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Giulia

- Senhor Ruggero, per favore. Supliquei pela milésima vez.

- Não Giulia, não posso mais. São três meses de aluguel atrasado.- ele esbravejou balançando as mãos acima da cabeça.

- Mas senhor eu não tenho pra onde ir - me apressei com as palavras - O restaurante precisou reduzir custos, eu não tenho dinheiro e nem trabalho.

- Sinto muito Giulia, mas você sabe que eu necessito dos alugueis, Sophie precisa dos medicamentos.

Passei a mão por meus cabelos nervosa, porque infelizmente eu sabia da situação do Senhor Ruggero, sozinho criava sua filha que havia sofrido acidente de carro ficando tetraplégica. E ele fazia todo o possível para sua filha ter tudo que necessitava para os tratamentos. Suspirei pesadamente derrotada.

- Não se preocupe Senhor, hoje mesmo eu desocupo o apartamento. - Não que eu tivesse muito o que arrumar, ja que eu alugava o apartamento mobiliado.

- Eu sinto muito mesmo Giulia - Senhor Ruggero disse com os olhos tristes.

- Eu sei.

Fechei a porta quando ele saiu e caminhei lentamente até meu quarto, puxei uma pequena mala da parte superior do guarda roupa a joguei em cima da cama e me sentei ao seu lado.  E nesse momento eu chorei, chorei pela vida que tinha e por saber que não poderia contar com a ajuda de ninguém. Pois eu não tinha ninguém.

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Ajeitei a mochila nas costas e peguei a mala descendo a rua de pedra sem saber ao certo pra onde ir.  Era fim de Novembro e o inverno já começava a dar seus sinais, ainda bem que tinha optado por uma calça jeans e uma blusa de manga, afinal eu não sabia pra onde ir e era bom permanecer aquecida.
Eu não sabia o que fazer, estava completamente perdida, não tinha um plano B e minha vida se resumia ao trabalho no restaurante e ao apartamento. Eu não tinha família e os únicos amigos eram o pessoal do trabalho. Não tinha a quem recorrer, não tinha se quer um ombro pra chorar. Eu não era nada, não era ninguém, se quer teria alguém pra sentir minha falta.
Suspirei e olhei pro céu, o que eu havia feito de tão mal pra viver isso?
Não sabia ao certo quando minha vida tinha começado a dar errado, mais sei que no começo da minha infância minha mãe havia morrido de câncer e eu sequer lembrava dela. Então fui morar com meu avô, a gente era uma dupla incrível e nunca me faltou nada. Porém no início da minha adolescência veio o Alzheimer e próximo a minha formatura ele partiu. E eu aprendi a me virar só, diarista, lavadora de pratos chegando a trabalhar em dois lugares por dia, então quando apareceu a oportunidade de ser garçonete de restaurante chique que pagava bem não pensei duas vezes. Porém não durou muito e aqui estou eu desempregada e sem teto.
Sentei no ponto de ônibus enquanto o aguardava, o que eu faria daqui pra frente? Pra onde iria? De uma coisa eu tinha certeza aquela cidade não me abriria novas oportunidades, eu já tinha rodado a pequena Catenanuova atrás de algum serviço e nada surgia. Eu precisava sair daqui, não havia mais o que perder. Avistei o ônibus que me levaria ao meu novo destino dobrando a esquina e rapidamente peguei minha mala.
- Palermo aí vou eu - sussurrei

A protegida do MafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora