• Capítulo 5 •

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Anne acordou mais cedo que o comum, deixou Clara dormindo e chamou Dave para levá-la até a editora. Seu coração batia forte, porém precisava encarar a realidade. Quando as portas do elevador abriram, os olhos de ambos se cruzaram. Leonardo desviou rapidamente, deixando-a sem jeito. Ela não se deixaria passar abatida, caminhou determinada até a mesa dele, fez sinal para ele a seguir até a sala de reunião. Ele o fez em sua posição inferior a ela, respeitando o ambiente de trabalho.
Ela fechou a porta sem saber por onde começar, ele cruzou os braços se encostando na porta.
— Não sei o porquê de tudo isso. — disse ele, quebrando o silêncio.
— Quero deixar tudo claro antes de ir... — disse de costas para ele, parecia mais fácil, olhava para o mundo lá fora.
— Você não me deve absolutamente nada, Sra. — disse, caminhando vagarosamente até onde ela estava, segurou em seu braço e a virou para si.
— Pedro e eu estamos tentando retomar, mas parece ser inútil. — disse Anne piscando várias vezes.
— Anne, ele nem sequer te ama! — disse com rancor na voz. — Ele não te merece, ele nunca vai saber o que é amar uma mulher como você — falou, soltando todas as palavras que estavam presas em sua garganta. — Sabe onde ele estava ontem quando saiu daqui? É... suponho que você imagine, tem certeza que vai dar outra chance para ser infeliz...? Eu só quero te alertar, porque você é muito especial para mim, eu não suportaria vê-la de outra forma a não ser feliz! — Calou-se, não estava arrependido, mas sim, leve.
— Sabe o que mais doí, Leonardo? Saber que eu ainda insisto nesta história há dez anos, quebrando a cara de todas as formas. Ser feliz... — Gargalhou. — Não sei se fui destinada a ser feliz. Sabe todos esses bens... eles não são capazes de preencher o vazio que há dentro de mim. — Apoiou as mãos sobre a mesa, e lágrimas cortaram sua face.
Leonardo ficou encaixando tudo o que havia acontecido durante o tempo que passara com ela e, de maneira compreensiva, aproximou-se.
— Me perdoe... Eu só quero entender o porquê de uma mulher tão linda e inteligente como você não se permitir ser feliz. — disse enquanto se sentavam de frente um para o outro.
Ele segurava as mãos dela como se fossem tão delicadas como porcelana, depositando um beijo nelas.
Algo ardeu no peito de Anne, ele despertava nela tudo o que nunca ninguém conseguira despertar apenas com suas palavras e seu modo de ser. Leonardo tentava controlar o nervosismo, passou a mão carinhosamente no rosto dela, secando as lágrimas que ali restavam, e ficou a admirando, com certo afeto crescendo dentro de si, mal ele sabia que nela também.
Ela tinha os olhos mais gritantes que já tinha visto, parecia guardar neles todos os segredos de uma vida, e ele mantinha em seus olhos a mansidão e a calmaria que ela precisava.
— Você é o que falta em mim, não me leve a mal, mas tudo parece tão mais leve quando estou ao seu lado. — disse sem jeito de olhá-lo.
Ele a beijou no topo da cabeça, Anne se apoiou nele, não sabia como agir diante de tanto sentimento bom que estava vivenciando. Abraçou-a com força, ficaram assim por longos minutos, que não deveriam passar, pensaram.
— Boa viagem, Anne. — disse quando o abraço foi desmanchado.
— Espera por mim? — perguntou diante dele.
Sem esperarem, a porta foi aberta com força. Não esperavam ser interrompidos, ainda mais por ele.
— Anne, o que é isto? — disse Pedro com repulsa na voz. Parecia que iria explodir.
— Pedro, sem escândalo! Cansei de ser uma idiota e sempre ir atrás de você, nem sei onde estava com a cabeça quando esteve lá em casa, você sempre vai ser o canalha que conheci há dez anos. — Seu tom de voz era alto, e ninguém a interrompeu.
—-A vida é sua, mas não se esqueça que eu serei o único homem de sua vida — disse em tom de ameaça.
Pedro saiu com o rosto vermelho de raiva, precisava descontar em algo.
— Anne, querida... não vai sair barato — sibilou dentro do carro.
Leonardo acalmou Anne, estava trêmula.
— Você não merecia tudo isso, tenho que ir antes que Clara me deixe para trás — disse, sorrindo para ele.
— Me dê notícias, não sabemos do que ele é capaz. — Acariciou o rosto dela com os dedos, desenhando-o até a ponta do queixo.
Anne afirmou com a cabeça e saiu. Leonardo saiu atrás dela, sério, não queria transparecer tudo o que havia acontecido há poucos minutos.

O Guarda-Chuva VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora