Amar ou odiar?

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Malika chorou por horas, mesmo durante a viagem, seu choro não cessou. Seu pai parecia ser um homem sem coração. Não demostrou nenhuma reacção sequer. Quando chegaram em Luanda, ela avançou para o seu quarto. E fez algumas ligações, para que pudessem socorrer Rafael, sentia-se angustiada e culpada. Sabia que seus actos teriam consequências, mas não pensou que fossem chegar até a este ponto. Essa com certeza seria uma noite longa. Acalmou-se um pouco quando lhe tinham dado a notícia de que ele já estava em um hospital sendo atendido e que não tinha nenhuma lesão grave. Sentia raiva de si mesma por ter sido tão impotente, por não ter conseguido fazer nada para defende-lo.

Sem pedir licença, ela viu seu quarto sendo invadido pelo seu pai, não olhou para ele. Virou-se de costas e cruzou os braços.

- Você, vai afastar-se desse rapaz o mais rápido possível, me entendeu? – A advertiu.

Malika virou-se e o olhou com repulsa. sorriu triste.

- Se não? – Desafiou.

- Estás a te sentir tão valente, que agora queres enfrentar-me menina? Não brinca comigo Malika. Você parece uma moça sem cérebro. sabes que não gosto quem desobedece as minhas ordens.

Malika acompanhou com olhos ele tirando o cinto preto da calça. Qual era a ideia dele?

- Um dos meus erros foi não educar-te como devia – prosseguiu aproximando-se dela – tu nunca mais vais quebrar uma regra minha, depois da surra que te vou dar. Ela começou a recuar lentamente, até bater contra a parede.

- Se o pai fizer isso, não pensarei duas vezes antes de ir a polícia – disse com pânico na voz.

Ele começou a rir.

- Não sejas patética menina. As vezes te esqueces quem eu sou nesse país.

- Então, eu nunca o vou perdoar.

- Eu não preciso que me perdoes.

Malika encolheu-se quando ele levantou o cinto tocando na sua pele frágil. Ela gritou e ele mandou-a calar. Não teve ideia de quantas chicotadas já tinham recebido. Quando finalmente cansou-se de a bater disse.

- Vais procurar esse jovem, e dizer-lhe que não volte a procurar-te. Ou ele vai pagar por isso. Estás a entender?

- Sai daqui. Odeio-te. Sai – gritou aos prantos.

Gregório olhou para filha, sem reacção nenhuma e retirou-se ouvindo os choros dela, que agora já não eram sussurros.

A noite tinha sido longa e torturante, passou a noite em vigília. Seus pensamentos ainda a levavam para os acontecimentos da noite anterior. Caminhou até ao espelho e assustouse a com a figura que estava a frente de si. Tinha o olho esquerdo inchado e a outra parte do corpo as marcas do cinto que formaram, grandes hematomas. Sentiu seu corpo a ser sacudido por soluços que não pararam.

Caminhou novamente até a sua cama e deixou-se lá estar. Sentia dor em todo corpo, o vazio dentro de si, era maior do que qualquer coisa naquele momento. Mais cedo, soube que Rafael já estava em Luanda. Sabia que era tudo sua culpa. Se não tivesse tido aquela ideia, nada disso estaria a acontecer.

Pensou em sua mãe e chorou ainda mais, rezou baixinho para que Deus lhe desse forças para suportar tudo o que estava a passar. Mais uma vez, ouviu a porta do seu quarto sendo aberta. Não quis virar-se. Mas sabia de quem se tratava só pelo cheiro. Sentiu raiva, sentiu-se revoltada, e virou-se de repente, olhando directamente nos olhos dele. Ele assustou-se e recuou um passo.

- Veio ver a sua obra? – Indagou Malika demostrando a raiva implícita – fez um belo trabalho. Muito bem senhor Gregório, o todo-poderoso.

Malika - Amar ou odiar?Onde histórias criam vida. Descubra agora