Capítulo 1: O Detetive

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O Senhor Nelson era um homem já bem marcado por anos de trabalho como detetive, com olhos pequenos, muitas marcas de expressão em volta dos olhos e na testa, porém tinha apenas quarenta e cinco anos. O detetive se encontrava agora em seu restaurante preferido, umas duas quadras depois da delegacia e com vista para o parque da cidade, no qual caminhava após seus expedientes. O lugar era um restaurante familiar que frequentava há mais de vinte e cinco anos, desde quando era novo no departamento.
- Ah. Nada como um bom expresso com torradas pela manhã.
O Senhor Nelson estava de bom humor, apesar de ser um domingo às oito da manhã, pois, no dia anterior, havia finalmente solucionado um caso que o fizera rodar o Estado. O Caso do Transfigurador tratava-se de uma série de assassinatos em série em que as vítimas tinham seus rostos arrancados, e depois misturados e postos de volta. Senhor Nelson foi obrigado a ver cenas que fariam qualquer um de seus colegas rejeitar todas as refeições do dia, pois os corpos eram encontrados dias após suas mortes. O final do caso se teve em uma vila no interior, onde encontrou três rapazes de aparência decrépita e feições completamente desfiguradas por queimaduras e cicatrizes. Os três foram presos na semana anterior e no sábado foi apresentado o relatório.
- Janete! Traga-me mais uma porção de torradas.
A garçonete, que passava ao lado da mesa no momento, sorriu e foi até o balcão anunciar o novo pedido. O Senhor Nelson virou sua xícara de uma vez. Quando a abaixou havia um guarda parado ao lado da mesa, com o quepe em uma das mãos.
- Bom dia, Senhor. Bela manhã, não?
O guarda chamava-se Benson e era um conhecido do Senhor Nelson, já tendo trabalho junto com ele em diversos casos pequenos.
- Corte-me o papo furado, Ben. Mais um caso certo?
O guarda fez menção de sentar-se e o Senhor Nelson acenou, permitindo. Benson colocou o quepe na mesa após sentar no booth.
- Creio que não tenha muito tempo livre para dedicar à leitura, Senhor.
O Senhor Nelson levantou uma sobrancelha com curiosidade enquanto passava manteiga em uma borda de torrada. Realmente não tinha tido oportunidade alguma para ler mesmo que uma folha de jornal.
- Está certo. Mas por que o interesse? Está pensando em dar-me um livro de presente?
O Senhor Nelson levou a borda da torrada à boca e a comeu, deliciando-se com a manteiga, e limpou o canto da boca com o polegar em seguida.
- Bem... na verdade é devido ao novo caso. Creio que não conheça então o escritor Albert Johan.
O guarda pôs um livro de bolso na mesa e o empurrou na direção do Senhor Nelson.
- Seu último livro publicado. Ele tem vinte anos de carreira dedicados aos gêneros de Terror, Suspense e Mistério.
O Senhor Nelson pegou o livro. Na capa apenas o título "Quadros Tortos de Homens Mortos" já apagado tinha alguma importância, não tendo nenhuma arte. Tinha duzentas páginas em um tom escuro de amarelo e letras realmente pequenas, que causariam problemas a qualquer um que tivesse que lê-lo a mais de um braço de distância.
- Bem... o Senhor Albert Johan foi encontrado morto em seu sobrado hoje às seis horas. O corpo ainda não foi enviado para o IML.
O Senhor Nelson parou de folhear o pequeno livro e levantou os olhos para Benson.
- Hum? E por que não?
O guarda se mostrava inquieto. Nesse momento chegou a garçonete com as torradas.
- Mais café, Senhor?
- Um pouco, sim. Ótimo, obrigado.
O Senhor Nelson bebeu um gole do café quente, então ofereceu uma torrada para o guarda Benson.
- Não, obrigado. Não estou com muito apetite no momento. Bem, quanto à sua pergunta, Senhor. Terá que vir comigo e ver por si mesmo o motivo. Lhe espero no carro. Com a sua licença...
O guarda se levantou, pôs o quepe e saiu em direção a porta. O Senhor Nelson comeu rapidamente a última fatia de torrada e virou novamente a xícara de café.
- Tsk. Odeio ter que terminar de comer rápido.
A garçonete veio limpar a mesa.
- Já vai, Senhor Nelson?
- Sim, já sim, Janete - O Senhor Nelson puxou uma nota de dez do bolso e pôs na mesa - Seu café continua sendo o meu preferido. Compre um gibi para o pequeno Jimi, ele adora aqueles de caubóis.
- Ah, obrigada, Senhor Nelson. Tenha um bom dia.
- Igualmente.
O Senhor Nelson pôs o seu chapéu fedora e saiu da lanchonete. De barriga cheia, teria de enfrentar mais um dia de trabalho. Um calafrio percorreu sua nuca quando olhou novamente para o livro em sua mão. Esse caso talvez fosse mais desafiador que o último.

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