reversal

82 12 0
                                    

O almoço correu melhor do que o esperado. Não precisamos interagir muito já que minha mãe não trocava uma palavra sequer com meu pai. Ele a olhava com os olhos pesados, mas não se atrevia a questionar. Só não comemos em silêncio porque sanei toda sua curiosidade enquanto me indagava coisas sobre mim, sobre a Universidade, sobre minha rotina em geral. Talvez, absorto na tristeza que era não poder conversar com a pessoa com quem tivera um filho, meu pai nem se importou de tocar no quesito "namorar uma criatura". Por mais que ele seja contra meu namoro com Hoseok, aquilo foi de partir meu coração.

ㅡ Huh, mama, porque você não gosta de falar com o papa? ㅡ A perguntei diretamente, enquanto andávamos pelas ruas calmas e semi-frias da cidade quando caiu a noite. Minha mãe não era tão idosa, mantinha seus 40 e tantos anos em um corpo atlético e bastante saudável. Arrastava sua bolsinha de lado e sorriu para os pés ao me ouvir perguntar. ㅡ Ele fez algo que é imperdoável, não foi?

ㅡ Não, Wonie. ㅡ Suspirou. ㅡ Eu e seu pai somos de Universos diferentes e o já perdoei por isso.

ㅡ ... Então... ㅡ Queria que prosseguisse, já que aquela não era uma resposta boa e satisfatória o suficiente. Ela virou o rosto para mim e sorriu.

ㅡ É algo sobre a família do seu pai, que vem a tona toda vez que olho em seu rosto. Por isso, prefiro cortar qualquer tipo de contato com ele, já que nunca vou conseguir desconsiderar esse fato.

ㅡ Você diz... O vovô e a vovó? ㅡ Eu questiono mais uma vez, deveria saber porque ambos eram tão distantes. ㅡ Não sou maduro o suficiente para saber sobre isso?

ㅡ Eu não sou a pessoa que  deveria te contar... ㅡ Balbuciou tirando o olhar de mim e mirando em outra coisa. ㅡ E seu namorado, huh?! Quando terei a chance de conhecê-lo?

ㅡ ... Mamãe... ㅡ Corei as bochechas, não era como se eu estivesse pronto para introduzí-lo ao mundo. ㅡ ... Não sei se vai gostar...

ㅡ Ora, amor, se ele te faz feliz, sei que ele é um bom genro. ㅡ Ela tentou me confortar, a devolvi um sorriso mínimo. ㅡ Vamos fazer um jantar para bem recebê-lo, enquanto estou aqui.

ㅡ Mais um jantar?? Com meu pai? ㅡ Franzi as sobrancelhas. Aquilo me dava ângustia, me causava pânico, só de pensar na possibilidade de alguém sair machucado.

ㅡ Não contou para seu pai que é gay? ㅡ Corei absurdamente mais uma vez.

ㅡ Na verdade ele já sabe, mas é que Wonho é um pouco... Diferente... ㅡ Tirei o olhar do seu campo de visão.

ㅡ Mas claro que sim, você também é. ㅡ Me deu um beijo na testa. ㅡ Eu tenho que voltar para o Hotel agora, filho. Acerto com você pelo telefone, que tal? ㅡ Respondeu, me deixando aos suspiros. Quando finalmente sumiu no horizonte senti os dedos frios de Hoseok segurar em minha mão.

ㅡ Ela quer te conhecer. ㅡ Falei audível. ㅡ Está com medo? ㅡ Entrelaçei meus dedos no seu.

ㅡ Claro que estou. Mas ela me parece uma pessoa boa. ㅡ Suspirou. ㅡ Sinto muito por te fazer passar por isso, Hyungwon... Você provavelmente vai perder sua família por minha causa.

ㅡ Hey, não se aborreça com isso. Eu não me arrependo de nada, muito menos do amor que sinto por você. Nada vai nos separar, meu veadinho. ㅡ Ele sorriu fofo e me deu um selinho nos lábios. ㅡ ... Hoje você vai dormir sozinho, Shin Hoseok.

ㅡ O quê?? Anya... Acho que não suportarei os gemidos do Kihyun. ㅡ Pôs as mãos nos ouvidos me fazendo gargalhar. Suas bochechas rosadas por causa do frio eram a coisa mais fofa do mundo.

ㅡ Sei que é horrível, mas eu acho melhor fazer um pouco de companhia pro meu pai. ㅡ Olhei em direção a minha casa, enquanto ele nos olhava da janela parecendo preocupado. ㅡ Ele pode ser um crápula, um monstro... Mas ainda é meu pai e tem seus problemas internos.

ㅡ Que bom que pode fazer isso por ele. Sequer posso ver o rosto do meu. ㅡ Ele soou sério, além de tristonho. Inclinei meu rosto confuso, porque todo mundo tem um segredo misterioso que remete à sua personalidade? ㅡ ... Meu pai foi preso por matar o irmão com uma machadada. Minha mãe testemunhou o caso e acabou sendo assassinada por ele também. ㅡ Respirou fundo, conseguindo finalmente falar sobre o assunto na maior naturalidade.

ㅡ E-eu... Eu jamais esperava que fosse algo dessa magnitude, Shin Hoseok... E-eu sinto muito... ㅡ Fiquei arregalado e completamente sem fala sobre isso, encarando asfalto precário da rua.

ㅡ ... Hey, tudo bem. Por mais que eu ainda não tenha superado, o tempo se encarrega de me fazer esquecer. ㅡ Beijou em minhas bochechas antes de selar nossos lábios. ㅡ Então eu te vejo amanhã de manhã, durma bem... E tome cuidado, okay?

Assenti tentando forjar um sorriso, ele olhou medroso para a janela de meu pai novamente e assim correu para a dentro da floresta, enquanto eu tomava o caminho de vota à minha habitação.

( ... )

Quando entrei em casa, o silêncio estava presente, as louças já estavam guardadas e as luzes apagadas. Subi as escadas lentamente, também não sabia se ele ia querer minha presença ali. Abri a porta do meu quarto, pois era lá que ele deveria estar. A janela quebrada pelo arremesso do corpo de Hoseok remendada com milhões de fitas ainda me deixava assustado.

Meu pai estava sentado, entre o guarda-roupa e a estante, onde as marcas dos chifres de Hoseok ainda estavam grafadas. Tudo ainda parecia estar no mesmo lugar desde a última vez que estava ali, até mesmo as luzinhas emboladas. O homem velho estava de olhos fechados, que se abriram ao ouvir remorso de movimento.

ㅡ Você conhece a história de Abel e Caim. ㅡ Ele soou com a voz arrastada e rouca. Fiquei por alguns minutos estático até ter ímpeto de me aproximar.

SWISH | MONSTA XOnde histórias criam vida. Descubra agora