher fala e começa a andar. - Vamos começar por esse quadro. - Ela diz e Sina para começando a analisar, logo a imagem se aproxima e no mesmo instante, ambas foram jogadas para dentro da cena.
- Cheguei! - Era final de semana, Noah tinha acabado de chegar do internato para passar os dois dias seguintes ali. A família daria um baile beneficente para alguma causa que Sina não lembrava e Ale fez questão de que Noah estivesse com eles, juntamente de Fernando, já que agora o rapaz, com seus 14 anos, iria começar o processo de estágio da Deinert Corp em alguns meses, como a tradição da família.
Sina estava tentando aprender piano sozinha no velho sótão, onde ninguém a ouviria, quando escutou o barulho do carro desligando o motor pela janelinha que ficava de frente para o quintal, logo largou o ofício e correu escada acima para ir recepcionar o irmão.
- Bem-vindo! Irmão! - Sina fala se jogando em cima de Noah, que só teve tempo para passar os braços ao redor da menina e tentar segurá-la para não cair. - Ei! Eu estou praticando o piano escondida! Peguei aqueles seus livros antigos no fundo da biblioteca e estou tentando. Já sei tocar a introdução da 'Für Elise' de Beethoven! Mas ainda não sei na velocidade normal e com sua naturalidade, você poderia me ensinar e...
- Sina pare de perturbar seu irmão. - Ale aparece na sala e logo o sorriso de Noah some ao ver a mulher. Às vezes nem a luz de Sina conseguia salvá-lo da sensação de constante estado de tensão que aquela mansão vivia. - Noah tem que ensaiar para o conserto que irá realizar no baile.
- Tenho? - O jovem pergunta e logo se arrepende do que disse ao ver a expressão de repreensão da mãe e volta atrás. - Claro que eu lembro. Desculpa Sina, fica para a próxima tudo bem?
- Tudo... - Sina fala suspirando e solta o irmão.
- Olha o que fez. Deixou a roupa dele toda amassada. - A mulher reclama. - Suba para trocar essa roupa por outra e você... - Olha para Sina. - Vá procurar algo produtivo o que fazer, suas aulas foram canceladas por hoje graças aos preparativos para o baile, mas não fique zanzando pela casa atrapalhando os funcionários. Entendidas?
- Sim senhora. - A menina fala e logo corre de volta ao sótão.
- Você inventou aquele recital para me afastar dele não foi? - Sina pergunta depois que a cena terminou e ambas voltaram para o extenso corredor.
- Sim. Mas o seu concerto improvisado não deixou de ser brilhante. - Ale fala e ambas continuam a andar.
- E você sempre me pressionava para ser melhor que ele. - Resmunga.
- Ou será que era você que se pressionava Sina? - A mulher rebate. - Você mesma iniciou essa competição maluca para se igualar ao Noah, na sua cabeça receberia a atenção que ele recebia de mim. - Sina tenta rebater mas Ale ergue a mão. - Não tente rebater, eu sou sua consciência, sei de tudo o que você pensa ou pensou.
- Eu nunca recebi atenção de nenhum deles, e até Noah, aos poucos foi sumindo também. Até que ele surtou e nunca mais vi meu irmão naqueles olhos cruéis e sombrios.
- Já parou para pensar que Noah sempre se esforçava para te superar em tudo não porque era uma competição, mas para te proteger da minha atenção?
- Como?
- Eis a verdade sobre Noah Deinert: Todo esse tempo ele te protegia.
- O quê?! - Sina exclama. - Você é minha consciência, não tem como saber disso.
- Não sou APENAS sua consciência. Como disse, sou O Passado. Minha função é que você descubra seu verdadeiro passado, para aprender com ele e tornar uma pessoa melhor no seu presente.
- Mas não entendendo como Noah poderia me proteger todo esse tempo, se ele ATIROU em mim! Não vejo isso como proteção.
- Lembre-se do que falei. "Para sobreviver nós nos agarramos a tudo aquilo que aceitamos como "certo". E criamos a nossa realidade.... Mas o "certo" não passa de um mero conceito vago...E essa tal de realidade, pode ser apenas uma ilusão." Noah esse tempo inteiro foi melhor que você para ter minha atenção e fazer com que você tenha alguma infância mais perto do normal que um Deinert pode ter. Ele se esforçou para ser melhor que você e ter um lugar na Deinert Corp para que você fizesse a faculdade que queria. Ele sempre tirava as melhores notas para que caso você tirasse uma nota abaixo de 9,5, eu não criasse expectativas em você. Ele entrou no CADMUS para que você não entrasse.
- C-como?!
- Tudo foi premeditado por Noah. Aquela causa nem era a dele, era a minha. Você pode ver pelos argumentos dele, eram ilógicos, instáveis, de fácil contra argumentação, é tanto que até Julia conseguiu desestabilizá-lo. Moah nunca concordou com o CADMUS, mas tinha que fazer. Ele tinha que seguir minhas ordens, para que você pudesse ser você. E você foi você. - Ale abre pela primeira vez um sorriso. - Fez as mesmas faculdades de Noah porque quis, assumiu a Deinert Corp e a transformou em algo maior, algo melhor... algo de luz. Eu sempre quis que Noah fosse forte, e ele teve que ser, a sua maneira. Noah se afogou na sua escuridão para que deixasse sua luz brilhar. E tudo começou naquele dia do piano.
- Ele... Ele matou todas aquelas pessoas...
- Para que você não fosse obrigada a matá-las. - Ale admite. - Noah sabia que mesmo que você negasse sua entrada no CADMUS, a princípio, eu acharia alguma forma de te trazer para nós, mesmo que obrigada. E sabia que mesmo que você não matasse todas aquelas pessoas, a morte delas lhe influenciaria, mesmo que indiretamente. Ele preferiu arcar com toda a dor sozinho. Enquanto ele virou as trevas, você virou a Luz. Você encontrou pessoas que te amassem como você merece. Noah morreu sorrindo, você estaria bem.
- Uma coisa apenas não bate... - Sina fala pensativa. - Porque ele atirou em mim então? Como ele sabia que iria ser morto?
- Noah sabia desde o início que Josh era infiltrado. Acredite, seu irmão nunca era enganado, ele deixava se enganar. Ele tinha que atirar em você para que provasse até o final que ele te odiava e que não tinha nenhuma luz em seu coração. No fim, ele sabia que se você pensasse que ainda existia algum resquício daquele Noah nele, você sentiria falta... choraria por sua morte... Você sentiria a dor emocional. Até nisso, ele pensou. A morte dele era a única coisa que poderia garantir o fim do CADMUS. E Ale... bem, Ale ganharia a última sentença que finalmente a levaria para a sentença de morte. Não teria como escapar dessa... tudo foi premeditado pelo próprio Noah.
- E como eu supero isso? - Sina pergunta chorosa. - Como eu posso usar isso para amadurecer?
- Porque você conhece agora o amor. Todos os tipos, ou melhor... quase todos Ale fala. - Os gregos antigos reconhecem 7 tipos de amor Cada um valioso a sua maneira, e cada um é necessário para se ter em uma vida saudável e feliz. O Pragma: É um amor baseado na dedicação ao bem maior. Foi o que Noah fez por você, ele pode não demonstrar, ele te fez o odiar, mar o amor dele tinha um bem maior, o seu bem. Ludus: É o oposto de Pragma. Ludus é uma forma de amor mais divertida. É definido por brincadeira, alegria e falta de compromisso. Foi o amor que sentiu por aquele seu amigo... pai do seu filho que morreu. Um amor descompromissado, mas ainda sim amor... Você não faz sexo com qualquer um Sina, você sentia algo por ele. Ludus é divertido, mas não pode durar por si próprio. Foi o que aconteceu, logo após o seu acidente você terminou o namoro, lembra? - A mulher fala e continua enquanto sequências de fotos de pessoas importantes na vida de Sina passavam na sua frente. É o tipo de relacionamento que frequentemente associamos à palavra "amor". Este tipo é caracterizado pelo romance, paixão e desejo. Esse tipo de amor é o mais perigoso, mas também é o que perseguimos com todo o coração. Ele nos consome completamente e desafia qualquer tipo de lógica. É o que sente por Heyoon, você a ama. Perde a lógica quando está perto dela, é a sua insanidade, ao mesmo tempo que é sua maior lucidez. O Eros nos deixa cegos, mas quando é com a pessoa certa... É um dos amores mais verdadeiros que temos. Philia: Descreve o sentimento compartilhado de calor que temos com nossos irmãos ou amigos próximos. É sincero, platônico e mutuamente benéfico. Você possui ele graças a Joalin...Sabina... E até Heyoon. É por isso que a relação de vocês duas dá tão certo. Muitas vezes, os amantes podem se desenvolver para compartilhar essa conexão. Eles podem dizer a você que seu cônjuge é o seu melhor amigo. Isso é algo para se almejar, uma vez que Philia é uma das conexões mais poderosas que duas pessoas podem compartilhar. Estas relações são íntimas... autênticas... seguras. Storge: É o tipo muito especial de amor que os pais têm para com seus filhos. Como Philia, esse tipo de amor é poderoso e eterno. No entanto, ao contrário de Philia, não é um sentimento de amor entre iguais. Em vez disso, descreve uma relação de pais que cuidam de uma criança. Também difere de Philia na medida em que é incondicional. Você tem ele com seus filhos... E teve com sua mãe biológica. Julia... o pequeno que morreu... Até mesmo a pequena Andy fruto do seu consciente naquele sonho. Você os ama, e ponto. Isso é que é o mais bonito. - Ale suspira. - Não me esqueço o quanto sofreu quando descobriu que abortou aquele pequeno ser que nem sabia que carregava... Céus! Você passou por aquele luto e eu nem mesmo liguei para o que sentia, apenas te critiquei por ter sido imprudente.
Enquanto Ale falava, os quadros daquela galeria voltaram, e pararam em um especial. A imagem de Sina, agora mais velha... adolescente, quase adulta, sentada no banco em frente ao velho piano de cauda do sótão, tão conhecido... tocando Sleeping At Last, Sina desde sempre apreciava os gostos ecléticos, sua fase rebelde fora marcada por Rock Metal, Indie, entre outros. Mas quando estava no piano, apenas uma banda vinha a sua mente.
Era a mesma música que Noah tinha cantado para ela... Mas agora... era um contexto tão diferente...
Don't be, no don't be afraid
Não tenha, não tenha medo
God knows, our mistakes will be made
Deus sabe, nossos erros serão feitos
But I promise you I'll keep you safe
Mas eu prometo que vou mantê-la segura
A voz de Sina era abafada pelos soluços que emitia enquanto os seus dedos trêmulos quase não conseguiam se firmar para tocar a nota até o fim, mas ela persistia cantando, persistia encarando seu demônio pessoal. Sem ninguém para ajudá-la.
The sound of the branches
O som dos ramos
Breaking under your feet
Quebrando sob seus pés
The smell of the falling
O cheiro da queda
And burning of leaves
E queima de folhas
The bitterness of winter
A amargura de inverno
Or the sweetness of spring
Ou a doçura da primavera
You are an artist
Você é uma artista
Your heart is your masterpiece
O seu coração é a sua obra-prima
And I'll keep it safe
E eu vou mantê-lo seguro
E assim a cena se fecha com Sina chorando sobre o piano.
- Incrível o poder de uma música não? - A mulher pergunta.
