Capítulo 3

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Me desvencilhei de suas mãos e me afastei. Minha cabeça girava, eu não queria que ele tivesse uma ideia errada de mim, mas também não sabia o que esperar. Passei por ele e fui em direção a sala, minhas coisas de trabalho ainda estavam em cima do sofá, então as coloquei em cima da mesa e o chamei para sentar.

- Fique à vontade Zac, sente-se - era notável o climão entre nós dois, tudo o que eu queria era tentar descontrair. Desliguei a TV que ainda tocava minha playlist, ele não precisava saber que ouvia suas músicas.

- Obrigado - ele falou sentando no sofá - Desculpe eu não quis te assustar com o abraço.

Eu também sentei, virada de frente para ele, mas com uma boa distância entre nós.

- É aconchegante o seu apartamento - disse ele puxando conversa - Mora a muito tempo aqui?

- Moro aqui a um ano e meio. Quando iniciei a faculdade morei com meu tio Paulo por uns tempos, mas sabe como é, ele é solteiro precisava da privacidade dele e eu da minha, então quando me estabilizei o suficiente aluguei esse apartamento - eu tinha noção de que falava sem parar, mas era mais forte que eu - É simples, não tem muito luxo, mas eu gosto daqui. E gosto do bairro também, é um bom lugar para morar.

Ele me olhava, mas eu não olhava pra ele, em vez disso resolvi entrelaçar meus dedos das mãos e olhar pra eles.

- Já jantou? - perguntei pra não deixar aquele silêncio.

- Sim, comi alguma coisa no hotel. E você?

- Também já jantei - e novamente o silêncio tomou conta, dava para ouvir os grilos lá fora. Minha ansiedade estava além da conta, resolvi perguntar:

- E então, o que te trouxe aqui? O que você queria tanto conversar comigo? - eu não aguentava mais a curiosidade e ao mesmo tempo tinha medo do que viria a seguir.

- Bom - ele pigarreou e virou-se pra mim - Primeiro Lana, quero te pedir uma coisa, me escute até o final - ele disse esfregando as mãos nas pernas como se estivessem suadas, era visível que ele estava nervoso - eu reuni muita coragem pra te procurar e se me interromper não sei se vou conseguir te dizer tudo o que vim dizer.

- Ok, sou toda ouvidos - falei observando-o.

- Não sei bem como começar, mas lá vai - ele respirou fundo e continuou - Lana, faz tempo que penso em te procurar. Eu venho de uns tempos pra cá estranho demais. Já não sou mais eu mesmo. Não consigo mais me dedicar ao trabalho como antes, não tenho escrito nada, não consigo ser eu mesmo nem com os meus filhos que são tudo pra mim. Eu e Kate já nos separamos e voltamos umas seis vezes nos últimos três anos - ele falou enquanto eu pensei comigo: "Sério? Mas não deixaram de aumentar a prole nesse meio tempo", mas me contive - já fazem doze anos que não nos vemos Lana, e em nem se quer um dia eu deixei de pensar em como você faz falta na minha vida. Nós tínhamos uma amizade muito forte a cima de tudo. No início eu evitava de pensar em você porque eu e Kate nos dávamos muito bem, e ela sempre teve ciúme de você, mesmo eu tendo te bloqueado de todas as formas como ela pediu. Mas depois de um tempo, meu relacionamento com ela se tornou sufocante, ela deixou de ser companheira e assumiu um controle sobre a minha vida que eu nem sei explicar. Até discuti com os meus irmão por certas coisas que sei que eles tinham razão. E no meio de tudo isso eu só pensava em como eu era feliz com você, mesmo quando éramos apenas amigos. A sua amizade me faz falta Lana, a sua parceria, sua companhia, VOCÊ me faz falta. Eu sei que nós nos magoamos, sei que fizemos coisas que nos machucaram, mas a verdade é que eu passaria por cima de toda essa mágoa se eu pudesse ter tua amizade de volta.

Nesse ponto eu fiquei tensa. Como é que é? NOS magoamos? Eu nunca fiz nada pra te magoar querido, foi tu quem me trocou pela Kate! Mas resolvi deixar ele continuar.

I Don't Want To Go HomeOnde histórias criam vida. Descubra agora