Capítulo 2: O Corpo

82 12 6
                                    

O Senhor Nelson chegou ao local junto com o guarda Benson. Uma casa de dois andares, de madeira, afastada da cidade.
- Estamos bem longe da civilização. Como encontraram o corpo?
O guarda Benson desligou a viatura em frente à casa e soltou o cinto. O Senhor Nelson fez o mesmo e ambos saíram.
- A empregada veio pela manhã e encontrou o senhor Johan já morto. Devemos entrar?
O Senhor Nelson pegou uma bala de eucalipto do bolso e pôs outra na mão do guarda Ben. Um costume ganho após anos entrando em cômodos impregnados com o cheiro de cadáveres em decomposição.
- Com certeza. A menos que consiga descobrir o que houve pelo lado de fora. He he. Vamos.
O Senhor Nelson cruzou o jardim bem cuidado de grama aparada e subiu os degraus em direção à porta da frente. O guarda Benson o seguiu e abriu a porta.
- O corpo está no segundo andar, no escritório do senhor Johan. A empregada é a única testemunha e a visitaremos de tarde. É uma senhora idosa e a cena é muito chocante para a sua idade.
- Bom, veremos a tal cena então.
Os dois entraram e se encaminharam para as escadas. A decoração da sala pela qual passaram era bem simples, assim como a aparência geral da casa.
- Os livros não renderam muito?
- Pelo contrário, Senhor. Podemos considerar o senhor Johan um homem abastado. Sua fortuna poderia pagar-lhe uma mansão com toda a mobília.
- Então por que morar numa casa tão simples?
Ambos pararam diante da porta do escritório. O guarda Benson engoliu em seco.
- Segundo contou em algumas raras entrevistas, essa casa tem um grande peso emocional para ele. Esta é a casa em que cresceu com seus irmãos, mortos em um acidente há cinquenta anos atrás, e sua última lembrança deles.
O guarda Benson abriu a porta do escritório. Um cheiro advento do processo de putrefação invadiu as narinas dos dois. Uma leve náusea atingiu o guarda por um segundo. O Senhor Nelson tateou a parede ao lado da porta em busca de um interruptor. Encontrou-o e o acendeu. O brilho da luz amarelada iluminou o pequeno cômodo e apresentou o corpo do escritor estirado sobre a escrivaninha. O guarda Benson puxou um lenço do bolso e o pôs sobre o nariz e a boca.
- Aí está ele. Foi encontrado nessa mesma posição.
O Senhor Nelson se aproximou do corpo. Sangue saía pelos ouvidos e pelos olhos.
- Nenhuma arma? Bem, duvido que tenha alguma que possa fazer isso. Algum antecedente médico, então?
- Nada, Senhor. O senhor Johan tinha uma saúde de ferro, apesar da idade.
O Senhor Nelson se atentou para os papéis sobre a escrivaninha, debaixo de uma das mãos do defunto.
- Acredito que isto seja o rascunho de seu próximo livro. Pela quantidade, devia estar perto do final.
O texto nas folhas fora datilografado, provavelmente na máquina de escrever que se encontrava em uma prateleira ao lado.
- Acredito que não podemos fazer muita coisa com o corpo aqui e assim. Ligue para o necrotério e peça que venham buscá-lo. Por hora, vamos olhar o restante da casa.
- Sim, Senhor. Vou chamá-los pelo rádio.
O guarda desceu as escadas apressado em direção à porta, deixando o Senhor Nelson parado ao lado da porta do escritório. O Senhor Nelson olhou por cima do ombro em direção ao corpo e soltou um suspiro.
- Ah, mais um caso estranho. Bem... Acho que por hora só me resta aceitar mais esse trabalho e dar meus sentimentos aos seus leitores.
O Senhor Nelson então desligou o interruptor e fechou a porta, se encaminhando em direção à escada. Novamente um calafrio percorreu sua nuca.

Luzes no EscuroOnde histórias criam vida. Descubra agora