Um Tiro No Escuro

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                                       Josh Beauchamp

Uma hora já tinha se passado após Any ter ido embora. Ela deve ter ficado muito confusa com tudo isso. Mas a culpa não era minha e muito menos dela. As consequências de tudo o que fizemos nos levaram a isso. Robert não tinha o direito de ter falado tudo aquilo. Não chegou o momento certo dela saber. Lembro-me que naquele dia, após tudo, Any ficou internada por duas semanas por minha causa. Depois disso, afastei-me dela porque decidi me tornar uma pessoa que ela teria nojo e repulsa. Mas, para o azar dela, Any hoje é minha psiquiatra.

Ri com escárnio e continuei a socar a parece que funcionava como um saco de pancadas. Minhas mãos já sangravam, mas continuei socando. Já que não podia sair daqui e saciar minha sede insaciável de ver sangue, não me importava de me machucar. A parede já estava com uma mancha enorme de sangue escorrendo e eu me divertia, imaginando que podia ser o de meu tio.

Algum tempo depois, a mesma enfermeira que tinha trago meu almoço, voltou para pegar a bandeja e deu um grito, olhando para os lados para conferir se havia alguém morto, mas não encontrou nada.

- Perdeu alguma coisa? - Disse, assustando-a, vendo que a mulher me encarou com os olhos cerrados e viu minhas mãos machucadas.

- Você se machucou de novo? - Se aproximou, mas eu a afastei, tentando controlar minha raiva. Se ela não saísse daqui eu poderia acabar com sua vida num piscar de olhos.

- Vai embora, eu não preciso de mais cuidados. - Exclamei rudemente. Vi, quando ela pegou o objeto caído no chão e sussurrou algo inaudível para que eu escutasse. Sem olhar para trás, foi embora, me trancando novamente.

Suspirei e peguei o meu celular que tinha roubado da sala de arquivos no mesmo dia que tinha fugido daqui. Nele continha todas as informações antigas minhas. Fotos com meus pais, melhores amigos, com Robert e com ela. Nunca achei que tudo o que passamos fosse pro buraco. Ela não se lembra de mim e eu não posso forçá-la a se lembrar enquanto ela não quiser se lembrar. Passei algumas fotos até parar em uma que fez meus olhos lacrimejarem. Joguei o celular longe, com raiva, não conseguindo controlar as lágrimas.

Ódio é a palavra certa para descrever o que estou sentindo e acho bom ninguém entrar nesse quarto. Quando não posso matar e fico preso nesse quarto que mais considero como uma cela de presídio, deito em minha cama, fecho os olhos, respiro fundo e tento dormir. Para que eu possa enfim, repassar tudo novamente.  

 
                                (...)

Era terça-feira e Any viria para mais uma consulta. Nesses dois dias, inteiros eu tive pesadelos, vendo e vendo tudo de novo e não podendo fazer nada. O pior disso tudo é que eu não consigo e nem posso compartilhar nada com ninguém graças aos meus pais que me fizeram assistir a tudo e meus amigos que se divertiram com o “espetáculo”. Eu ainda posso escutar seus gritos pedindo socorro e também posso sentir o mesmo desespero que senti no dia.

Estava sentado em minha cama, com as costas apoiadas na parede, com a cabeça baixa e os olhos fechados, quando a porta foi aberta.

- Olá Josh, como você está? - Any parou a minha frente, um pouco hesitante, pois não tinha lugar para se sentar, enquanto eu a encarava friamente.

- Do mesmo jeito de sempre. - Disse, somente. Eu não consigo controlar. É mais forte que eu. Preciso afastá-la o máximo possível de mim.

Ela me encarou com as sobrancelhas erguidas como que se esperasse uma resposta mais complexa, mas eu não disse mais nada.

- Posso me sentar aí? - Apontou para o lado vazio de minha cama.

Dei de ombros e ela, entendendo a resposta, se sentou.

Psiquiatra De Um AssassinoOnde histórias criam vida. Descubra agora