• Capítulo 6 •

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— Tia Anne! — gritaram surpresas as filhas de Clara ao verem Anne entrando pela porta e correram até ela para a abraçar. — Cadê o tio chato? — perguntaram se referindo a Pedro.
— Isa! — Clara repreendeu a menina, que se desculpou baixinho.
— Eu e o tio chato não estamos mais juntos. — disse sorrindo, não queria mentir, aliás elas eram meninas inteligentes e tinham que saber a realidade.
— O-ou. Desculpa, tia — disse Eliza, a mais nova, que puxou Anne para o quarto onde ficaria.
A casa era três vezes menor que a dela, mas não podia ser melhor, lá tinha uma família feliz e cheia de vida, já sua casa era cheia de luxo e vazia.
O quarto onde ficaria por um tempo, jurou duas semanas no máximo para a amiga, dava de frente para a praia. A casa era onde a família passava as férias. Cinco anos atrás, Anne estava naquele lugar, mas na companhia de Pedro; lembrou-se da noite em que brigaram feio depois que ele encheu a cara, foi horrível. Toda a família dele estava lá, mas todos se sentiram envergonhados por ele.
Ela se trocou e foi caminhar pela areia, molhou os pés e mergulhou naquela imensidão que serviu de anestesia para os maus presságios. Saiu do mar com outra sensação, mais aliviada, nada que um banho de mar não curasse, sorriu ao lembrar da mensagem que Leonardo enviara antes de embarcar.
Alguns dias se passaram, e Anne estava mais viva, talvez a alegria daquela família a contagiara e transformara sua confusão em uma lembrança bem distante.
— Bom dia, nova Anne — ironizou John, marido de Clara enquanto preparava o café.
— Bom dia, John, tenho que agradecer a vocês por isso. — disse, sentando-se na mesa com os demais.
O celular tocou insistente. Pedro.
— Você não vai atender, tia? — perguntou Isa, analisando o rosto de Anne, que se levantou no mesmo momento, o celular em mãos e a dúvida se atenderia ou não. Desligou com a consciência tranquila. Nada de mensagem do Leonardo desde que chegara, ele não havia dado notícias.
Lembrou-se do bilhete que estava na bolsa, o bilhete que ele havia enviado pelo primo e que ela nem leu. Correu para o quarto e o encontrou ali, no mesmo lugar. Abriu-o. A letra caprichosa de Leonardo dizia:
“Não deve estar sendo fácil para você enfrentar essa situação, compreendo que nem tudo sai da maneira que planejamos. E eu nem planejei me aproximar de você, e olha no que deu... conheci a outra Anne, a Anne que qualquer homem se apaixonaria, do sorriso lindo, inteligente, bem-humorada e dos olhos mais incríveis do mundo, olhos que guardam muita coisa. É, Anne, você conseguiu despertar algo em mim que eu não sentia há muito tempo, mas foi tudo muito rápido e já estou te perdendo. Obrigada por me notar em meio a tantos outros normais que há.
                                                     Com todo o carinho, Léo”

Anne sentia algo queimar dentro de si, mas algo tão incrível, tão especial e imensurável que se poderia notar facilmente apenas a olhando. Tentou se conter para subir para a cozinha, mas não podia evitar sua felicidade em ter Leonardo.
— Que cara é essa? — Riu Clara.
— Nada amiga... — disse Anne, encarando a amiga de uma maneira de quem diz depois-te-conto-tudo.
Clara entendeu, soltando alguns risos abafados para constrangimento da amiga que corou por completo.
O celular tocou novamente. Luiza.
Anne estranhou a ligação, foi para fora da casa e atendeu.
— Luiza, aconteceu algo? — perguntou preocupada.
— O Sr. Pedro esteve aqui procurando pela Sra. Eu estranhei, ele estava inquieto e insistiu para eu dizer onde estava, eu não disse. Ele mandou te avisar que é melhor você atender seu celular, precisa falar com você urgente. Ah! Ele disse algo relacionado a um tal de Leonardo. — quando terminou de dizer parecia sem fôlego.
— Calma Luiza, não fale onde estou, amanhã eu volto, antes que Pedro dê uma de louco. — disse com o coração disparado.
Anne só conseguia pensar em Luiza, Dave e Leonardo, ela não queria imaginar o pior, mas foi esse pensamento que a invadiu. Entrou na casa em silêncio, caminhou rapidamente até o quarto, começou a fazer as malas, decidida a voltar para casa pela manhã. Depois de terminar, foi até a sala onde estava Clara, inventou uma história para a amiga, não poderia contar a verdade, Pedro era irmão dela. Muito desapontada Clara concordou em deixá-la no aeroporto.

O Guarda-Chuva VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora