A Flor Cósmica e o Dragão do Poço

Capítulo 2

A casa de Kate e Joel era um pouco maior do que a deles. Como qualquer casa de campo no Colorado, era feita de paletas de madeira escura, envernizadas e brilhantemente polidas. A porta da frente, que há alguns anos atrás era de vidro, fora substituída por Joel por uma mais segura contra possíveis ataques, que era de ferro maciço. Só abria por dentro.

As janelas tinham sido seladas com pedaços de madeira, de forma que ninguém pudesse entrar, e o telhado era de um tom de azul turquesa. Ao lado da casa, estavam marcas no chão do que outrora fora um parque para crianças, com um balance e um escorrega que tinham ido parar à sucata, depois de Tom morrer. Haviam alguns arbustos ressequidos que ainda tinham força para se erguer por baixo das janelas, e a entrada estava completamente coberta de neve, pelo que foi mais difícil para Astrid e para o seu pai de chegarem até lá.

Quando eventualmente o fizeram, deram o número de batidas correto na porta, para que eles soubessem que não eram inimigos. 13. O som ressoou por toda a casa, que se encontrava silenciosa.

Demorou alguns segundos para se ouvir qualquer barulho que fosse. Primeiro uns passos cautelosos, depois a porta a destrancar-se do lado de dentro, e então o som enferrujado da porta a abrir-se.

Astrid ficou com o ar preso nos pulmões quando, do outro lado, encontrou uma Kate completamente desnutrida. Os ossos da sua cara e das suas clavículas, encontravam-se evidentes sob a sua pele fina e delicada, e os olhos pareciam bolas cavadas no seu rosto apagado e cinzento.

Kate estendeu-lhe os braços, e Astrid ofereceu-lhe um abraço, com as lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto. A mulher cheirava tal e qual como ela se lembrava. Baunilha e canela. A fragrância inundou-lhe as narinas como um calmante. Tudo naquela mulher exalava felicidade e calma, mesmo que os seus olhos estivessem tristes e cabisbaixos. Alguma coisa se tinha passado, e parecia que Bill também se apercebera disso, assim que vira Kate.

-Onde está o Joel? – Bill esticou o pescoço, procurando pelo seu amigo. Não havia sinais dele.

O hall de entrada era um espaço pequeno. O chão era de uma alcatifa cinzenta e já um pouco manchada, e as paredes de um branco perolado. Toda a casa tinha um "q" de elegância e serenidade.

-Ele-ele morreu! – Kate separou-se de Astrid e fitou Bill, a dor estava bastante aparente nos seus olhos. Bill sentiu as suas pernas fraquejarem. Joel? Não... Joel era forte, isso não podia ser possível! Joel era bem mais resistente do que ele próprio. Joel era um lutador nato!

-Como é que isso é possível?!! – Foi Astrid quem perguntou. As lágrimas engrossaram-se nos seus olhos. Ela própria sabia que algo estava errado, mas não suspeitava que algo assim fosse acontecer- Da última vez que cá viemos, há duas semanas, ele estava perfeitamente bem...

-Desde aí que não conseguimos mais caçar. Encontrámos alguns animais mortos ao pé do rio, mas pareciam ter sido atacados por uma doença, então preferimos não arriscar. Porém, a meio da noite, fui encontrar o Joel a fazer um cozinhado com eles, do lado de fora da casa. Eu não quis comer, avisei-o para também não o fazer, pois era muito arriscado, mas ele estava com tanta fome que nem me deu ouvidos. No dia seguinte, quando acordei, ele estava ao meu lado na cama, os seus olhos abertos e esvaídos em sangue, e as suas veias palpitantes na sua testa e pescoço. Parecia que ele tinha explodido de dentro para fora. Eu ainda tentei acordá-lo, mas ele já não respirava. Foi inevitável, ele estava morto – Kate deu-lhes as costas e foi sentar-se no sofá da sala. A mulher respirou fundo, tentando controlar o choro. Tinha perdido o seu doce filho, e agora tinha chegado a vez do seu amado marido. Ela só pedia que viesse a sua vez o mais rápido possível, pois assim, poderia encontrar-se com eles no outro lado. Isso era tudo o que mais desejava.