Akai Ochako

Capítulo 4: Olhos vermelhos

Uravity acordou atipicamente cedo. Enrolada em um lençol levinho e fresco, sentindo a brisa do ventilador de teto, esticou-se no sofá-cama que rangia sobre suas molas. Ainda sonolenta, sentou-se descabelada e abraçou seus joelhos, buscando por algum conforto frente ao aperto no peito que a despertara naquela manhã. Estava alocada no escritório do primeiro andar da tal casa de praia de GroundZero e RedRiot e, era bem estranho estar ali. O lugar tinha um típico cheiro de clima úmido e quente de praia e nada era familiar, nem a companhia e nem como fora parar ali. Devido a noite perturbada por sonhos inquietos, desistiu por fim de tentar dormir, não conseguia evitar de refletir sobre os sentimentos que a incomodavam:

Ser um herói do ranking era algo incrível... mas incrivelmente cansativo também. Entre lutas, missões, resgates, entrevistas, Ochako havia assistido sua vida passar num piscar. Havia, então, decidido se dar ao luxo de, ao menos por um mísero mês, tentar não salvar algo ou alguém. Como nenhum fã ou mídia sabiam que ela havia se mudado de I-Island, a ideia de ir a Europa passear, foi um de seus planos para desfrutar de uma folga sem qualquer tipo de assédio. Mas a realidade é que ela tinha detestado Londres. Não que lá fosse uma cidade ruim mas, cada dia que se passava, era uma lembrança do número de vezes em que Deku adiou as férias deles, até que simplesmente desistiram de viajar juntos.

Levantando-se da cama a fim de interromper seus cansativos pensamentos, caminhou silenciosamente até o banheiro para tomar uma ducha. Com passos cuidadosos, fazia silêncio para não acordar os outros dois heróis, que dormiam em algum lugar do andar de cima. Apesar de luxuosa, a casa de madeira no estilo oriental tinha pouquíssimos cômodos e era bem prática, sem muitos móveis ou decorações. A beleza do lugar não precisava de mais nada além de grandes janelas para apreciar a vista. Cruzando a sala ampla e arejada, abriu cuidadosamente a porta do banheiro, no final do cômodo; Se despindo e entrando no boxe em seguida. No instante em que a água do chuveiro começou escorrer por seus cabelos, não conseguiu evitar de deixar sua mente divagar entre os acontecimentos dos últimos dias:

Encontrar RedRiot no exterior tinha sido algo inesperado, e ela adorou a companhia do ex-colega de turma. Ficou também impressionada pela forma que os dois se entrosaram, fazendo-a esquecer completamente de todo aquele embrulho que carregava no estômago. E então se viu leve. Se viu alegre. Curiosa. Repentinamente com vontade de experimentar algo novo. Por coincidência, Kirishima pareceu ter cogitado algo parecido. Ela só precisou de um pouquinho de coragem para aceitar estar com ele. Não podia dizer que estava propriamente apaixonada, ou com algum sentimento mais profundo. — Nesse momento sorriu e abraçou o próprio corpo carinhosamente, relembrando da noite que passou com ele, apertando a toalha de banho contra o peito — Talvez, se investisse um pouco nesse sentimento de carinho que aquecia seu coração, até cogitaria despertar algo mais pelo herói. Porém, preferiu não pensar nisso, deixando a memória daquela noite em um estado morno, sem planos. Ainda não sentia-se preparada para pensar em alguém além dela mesma.

Enrolada na toalha, passou rapidamente pela sala para retornar ao escritório-quarto. Começou a buscar, entre a pilha de roupas que Kirishima separou para ela, algo que lhe servisse bem. Pelo que Uraraka se lembrava, a senhora Bakugou era um tanto mais alta e magra, deixando suas vestes um pouquinho justas nela. Mas de forma geral, estava à vontade em um shorts e regata que encontrara, já que fazia bastante calor, ainda que fosse tão cedo. Infelizmente constatou que não usaria a piscina, observando frente ao próprio corpo, que o biquíni certamente não serviria em seu busto.

Olhou para o relógio, sentindo os olhos ardendo e um bocejo preguiçoso formando-se em sua boca. Cinco e meia ainda era muito cedo para usar a cozinha, então, esperou um pouco mais. Encostando-se na cama afim de relaxar, foi um ato impossível no momento, já que nem seu banho havia espantado todos os pensamentos que a impeliam a ficar nesse estado reflexivo naquela manhã: