três

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Na quinta semana de Harry no Treinamento para Auror, houve um acidente.

Se ele parasse para pensar nisso – e ele parava um montão, imagens piscando pela sua mente contra a sua vontade, toda vez que ele fechava os olhos – ele não conseguia se lembrar o que exatamente eles estavam fazendo na hora em que aconteceu. Harry estava duelando com um dos outros recrutas, talvez? Ele achava que alguém tinha feito uma piada. Alguém estava rindo. Talvez fosse ele. Talvez ele estivesse rindo de uma piada que ele próprio tivesse feito, como o idiota que era. Talvez. Mas Harry não tinha certeza.

Ele não sabia de nada a não ser o fato de que algo deu errado.

A razão por trás do treinamento daquele dia tinha sido esquecida por Harry, mas ele sabia que deveria ser algo amigável. Ninguém deveria se machucar, nunca foi o plano de nenhum deles. Alguém foi atingido aquele dia, porém. Não por um feitiço Imperdoável, não por nada realmente ruim e fora do normal. Foi um acidente, um horrível, facilmente evitável acidente.

Um dos outros recrutas foi jogado pelo ar por um Expelliarmus, o que acontecia um número ridiculamente grande de vezes. O próprio Harry já estava mais do que acostumado a voltar para casa com as costas todas cheias de roxos por bater em paredes e quicar com tudo no chão. Era algo diário e que eles aprenderam a ignorar, que nem doía mais.

Dessa vez, porém, o recruta bateu com a cabeça. Forte demais.

Ele não se levantou.

Um acidente – e um monte de futuros Aurores e instrutores que não puderam fazer nada para ajudar o homem caído e sangrando no chão, gritando de dor.

Aquele dia, quando Harry voltou para casa, ele tinha se sentido vazio. Entorpecido, sem realmente sentir a verdade do que tinha acabado de acontecer. Suas mãos tremiam e ele caiu no sono segurando a varinha de Malfoy, chorando sem nem sentir as suas lágrimas.

Fazia cinco semanas que ele tinha começado o seu treinamento, mas foi naquele dia, por causa daquele acidente, que Harry recebeu a lição mais valiosa e amarga que ele poderia receber – a guerra tinha acabado. Pessoas ainda morriam. Ele tinha escolhido aquele trabalho e agora ele iria ter que lidar com isso.

Harry tinha pensando que tudo iria acabar ok. Desde que ele tinha um ano de idade e seus pais foram assassinados, a morte das pessoas ao seu redor sempre foi o único constante na sua vida. Ele achou que podia lidar com isso.

Ele não podia.

"Fica sentado," ele disse para Malfoy, sem nem tentar manter a irritação e o terror fora da sua voz. Malfoy se encolheu, mas Harry não olhou para ele, mal se importou, se levantando e caminhando em direção ao corpo no chão, levando seus dedos trêmulos em direção ao pescoço do homem desconhecido. Ele pensou que– talvez–

Mas não. Não havia nenhuma pulsação.

Harry se deu um segundo para respirar fundo e tentar se acalmar. Um segundo em que ele tentou ignorar como ele e Malfoy estavam tão cobertos de sangue e havia um cadáver entre eles, ignorar que não havia como dito cadáver ter chegado ali se alguém não tivesse o dado o endereço de lá, e Florence não deveria ser a única a saber a localização deles? Mas ela não podia– Harry confiava nela–

Ele respirou fundo de novo.

Ele foi pegar a sua varinha.

E então Harry lançou um Patrono.



Harry sabia que pessoas podiam ser bons atores. Ele não deveria acreditar em todo mundo que parecesse genuíno. Harry sabia disso nesse ponto de sua vida. Quando ela entrou no quarto, porém, Florence parecia tão honestamente chocada. Ela olhou pro corpo, olhos arregalados, a boca meio aberta, e então ela olhou para Harry e Malfoy, sentados na mesma cama, sangrentos e tensos.

never seen before,  DRARRY ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora