Capítulo 1

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Astrid tomou uma grande lufada de ar, enquanto encarava o pequeno coelho albino que, pouco a pouco, se aproximava da armadilha que ela tinha construído na noite anterior. Infelizmente, ainda não tinha apanhado nada, mas pelo que parecia, isso estava prestes a mudar.

Ainda que fosse um animal pequeno, seria o suficiente para a alimentar a ela e ao seu pai, que estava recentemente ferido por ter ficado preso numa armadilha para ursos. Pelos vistos, eles não eram os únicos caçadores na zona, e isso queria dizer que, em cerca de algumas semanas, os recursos naquele lugar estariam esgotados, e eles teriam que se mudar.

Já não haviam muitos animais, e ficava cada vez mais difícil de comer, mas mesmo assim, até àquele momento eles tinham tido muita sorte. Não se podia dizer o mesmo da mãe dela, que, dois anos antes, tinha morrido por conta de uma grave infeção.

Astrid lamentava-se todos os dias por não ter sido ela a partir, ao invés da sua amada mãe. Tão bondosa, tão graciosa, tão preocupada com os outros mesmo no meio do caos. Tudo à sua volta poderia estar escuro, que ela seria a pequena e única luzinha de esperança.

Desde que a neblina mortal se tinha aproximado do planeta Terra, que as pessoas entraram em pânico, e começaram a viver como se não houvesse um amanhã. As estimativas para a neblina atingir o planeta, eram de dez anos, o problema é que, pelo que parecia, quanto mais os recursos da Terra se esgotavam, mais rápido a neblina avançava. Agora, ao final de três anos, já se podiam ver nuvens de poeira negra misturadas com as nuvens normais, que, pouco a pouco, se iam aproximando, anunciando um final trágico, para aquele que outrora fora um planeta tão cheio de vida.

Astrid e o pai eram pacíficos. Não roubavam, apenas pediam se fosse necessário. Não matavam, a não ser em legítima defesa, um infortúnio que, infelizmente, já tinha acontecido quatro ou cinco vezes durante aqueles três anos.

Antes de todo o caos começar, eles viviam na cidade de Los Angeles, até que, após a mãe dela morrer, foram refugiar-se nos campos floridos e um tanto quanto desertos do Colorado. Até àquele momento, estava a correr bem, mas agora que o seu pai estava ferido e já não conseguia mais caçar, Astrid debatia-se para conseguir algum alimento. Raramente encontravam frutas, e mesmo que isso acontecesse, os valores nutricionais das plantas tinham decrescido, assim que a neblina se começou a aproximar. Assim como os valores nutricionais dos animais. Apenas aqueles que se alimentavam de carne eram mais ricos em nutrientes, porém, esses estavam constantemente a ser afetados por doenças, e eram muito difíceis de caçar.

Astrid soltou um uivo de vitória, quando a pedra da sua armadilha caiu sobre a cabeça do coelho, levando-o a ficar preso. Ela correu rapidamente até ao animal, que se contorcia para fugir à medida que sentia um predador a aproximar-se. Astrid colocou uma mão sobre o dorso do animal, tentando acalmá-lo, enquanto com a outra mão retirava uma faca afiada do bolso do seu casaco. Prendeu o coelho sob a sua mão, e muito graciosamente, tirou-lhe a pedra de cima da cabeça. Os olhos vermelhos do coelho focaram-se nos dela, e por momentos, ela sentiu o seu coração amolecer. Mas então, o seu estômago soltou um roncar rebelde, e ela lembrou-se de que já estava sem comer há três dias.

Era ela ou o coelho.

Ela fechou os olhos, e aproximou a lâmina da faca do pescoço do animal, fazendo-lhe um corte profundo na carne. Em poucos segundos, o coelho deixou de se mexer, e então ela ganhou coragem para abrir os olhos.

A neve, que começava a derreter-se à medida que a primavera se aproximava, estava manchada pelo sangue do animal. O próprio pelo albino parecia ser uma tela branca, que fazia realçar o vermelho do seu sangue.

Ela tateou no bolso do seu casaco até encontrar um pequeno saco de plástico, com o qual embrulhou o coelho. Aquilo iria evitar que o sangue deixasse um rastro até ao seu abrigo, e isso atraísse predadores maiores, ou pior, outros seres humanos.

A Flor Cósmica e o Dragão do PoçoOnde histórias criam vida. Descubra agora