• Capítulo 10 •

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— Joaquim? — chamou Leonardo entrando na sala do assistente.
— Novidades sobre ela? — sibilou, choroso, realmente era muito apegado a Anne mesmo ela sendo intolerante muitas vezes.
— Vou lá meio-dia, liberaram a visita. Preciso te mostrar algo depois... e é urgente — disse saindo com o notebook em mãos.
— Ei? Esse é o... — disse, encarando o objeto que estava com Leonardo.
— É sim! Anne já lançou um livro? — indagou, incerto da pergunta.
— Não... mas ela já escreveu alguns, ela me mandava ler e acabava desistindo de ir em frente, e olha que eram incríveis. — disse, sorrindo sem jeito por revelar um segredo especial dele com a patroa.
— Que pena... mas, obrigado! Vou indo, se precisar de ajuda, me liga. — disse, andando com pressa até o hospital.
Ao chegar, deparou-se com uma mulher. Ela tinha os mesmos cabelos de Anne, os mesmos olhos e o sorriso semelhante, Leonardo ficou estático. Apesar de Anne ser mais alta, não havia como negar de que eram muito parecidas. Ele perdeu completamente a fala.
— Moço? — ela disse assustada com o estado dele, ficara pálido.
— Quem é você? — Foram as únicas palavras que conseguiu pronunciar sem gaguejar, ela sorriu parecendo-lhe informar o óbvio. — Helena Santonini?
Helena Santonini, a filha mais nova de Ricardo, o falecido. Ela morava com a mãe em Portugal e nunca apareceu no Brasil, ninguém sabia da existência de mais uma Santonini a não ser Anne, nem o nome de Helena estava no testamento. Ela se vestia de forma completamente diferente da de Anne, mais simples.
— Sou eu, irmã de Anne Santonini. Prazer. — disse, estendendo a mão para ele, que fez o mesmo.
— Sou Leonardo, amigo de Anne. Pensei que não soubesse da existência de sua irmã... — disse atropelando as palavras.
— Realmente, não! Fiquei sabendo quando vi a notícia na internet e minha mãe acabou me contando toda a verdade. Queria tanto tê-la conhecido antes. — disse pensativa. — Como sabe meu nome?
— Longa história, depois conversamos. — disse caminhando e deixando-a para trás.
Caramba, Anne... quanta história para contar. Pensou.
Conseguiu entrar no quarto para vê-la. Ao abrir a porta, um arrepio lhe percorreu o corpo inteiro, a única coisa que conseguiu fazer foi fechar os olhos e respirar fundo para acordar daquele pesadelo. Havia muitos aparelhos ligados a ela, Anne estava com hematomas arroxeados pelo corpo, ele queria abraçá-la sem a soltar, mas sentia medo até de encostar nela de tão frágil que se encontrava.
Pegou na mão um pouco gélida de Anne, acariciou com afeto, beijou-lhe a face com tamanha ternura que Helena, ao ver a cena do lado de fora, debulhou-se em lágrimas de compaixão e tristeza ao ver que ele a amava.
Leonardo se lembrou do notebook e leu um capítulo aleatório que dizia:
“Pedro Bianco.
Eu o conheci quando estava na festa de aniversário de 15 anos de Clara Bianco, minha amiga de décadas. Ele tinha trinta anos, apesar de aparentar menos. Sempre fui reservada, e, por esse motivo, Clara, sua irmã, apresentou-nos, disse que éramos muito antissociais. Conversamos durante toda a festa, acabei perdendo a noção do tempo.
Ele parecia objetivo, prendendo-me a atenção com seus planos e conquistas e sua risada incrível. Não nego ter me encantado por aquele Pedro, tão amável, dócil, gentil e humorado. Jurei a mim mesma não me apaixonar por ele, seria impossível, ele era quinze anos mais velho do que eu!
Pedro ofereceu carona para eu não ir embora sozinha durante a noite, eu queria negar, mas era minha única opção. Ele me deixou na porta de casa, encarou-me fixamente entre a luz da lua, senti-me apavorada.
— Posso te beijar? — ele me perguntou, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Eu afirmei com a cabeça, e nos beijamos.
Depois desse dia, começamos a conversar diariamente, porém ele foi para o exterior durante dois anos e, quando voltou, voltou para mim também. Namoramos por três anos, tudo era tão surreal... tirei meus pés do chão por ele.
Meu pai era contra meu casamento com Pedro, ambos se odiavam profundamente, porém, depois da doença, nada poderia ser feito para impedir meu “romance”.
Casei-me aos vinte anos, Pedro tinha trinta e cinco, mas mantinha a jovialidade dos trinta. Eu me encantava a cada dia com o homem que me casei. Entretanto, depois de dois anos, tudo começou a mudar, mal nos falávamos e tudo o que um sentia pelo outro não era nem de longe amor. Estávamos morando em nossa própria casa, muito luxuosa, ele me deixou responsável pela decoração e outros afins.
Clara se casou cinco anos depois que eu, fomos para Florianópolis uma semana antes do casamento para ensaiar a entrada e fazer os testes finais, ela havia se mudado por conta do trabalho e acabou permanecendo por lá.
Foi quando descobri que Pedro Bianco, meu marido, me traía. Seria menos doloroso se eu não tivesse visto, peguei seu celular que tocava insistente, ele estava desmaiado de tanto beber. Quando abri as mensagens, fiquei sem reação, senti repulsa por ele, e a única coisa que fiz foi caminhar até a cozinha e dar de cara com Clara.
— Por que você está chorando? — perguntou, abraçando-me.
— Pedro me trai, amiga... — falei, com dificuldade.
— Como você sabe? — ela indagou, perplexa.
— Eu vi, não tem como negar. — disse, afogando-me em minhas lágrimas de ódio e repulsa.
Depois daquela noite, tudo foi de mau a pior. Vivemos mais cinco anos em um péssimo relacionamento; quando ficávamos juntos, por pouco tempo que fosse, discutíamos feio, não medíamos nossos xingamentos, mas nenhum dos dois tinha coragem de pedir o divórcio. E, neste tempo, que pareceu uma eternidade, criei uma identidade oposta da Anne de antigamente, que era dócil, simpática e amorosa. Transformei-me em um alguém cheio de rancor e angústia. ”

O Guarda-Chuva VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora