Dias nublados, encontros marcados

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Estava nublado, o sol se esforçara em sair. Todos analisavam meticulosamente cada canto da editora, o silêncio pairava em todo o ambiente, ninguém fazia sequer um ruído além do som da respiração.

Ao longe, quebraram o silêncio, o batucar amedrontador, os do salto finíssimo da mulher poderosíssima, Anne Santonini, dona das editoras Santonini, que herdou após a morte de seu pai, o fundador. Ela visitava a editora principal duas vezes ao ano, chegava de súbito, ninguém sabia quando viria, ao chegar tudo se tornava assustador, seus olhos castanhos amendoados causavam medo e temor, parecia uma Barbie, tudo estava sempre no lugar, menos algo que mantinha em sigilo. Ninguém lhe dirigia a palavra sem que ela o fizesse, o que era raro.

Anne falava alto dessa vez, espantando a todos, despertando olhares curiosos, ela nunca falava nesse tom, sempre foi sigilosa.

─ Faz uma semana que estou à espera do livro desse maldito! — vociferou pegando o livro do qual se referia das mãos de Joaquim, o assistente.

O livro de que falava era de autoria do seu ex-marido, ambos se separaram recentemente, após a confirmação da publicação, que, como dizia Anne, era "o sucesso do ano" e, mesmo com o ocorrido, não voltara atrás. Reconhecia a importância de publicá-lo.

— Não aceito incompetência da parte de nenhum funcionário, fui clara? — Fuzilou Joaquim, as batidas de seu coração podiam ser vistas a olho nu através de sua camisa.

— Sra. Santonini, me perdoe corrigi-la, porém foram apenas três dias de atraso — corrigiu-a, arrependendo-se em seguida.

Ela o fitou, as veias de seu pescoço saltadas de fúria. Soltou um longo suspiro.

A chuva despencou lá fora.

Ela se virou, caminhando até um homem sentado perto ao elevador, bateu com as unhas na mesa na qual ele estava, e ele ergueu os olhos, confuso.

— Preciso do seu guarda-chuva — disse, apontando para o objeto vermelho que se encontrava no chão.

Ele se levantou e o entregou a ela, sem nenhuma expressão em seu rosto, até porque não sabia o que expressar. Anne o puxou de leve pela manga da camisa, e ele a seguiu.

— Me leva até o carro, por gentileza.

Leonardo o fez. Calado. Ajudou-a a descer as escadas, sentia o perfume forte que exalava dela impregnar seu olfato. Manteve certa distância entre eles.

Abriu a porta para ela, que sorriu sem jeito, ele nunca a vira sorrir, apenas em fotos de jornal ou revista. Ele não disse nada, apenas fechou a porta com as pernas trêmulas, ninguém sabia o que fazer diante daquela mulher, sempre imprevisível.

O Guarda-Chuva VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora