O ladrão

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Assim que o almoço terminou, todos voltaram para os seus lugares para que Remus terminasse a leitura.

- O ladrão - falou.

Harry abriu os olhos e se sentiu ofuscado por uma claridade ouro e verde; não tinha idéia do que acontecera, só sabia que estava deitado no que lhe pareciam folhas e gravetos. Lutando para insuflar ar nos pulmões que sentia achatados, ele piscou os olhos e compreendeu que a luminosidade excessiva vinha do sol se infiltrando por um dossel de folhas. Então, um objeto se mexeu próximo ao seu rosto. Ele se apoiou nas mãos e nos joelhos, pronto para enfrentar um animal pequeno e feroz, mas viu que era apenas o pé de Rony. Olhando ao redor, percebeu que os três estavam deitados no chão de uma floresta, aparentemente sozinhos.

- Floresta? Que floresta? - perguntou James. Remus resolveu voltar a ler para ver se o livro respondia a pergunta do garoto.

O primeiro pensamento de Harry foi a Floresta Proibida e, por um momento, mesmo sabendo como seria tolo e perigoso aparecerem nos terrenos de Hogwarts, seu coração pulou de alegria à idéia de atravessá-la furtivamente até a cabana de Hagrid. Contudo, nos poucos instantes que Rony levou para gemer baixinho e Harry começar a rastejar até o amigo, ele notou que não era a Floresta Proibida: as árvores pareciam mais jovens, mais espaçadas e o chão mais limpo.

Deparou com Hermione, também de quatro, junto à cabeça de Rony. Quando seu olhar recaiu sobre o amigo, todas as outras preocupações fugiram de sua mente, porque o sangue encharcava todo o lado esquerdo de Rony e seu rosto se destacava, branco-acinzentado, na terra forrada de folhas. A Poção Polissuco ia se dissipando agora: na aparência, Rony era um meio-termo entre Cattermole e ele próprio, seus cabelos cada vez mais ruivos e o rosto perdendo a pouca cor que lhe restava.

- Ai meu merlin, ele estrunchou! - exclamou Lily preocupada com o garoto.

- Eles precisam de um profissional para cuidar dos ferimentos - disse Sirius também preocupado com Rony.

- Que aconteceu com ele?

- Estrunchou - respondeu Hermione, os dedos ocupados com a manga do amigo, onde o sangue estava mais profuso e escuro.

Harry observou-a, horrorizado, rasgar a camisa de Rony. Sempre pensara no estrunchamento como algo cômico, mas isso... Suas entranhas se contorceram desagradavelmente ao ver Hermione expor parte do braço de Rony onde faltava um naco de carne, removido por inteiro como se o tivessem cortado a faca.

- Harry, depressa, na minha bolsa, tem um frasquinho com a etiqueta Essência de Ditamno...

- Hermione sabe o que faz! - falou Alice tentando acalmar a todos e a si mesma - Ela deve saber a quantidade certa que deve usar.

- Bolsa... Certo...

Harry correu para o lugar onde Hermione aterrissara, apanhou a bolsinha de contas e enfiou a mão nela. Na mesma hora, objetos após objetos começaram a se apresentar ao seu toque: ele sentiu as lombadas de couro dos livros, as mangas de lã dos suéteres, saltos de sapatos...

- Depressa!

Ele apanhou sua varinha no chão e, apontando para o fundo da bolsa mágica, ordenou:

- Accio ditamno!

Um frasquinho marrom voou da bolsa; ele o aparou e voltou correndo para Hermione e Rony, cujos olhos agora estavam semicerrados: traços de córneas brancas era tudo o que se via entre suas pálpebras.

- Ele desmaiou - disse Hermione, que também estava muito pálida; já não se parecia com Mafalda, embora seus cabelos ainda conservassem algumas mechas grisalhas. - Destampe-o para mim, Harry, minhas mãos estão tremendo.

Reescrevendo o futuro {hiatus}Onde histórias criam vida. Descubra agora