- Por que me mostrou isso!? - Sina pergunta chorosa, aquele assunto ainda doía. Na verdade, sempre doeria.
- Porque esse acontecimento afetou sua vida. - A mulher fala como se fosse óbvio. Você ainda se machuca por isso... ainda se culpa por isso... Sina você não teve culpa! Você não sabia! - Ale pela primeira vez se altera. - Você foi a maior vítima disso tudo, assim como ele. Você experimentou o amor materno de você com seus filhos pela primeira vez, e nem teve convivência com ele. Ainda faltam mais dois tipos de amores para você conhecer, e você terá o seu desafio. Agape: É o sentido universal do amor que todos nós aspiramos sentir. Agape é um amor incondicional para todos os seres vivos. Este é o tipo de amor que nos dá o desejo de fazer o bem. É o que você faz todos os dias... Sina... Você faz o bem! Você muda vidas todos os dias na D-corp, você transformou o legado dos Deinert. Essa é você!
- E... qual é o último? - Sina pergunta limpando as lágrimas com a manga de sua camisa.
- Philautia: É o amor que temos por nós mesmos. - Ale diz e Sina então percebe...percebe tudo.
- Esse é o desafio. - Ela diz com certeza em sua voz. - Eu preciso aprender a me amar. Amar a Sina que eu era, mesmo com todos os erros... cicatrizes...
- Exatamente. Seu desafio com o passado é aprender a se amar. Ninguém pode evoluir como pessoa, se não se ama. Você sempre esperou receber amor, sempre esperou para lhe completarem, sendo que nunca foi suficiente para si mesma.
- Nunca é uma palavra muito forte. - Sina começa olhando para Ale. - Está certa. A Sina do passado não se amava. A Sina do passado era falha e tinha ódio disso. A Sina do passado tinha feridas que resolvia esquecer para não ter que curá-las. Essa era a Sina do passado. Hoje eu sou uma nova Sina, uma Sina que faz terapia para curar suas feridas, uma Sina que entende que errar é normal, que é apenas mais uma chance para começarmos de novo e sermos melhores que fomos antes. Você tem razão, eu amo a Sina do passado, ela me ajudou a me tornar quem eu sou hoje e sou agradecida a ela por isso. Mas eu não quero mais ser ela. Eu entendo que o passado é importante, mas não posso guardar raiva nem ficar remoendo ele, pois isso afeta a minha eu de agora. Eu amo meu irmão, sou agradecida pelo o que ele fez por mim esse tempo todo, agora entendo o porquê dele ter sido tão distante e não guardo mais remorso disso, eu não te odeio por ter sido uma mãe tão ruim e não odeio o Fernando por ter sido ausente. Eu sou uma nova Sina, e essa Sina de agora não tem mais nenhum sentimento ruim pelo o passado, ele formou o que eu sou. É claro que a morte do meu filho é uma ferida que sempre vai doer, um lugar que sempre ser a vazio. Meu eterno E SE, mas a Sina de agora convive com isso, sabendo que não há nada mais que eu possa fazer para mudar isso. - Sina fala orgulhosa de si mesma. Ela tinha agora amor próprio, ela era suficiente. E devia tudo isso graças às duas coreanas que estavam a esperando do lado de fora que ela acordasse. Julia e Heyoon foram o estopim para Sina querer mudar, para ela evoluir.
- Parabéns Sina. Estou orgulhosa de você. Você finalmente é completa. - Ale fala com um sorriso. Agora está pronta para seu último desafio. Ela fala e some, com tudo ficando preto em seguida.
[Desafio 2 - O Futuro]
E novamente o cenário aparece. Nele surge uma praia no horizonte e uma varanda em sua frente, ela conhecia aquela paisagem: Midvale.
- Oi. - Uma voz de criança aparece atrás dela e acenando com a mão.
- Você é a Andy não é? - Sina pergunta confirmando. - Lembro de você do meu devaneio para me recuperar.
