GIRLS (PARADA)

Capítulo 2 - Me amo

Vou me amar, não, não preciso de mais ninguém.
Vou me amar, não não preciso de mais ninguém.
( eu me amo)
Não posso evitar, não, não preciso de mais ninguém.
Qualquer dia, hora ou noite
(Eu me amo).

Love Myself - Hailee Steinfeld

- Oi, sou a Laís. Tenho 23 anos e eu fui traída pelo meu namorado, agora ex graças a Deus! - Me apresento as pessoas que estavam na roda.

Como começar? É tudo tão emocionante que nem sei por onde começar... Ah, já sei!

A melhor coisa que aconteceu na minha vida foi o traste ter me traído, eu estava precisando disso! Foquei tanto no desgraçado que me deixei de lado, mas agora eu me amo e apenas isso importa.

Não posso mentir dizendo que ele foi o pior namorado do mundo, mas também não foi o melhor. Foram dois longos anos aturando ele, não três dias, foram anos.

Mas ele não estava nem aí quando enfiou a língua naquela desgraçada. Ele não pensou duas vezes antes de jogar tudo pro alto, então porque eu ficaria chorando pelos cantos? Ele que deveria chorar por perder um mulherão desses, com 1,69 de altura, lindos cabelos cacheados e 62 quilos de pura gostosura.

Tá, mas o que eu estou fazendo aqui? Sabe que eu também não sei! Eu vi o folheto na rua e ei, eu fui traída, tem um lugar mais perfeito que os Traídos Anônimos para contar a minha desgraça? Esperei até o dia da reunião e cá estou.

Conheci o Lucas em um restaurante italiano e não foi amor a primeira vista, nem na segunda e muito menos a terceira vista. Ele penou muito pra me conquistar, eu não dou mole pra qualquer um não.

Foram muitos encontros até eu finalmente me render ao seu charme e aceitar seu pedido de namoro.

Os anos passaram e estávamos pensando em morar juntos, apesar de uns tempos pra cá ele aparentar tédio toda vez que nos encontramos.

Agora eu sei o porquê da cara de tédio, ele tava querendo ficar com a vadia da Jéssica mas não foi homem o suficiente pra terminar o namoro, mas teve coragem de me trair com aquela ordinária, que eles se exolodam juntos.

- Como você se sente? - Um cara pergunta.

- Olha, eu tô linda e plena, com minha consciência tranquila, com as unhas feitas e cabelo hidratado. Ele me fez um favor, assim eu me toquei que eu valho mais do que qualquer homem no mundo. Não adianta nada eu amar alguém sem me amar primeiro. Então, sim, eu estou bem com tudo isso. - Respondo confiante.

- Como tudo aconteceu? - Me encara compreensivo.

- Estávamos em um coquetel. O dito cujo estava sempre comigo mas foi só a Vanessa sair pro jardim que ele rapidinho inventou uma desculpa e foi atrás dela. E como eu não sou idiota, fui atrás e peguei os dois no maior amaço no meio dos arbustos. Minha mão até coça de lembra do tapa que deixei na cara de pau dele. Larguei os dois ali é fui pra casa. Joguei todas as coisas dele que tinha no meu apartamento pela sacada, naquele momento eu tive a minha vingança, quando olhei ele enraivecido catando as roupas pela grama. - Enquanto conto, meu sorriso não abandona meu rosto, pois lembro de cada expressão facial que ele fazia catando as pessoas no gramado. - E ele nunca mais me procurou.

- Obrigado por dividir isso conosco. - Aceno com a cabeça em um gesto de concordância.

Presto atenção nos relatos das outras pessoas, que não eram muitas, e o que mais me chamou atenção foi o caso da Raiane, acho que esse é o nome. Como poderia dois caras diferentes traírem de um modo tão parecido? Será que havia algum cursinho preparatório para mau carácter? Seria a única explicação, ou homem é igual mãe, é tudo igual, só muda de casa.

Realmente fiquei interessada na história dela, uma pena não poder ter tido tempo de conversar com ela, assim que terminou ela foi rapidamente embora.

- Como foi lá? - Atendo a ligação da minha mãe, que achava uma loucura o fato de existir um grupo de apoio à pessoas traídas.

- Foi tudo bem. Foi bem divertido ouvir os relatos das pessoas. Tinha uns bem absurdos. Nem dá pra imaginar que aconteceu de verdade. - Conto a ela e lembro sobre o caso da ruiva, Amanda eu acho, que foi traída de uma maneira inesquecível, de uma maneira bem ruim.

- Agora que você matou sua curiosidade, você vai sossegar, né ?! - Minha mãe praticamente implora.

- Então... - Solto uma risadinha. - Eu vou voltar na semana que vêm.

- Você não tem jeito mesmo... - Poderia apostar dois reais que ela estava balançando a cabeça em negação. - Só, se cuida, eu me preocupo com você.

- Eu sempre me cuido, mas vou tô ar mais cuidado.

- E pelo amor de Deus, não pegue mais cartazes! - Ela desliga sem nem ao menos me dar a chance de retrucar.

Eu não estava brincando quando disse que iria voltar. É um grupo estranhamente fascinante e aconchegante, onde você sabe que pode jogar seus problemas que ninguém irá te julgar. Estamos todos no mesmo barco. Talvez eu também estava intrigada pelo fato de não conhecer as pessoas naquela roda mas saber tudo o que lhes afligem em relação a serem traídos. O que me lembra do moço que eu não sei o nome, que disse que foi traído mais de cinco vezes. Coitado parece até que nasceu pra ser corno.