Consertando o Erro

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- Any, o que você está fazendo? - Priscila gritou perguntando. Após minha volta à casa de meus pais eu fui obrigada a me deitar, relaxar e assistir televisão. Acho que o quesito “repouso” não foi muito bem entendido pelos meus pais, pois os dois não me deixaram fazer nada além de ficar parada no sofá. Tudo bem que eu não devo ou posso ficar fazendo muito esforço, mas também não posso ficar parada até que o médico diga que eu estou bem.

- Mãe, eu só quero ajudar a lavar os pratos. Não posso deixar você fazer todo o trabalho, quando tenho condições necessárias para ajudar.

- Nós já conversamos sobre isso, minha filha. Você está doente...

- Não mãe. Eu posso estar um pouco fraca, mas isso não quer dizer que esteja doente. Posso lavar os pratos enquanto você passa as roupas. Isso não vai tirar minha vida. - Bufei, já ficando impaciente por Priscila insistir tanto que eu fique plantada na sala de televisão.

- Tudo bem. - Respirou fundo antes de continuar. - Eu só fico preocupada com você. Desde o acidente, você vivia com dor de cabeça. E todas às vezes, eu te levava ao médico, mas nunca era o que eu achava. Em uma das consultas o doutor me disse que no seu caso, a dor de cabeça pode significar a perda, aos poucos, da sua memória, o que me deixou extremamente preocupada, mas isso nunca chegou a acontecer. Por isso eu tranquilizei em suas idas ao médico, porém agora... - Parou de falar quando sua voz falhou, mostrando que ela estava prestes a chorar.

- Está tudo bem agora, mãe. Eu estou aqui, muito bem. - A abracei forte, querendo que sua dor esvaísse para longe. Meus olhos lacrimejaram por lembrar que a culpa disso tudo era minha.

- Úrsula se culpa até hoje, mas o culpado é aquele homem maluco. Ele devia ser preso perpetuamente para viver com o peso da culpa para sempre. - Ouvi o que ela dizia e assentia. Eu concordava com ela.

- Mãe, não vamos mais falar sobre ele, ta legal? - A afastei para encará-la. - Todos nós estamos bem. E ele não vai mais nos fazer mal.

- Não tenho tanta certeza. Você não viu do que ele realmente é capaz. - Neguei com a cabeça, desejando encerrar esse assunto por agora.
- Vamos terminar de arrumar a cozinha. - Dito isso, meio hesitante, minha mãe concordou e ambas voltamos a ajeitar as coisas.

Mais tarde, após arrumarmos tudo, Priscila foi deitar e eu aproveitei e me dirigi ao jardim, onde tinham dois balanços. Eu adorava aquele lugar. Acalmava-me. Pelo pouco que sei do meu passado, antes do acidente, eu vi que não importa o quanto o tempo passe, nunca vou mudar completamente. Sinto que eu hoje em dia, sou a mesma de sete anos atrás e sinto a mesma coisa pelo Josh, que sentia no passado.

Balancei a cabeça, dispersando esses pensamentos. Preciso focar no meu trabalho.

Lembrando disso, peguei meu celular do bolso de trás da minha calça jeans e olhei meus contados e fui direto a letra J. Antes de apertar no nome de Joseph, olhei o contato logo abaixo. Eu queria ligar para ele, mas não é a hora certa. Vou resolver outro assunto primeiro.

Cliquei no nome que queria e logo a ligação estava chamando.

- Alô? Any? Como você está?

- Olá Joseph, eu estou bem agora. Desculpe-me por desapontá-lo.

- Desapontar-me? Você nunca fez isso, querida.

- Eu... Estou me recuperando, mas queria saber se posso voltar a trabalhar o quanto antes. Sei que dei trabalho demais para você. Primeiro o pedido de demissão na Casa Westreet e agora...

- Está tudo bem, Any. - Joseph me interrompeu antes que eu completasse. - Como sempre digo, você é muito competente. Todos têm problemas e temos que aprender a compreender. Está tudo bem. Assim que você se recuperar por completo, trate de voltar para a Fresh Start. Não vou desistir de você tão rápido. - Sorri pela piada dele e logo ouvi sua risada. - Depois de amanhã é meu aniversário, você quer vir para comemorar com todos nós? - Levantei em um pulo do balanço e arregalei os olhos por ter quase esquecido.

Psiquiatra De Um AssassinoOnde histórias criam vida. Descubra agora