- Sim. Sou a Andy, mas também represento o seu futuro. - Ela diz e se aproxima mais da varanda, se sentando no parapeito. O coração de Sina errou algumas batidas em preocupação, mas resolveu acompanhar. - Minha função é te mostrar o que pode acontecer no seu futuro.
- Em qual? O que eu morro, ou o que eu volto?
- Qual você quer? - Ela pergunta e Sina fica pensativa, logo respondendo após alguns minutos.
- Eu sei que quero voltar, então me mostre o futuro que eu teria quando voltar. - Pede e a menina assente, apontando com a mão para o gramado da casa, que ligava a praia.
- Anda mãe! - Julia aparece correndo no meio da grama, feliz, em direção a praia. Estão nos esperando lá.
- Se acalma Julia! - Sina grita saindo da casa. - Sua irmã teve que ir no banheiro e quem se voluntariou à ficar e esperar foi você. - Ela termina e uma menininha igual a Andy, porém aparentemente um ano menor, ou dois aparece correndo em meio a grama, para ir de encontro a Julia.
- Ah, mas é por que essa praga me ama né não pirralha? - Julia fala parando e esperando a criança alcançá-la e Andy aumenta o ritmo de suas passadas, causando uma risada na criança que estica os bracinhos para que a irmã a pegasse. - A Ju é a melhor irmã mais velha do mundo não é? É sim! Vem praga
- Andy não corre! - Sina grita em alerta. - Assim você vai... - Não deu tempo de avisar pois a menina já tinha caído no chão do quintal e ralado o joelho, começando a chorar. - Cair...
Eu tentei avisar.
- Andy! - Ju exclama e corre ao encontro de sua irmã enquanto Sina fazia o mesmo do outro lado.
- Tá doendo Ju... - A menina diz colocando as mãozinhas no joelho.
- Você quis ser o flash... - Diz e começa a fazer cócegas na menina, numa tentativa de fazê-la parar de chorar. - Vem, vamos nos limpar. Sorte que sua irmã é médica formada em mais de 15 temporadas de Greys Anatomy. - Diz andando de volta a casa com a criança em seus braços. - Vai andando mãe, a gente chega depois. - Ju passa pelo lado de Sina e dá um beijo em sua bochecha.
- O que você sente ao ver isso? - A criança pergunta balançando as perninhas enquanto olhava para a mulher.
- Pertencimento. - Sina fala ainda olhando para o local onde antes sua versão daquele sonho estava lá. - Uma sensação boa no coração. Acho que conforto...
- Então por que tem medo? -A garota pergunta.
- O quê? Não sei do que está falando.
- Eu sou sua consciência Sina. Eu sei que tem medo. Sua vida inteira foi movida por medo do futuro. Afastou -se de compromissos para não ter que encarar as futuras consequências deles. Vamos ser sinceras, você pediu Heyoon em casamento por impulso. - A menininha fala se virando para a mais velha. - Foi lindo, mas impulsivo. Eu não sei se no seu momento de lucidez, você teria feito aquilo.
- Qual o meu desafio? - Pergunta a mulher direta. - Eu quero voltar para minha mulher e minha filha. - Diz e a menina suspira, negando com a cabeça.
- Para Freud, o termo medo requer um objeto determinado, em presença do qual algose sente. A angústia, ele esclarece, designa certo estado de expectativa frente ao perigo e preparação para ele, ainda que se trate de um perigo desconhecido. Freud chama terror o estado em que o sujeito cai quando corre perigo sem estar preparado, com destaque ao fator surpresa. - Ela começa a falar e Lena abre a boca surpresa. - Qual é! Sou sua consciência também! Você leu sobre Freud no seu ensino médio, só não se lembra. - Diz e continua. - O medo de alguma forma está associado a um estado de angústia, angústia que castra, tolhe, inibe e reprime, algo que vai muito além do compreendido e manifesto. Basicamente... você tem medo do futuro, então não o encara, isso faz com que perca chances como essas. - Diz apontando, agora para dentro do quarto. Mostrando a cena de Loise trocando e limpando a irmã com um sorriso.
