Akai Ochako

Capítulo 6: Admiração

Relaxar demais nunca foi o perfil dele, portanto, a ligação de emergência daquele dia fez suas veias brilharem em empolgação. Assim, Bakugou deixou a casa de praia em Joudogahama mais cedo, retornando à filial da Endeavor Inc. na nostálgica Musutafu, cidade onde estudou e mora até hoje. O descanso foi até que bom, mas um pouco desgastante emocionalmente. Apesar de Kirishima aparentemente ter tudo sob controle, como sempre, seu parceiro era um mestre em remexer em coisas que ele particularmente preferiria deixar quieto.

Partiu no início da manhã sem se despedir, depois enviaria uma mensagem para Eijirou, que estava babando na cama quando ele saiu. Sozinho para a viagem de volta, finalmente teve um pouco de seu espaço pessoal, paz e silêncio recuperados. O longo trajeto seria ótimo para plugar seus fones e resmungar em seu isolamento mental.

    Bakugou passou pela catraca da estação usando seu cartão de passe pessoal, ao invés do de herói, e aguardou na plataforma pacientemente. Carregando apenas uma mochila no ombro para ocultar a maleta de seu traje, vestia óculos de sol e um boné, tentando evitar ser reconhecido. Não era fácil para um armário loiro e chamativo se disfarçar na multidão, mas assim, tão cedo, com a luz fraca da manhã, as pessoas andavam como zumbis a caminho de seus trabalhos e ninguém ficava reparando na cara um do outro. Quando o trem estacionou na plataforma com um chiado agudo e trazendo um vento repentino, o herói se viu refletido nas janelas do veículo e se sentiu um maldito turista de férias em plena Quarta-feira, com a pele recém bronzeada de sol e trajes desleixados, de bermuda e tênis.

Nunca que ele imaginou em toda sua vida estar vivendo momentos caseiros como este.

Um relacionamento, toda essa... coisa, é algo que geralmente o incomoda e distrai. Alinhando isso a sua vida de herói, ha! Tudo o que ele menos precisava era de alguém para servir como um alvo, um ponto fraco para atingí-lo. Desde que soube a história de vida de AllMight, Bakugou sabia que ter alguém, significava agir sem pensar. E é claro que a porra de sua vida despertara nele necessidades que ele evitou até onde deu.

    Kirishima Eijirou simplesmente existe.

Se aquele maldito Cabelo de Merda lhe dá um sorriso idiota, bem, ele acaba ficando à mercê mesmo quando não quer. O que confortou-o até hoje é saber que o cara que ele admira é o fodido RedRiot. E ele tem dó de quem quiser atingi-lo por meio disso, porque se tem algo que Kirishima é bom, é em lutar e se proteger. O cara é a porra de um escudo humano!

Partindo daí, ele se viu pela primeira vez cedendo a um relacionamento que não fosse somente para aliviar a pressão da bolas e sair fora na manhã seguinte. Mas é difícil pra ele. Como alguém, que perseguiu por sua vida toda uma única ambição, a de tornar-se o melhor herói, pode passar a se dedicar a fazer um jantar ou ficar no sofá abraçado vendo a porra de um filme que mal lhe prende a atenção? Sem contar a parte onde ele é simplesmente horrível com a escolha de palavras. Ele não é burro, tem ciência disso, ele é estúpido que dói quando tá irritado.

Outro ponto que colabora para piorar essa história de relacionar-se, era que ele se tornou um maldito workaholic, um viciado em carreira. Justamente o que Endeavor e EreaserHead sempre lhe alertaram. E se não fosse pela sutileza em como Kirishima começou a atuar na sua vida em âmbitos profissionais e pessoais, talvez a essa hora, ele já teria sido consumido pela ganância e soberba.

Salvar pessoas era incrível, mas salvar mais pessoas do que qualquer herói era seu ponto de ruptura, aquela área de seu campo de visão onde a realidade ficava turva e seus objetivos distorcidos. Foi aí que ele enfim percebeu que precisa de pessoas para importar ao seu lado, e não apenas para competir. Ele precisa de freios! Motivação para não correr como um louco em busca de reconhecimento, confiando tudo sobre a carga que ombros suportam. Motivação para voltar pra casa ileso e não ver ninguém, nem seus velhos, chorando por causa dele.