- E como enfrento isso? Como superar meu medo de uma vez?
- Lembra do que Eliza conversou com você? A diferença entre o medo e a coragem é apenas na forma que são encarados. O medo, você trava, coragem, avança? É mais ou menos isso.
- Então meu desafio é o quê? Viver 1 dia no futuro?
- Claro que não. - A menina fala. - Seu desafio, por enquanto, foi apenas encarar isso.- Aponta novamente para o quarto. - Aprender que o que quer que faça, sempre terá um futuro. Agora ele pode ser assim... Ou... - A menina estala os dedos e logo todo o cenário muda.
A próxima cena foi de uma Heyoon sentada na grande mesa de CEO, seus olhos aparentavam algumas olheiras de noites mal dormidas, que provavelmente seriam maiores mas que estavam cobertas por uma maquiagem. Algo chamava a atenção de Sina: Heyoon não sorria, em nenhum momento ali ela sorriu.
- Esse é o futuro onde suas máquinas foram desligadas, você nunca voltou. - Andy fala triste, mesmo sendo apenas uma representação da criança que a mente de Sina projetou, ela sentia empatia por Heyoon, sentimentos por ela. - Heyoon cumpriu sua cláusula do contrato. É CEO da D-corp até Julia ter capacidade para assumir... - A garota fala e Sina percebeu o tom de voz dela ir diminuindo.
- O que aconteceu com Julia? - Pergunta autoritária.
- Veja por si mesma. - Andy fala e no momento aparece Demi entrando na sala correndo, chamando a atenção de Heyoon. - Senhorita Jeong! Senhorita Jeong!
- Sim, Demi?
- A menina Julia... estava em uma festa ontem, ocorreu uma briga...
- Seja direta Demi! - Heyoon pede preocupada.
- Ela está no hospital. - Ela fala e a primeira reação de Heyoon foi soltar um palavrão enquanto pegava a bolsa apressada e rumava para a saída.
- Cada uma delas teve uma forma diferente de lidar com o luto. - A garotinha explica. Heyoon se afogou em trabalho, a D-corp prosperou, mas em comparação... sua vida pessoal afundou. Julia, coitada... acabou perdendo as duas mães. Perdeu você para o Noah, e Heyoon para o trabalho. Sem vocês, ela desistiu de bem... de tudo, principalmente do amor. Terminou o que nem começou com a Sofya e agora só se joga em festas e mais festas.
Bem, as notas dela continuam impecáveis... Mas de longe ela não é a mesma.
- Julia não curte festas.
- De fato, ela só vai nelas para ficar loucona e se meter em brigas.
- O QUÊ!? - Sina simplesmente grita espantada com a descoberta, aquelas não era mais sua filha e sua mulher, aquele não podia ser o futuro delas.- É claro que Julia toma jeito depois... - A menina fala ignorando os gritos e reclamações estéticas de Sina, tinha que terminar seu trabalho. - É incrível o quanto ela se parece com você sabia? Acho que deve ter sido por isso que se deram bem...
- E a peça? Aquilo foi a vida de Julia por tantos meses...
- Ela desistiu da peça. A garota reserva fez ela, nesse futuro ela virou uma atriz renomada graças ao seu primeiro trabalho em uma peça tão boa.
- Isso não pode estar ocorrendo... Eu preciso voltar, preciso voltar para minha família. - Sina fala olhando para os lados daquele escritório, como se tivesse procurando uma saída.
- Esse é o seu desafio. - Ela fala. - Que comecem os jogos - A garotinha fala e se senta na mesa cruzando suas perninhas e encarando a mulher começar a revirar a sala inteira.
(...)
- Como eu saio disso! - Sina exclama se jogando no sofá cansada. A menininha em desistência sai do seu lugar e vai até o lado dela.
- Não seria um desafio se eu te desse a resposta ué.
- Você tem o humor de Heyoon... - A mulher fala nostálgica olhando a garotinha mais de perto. - Isso é bom... meu humor é péssimo...
- Quer conversar em vez de procurar agora? - A garotinha pergunta arqueando a sobrancelha.
- Mas essa mania é minha... - Sina fala sorrindo e olha para o porta retrato que tinha em cima da mesa, a loira vai até ele e o pega, voltando para o sofá e mostrando a foto para a garota. - Essa aqui é a sua mãe, assim espero, Heyoon. Você tem minha aparência, então ela provavelmente implantou meus óvulos... Ou podemos ter te adotado, não sei. As manias podem ter sido adquiridas com a convivência... Heyoon não gostaria de ficar grávida novamente, eu acho.
- O que isso tem haver com o que você procura?
- Para ser sincera? Não sei. - Sina fala rindo e coloca a mão na nuca. - Eu olho para toda a minha vida e percebo que eu nunca tive o que era para ser considerado uma família sabe? Eu sei que eu tinha o Noah mas... ele era sempre ausente, assim como Fernando. A pessoa mais próxima de mim, era a que mais me odiava, isso não é saudável. - Admite. Acho que cair na armadilha emocional de Ale em me contentar que nunca teria alguém para amar... Minha mente tornou aquilo verdade quando perdi meu filho. Céus! Eu devia ser tão idiota e não merecedora de alguém para amar que meu filho morreu. Então acho que é por isso que o medo tomava... toma... conta de mim. Tenho medo de Heyoon e Julia se machucarem por minha causa, por me amarem. Imagina colocar uma outra criança no mundo? Isso me apavora.
- Você precisa aprender a conviver com esse medo. Acha que é a única que teme perder os que ama?
- Acho que eu não temo apenas perder os que eu amo... acho que temo eles irem embora. - Sina se abre para a menininha enquanto ainda olhava o porta retrato. - Elas são especiais demais para eu perdê-las Andy. Eu acho que não aguentaria mais uma perda.
- Esse é o seu problema Sina. - A garota chegou onde queria chegar. - Entendeu ele agora?
- Eu vivo pensando que sempre vou perdê-las em vez de viver. - A mulher admitiu se levantando do sofá, determinada. - Se eu continuar pensando assim, aí é que vou perdê las.
- Exatamente. Suas inseguranças poderão acabar afastando as pessoas que ama se você viver apenas pensando nelas. - A garota se levanta também. - Ter medo é normal, ter inseguranças é normal. Tudo isso é humano. Você apenas não pode deixar de viver com medo delas serem reais, porque se você fizer isso... elas se tornarão realidade.
- Tem razão. - Ela fala e vai até a mesa depositando cuidadosamente o porta retrato ali em cima e se movendo em direção a saída.
- Onde vai?
- Voltar para casa. - Ela fala e abre a porta do escritório, ficando surpresa que a mesma abriu e olha para a garota. - Era só abrir a porta esse tempo inteiro? - Pergunta e a garota nega com a cabeça.
- O que diferencia as nossas ações, é a determinação que temos em realizá-las. Você agora está determinada em ir para casa e viver, essa era sua chave. Seu desejo de viver.
Tenha uma boa vida Sina. - A menina diz sorrindo e a mulher assente. Agora iria viver.
(...)
[Mundo Real]
- Oi... - Ela acorda com a voz rouca e um pequeno sorriso cansado no rosto. Estava em casa, agora.
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O Acordo Siyoon
FanfictionSina Deinert, grande CEO da D-Corp, tem um problema que acompanha ela desde que assumiu seu cargo: Precisa ter uma herdeira. Pode parecer uma existência estranha, mas no mundo atual, onde pessoas como ela são alvos de pessoas más todos os dias, é ex...