E no reboar de um raio saiu de dentro da barriga do tempo o novo rei do Olimpo, cheio de si. Já nascido velho, de cabelos brancos, entretanto em sua mais perfeita forma muscular estava Zeus, o grande Júpiter, com um largo sorriso no rosto, dentes brancos, olhos brilhantes e excitados pela batalha que ali iria começar. Com a mão cravada em mais um raio o qual já tinha destino certo, o irmão de Poseidon virou num sobressalto e
Acordou.
Lá estava Zeus, aquele garoto, com cabelos cor de nuvens, físico esguio de quem foi nutrido com mel e leite de cabra até ser capaz de caçar seu próprio alimento. Já fazia 15 anos que ele estava ali naquela caverna que lhe privava de crescer como deveria um Deus que se prese. Esperava sua mãe chegar e contar histórias de como a vida seria melhor quando ele crescesse. Histórias que alimentavam seu ego já inflado desde que percebeu ser o único dos irmãos a não ter sido renegado por ela, Réia, o mais amado de todos os filhos, o garoto da profecia, ou melhor dizendo, a pedra no estomago de seu pai.
"Mãe, me conte de novo a história"
E lá ia a titã Réia, com medo, mas disfarçando para não assustar seu primogênito - se assim podia ser chamado, afinal, ao contrário de seus irmãos, ele via a luz do dia por inteiro e não por dentro da boca aberta do grande Cronos.
"Havia em seu pai uma grande vontade de reger o mundo de forma justa, não de forma bondosa, pois para ele a bondade é apenas o mal do incapacitado, mas com um rigor invariável para cada ser que passasse a habitar seu reino, que, naquele momento ainda era o reino de nosso pai e seu avô, Urano.
Estávamos nós vagando em Gaia quando ela nos contou o quanto o rei da época estava confuso e disperso em seus deveres, em como aquela falta fazia com que o cosmos se desequilibrasse em uma felicidade enlouquecedora de um lado e em uma falta de esperança apequenadora de outro. Ele, em todo seu poder, não aguentou mais tanto tempo sendo encarcerado pelo pai, e tanto tempo sendo instigado à revolução pela mãe, sua avó, Gaia. Ele pegou o traje desenvolvido ao longo dos anos às escondidas das luzes de Urano, o Céu, e enfim aceitou o presente que a mãe o havia oferecido, uma foice destinada ao patricídio mais relevante de todos os tempos até aquele momento".
Réia olhou para cima, para o monte Ótis, lembrando dos tempos em que apenas admiração cabia em seus olhos.
"Como ele estava lindo ao chamar todos os irmãos para ir contra aquele que os dera à luz, mas também os havia odiado, e os fadara as trevas do colo interno de sua mãe Gaia. Cronos foi ao embate de nosso pai em sua armadura preta que lhe caia no corpo como que feita para guardar todo o seu reluzir e soltá-lo daquele momento em diante, destinado a seguir dominante para todo o sempre. E assim foi, com sua lendária foice batalhou com estrelas, com tempestades e furacões, até que chegou ao seu criador e encarando-o nos olhos o despedaçou, punindo cada falha de caráter do pai com uma ceifada.
Urano praguejou igual destino ao filho. Se ele foi despedaçado por Cronos, Cronos também sucumbiria pela sua própria descendência. 'Um dia você irá perceber que pais são apenas desculpas para que seus filhos consigam justificar deslizes cometidos em nomes de traumas'. Isso deu início a paranoia que te trouxe até aqui, Zeus, você é a seu pai a mesma ameaça que um dia Cronos foi a ao pai dele."
Ao cair de cada gota do sangue azul do monarca, um ser agradecia pelo nascimento nos braços de Gaia, e os irmãos do Tempo davam vivas a vingança concretizada. A Terra, com todo o remorso guardado por ter aceitado as decisões de seu marido e condenado os filhos a uma vida de sofrimento, resolveu se afastar do protagonismo do episódio e confiar que seu filho aprendera com os erros do líder predecessor e que dali em diante o Tempo seria imbatível, mas ainda justo, um tirano inspirador que lembraria a todos que, um dia, o dia chegaria e que aproveitar desde grandes glórias ao farfalhar dos lírios do campo era o único modo de ganhar esse novo governante que passou a reinar.
Zeus ouvia as palavras da mãe e vislumbrava o quão grandioso foi seu avô e o quanto ainda era grande seu pai. Réia engolia mais uma vez o choro ao lembrar do passado mais inocente e menos doloroso que o presente.
Não foi ordem no Cosmos o que aconteceu quando Cronos assumiu o trono.
O tirano Tempo resolveu brincar com seus súditos, tirou-lhes mais do que mereciam; emagreceu gigantes, humilhou celestiais e tirou a chance de passar seu posto para seus mais prodigiosos filhos quando a hora chegasse também para ele. Magoou aquela que o admirava, tirando dela cada filho, cada riso, cada choro. Então ela o enganou. Não se permitiria mais ver seu marido engolir mais um filho, apenas por medo de que aquelas inocentes crianças um dia não fossem tão inocentes assim e cumprissem a praga de Urano. Com a chegada de Zeus ao mundo, Cronos quis fazer como fez aos 5 filhos anteriores, ordenou que Réia o desse para comer, mas ela deu a ele um pedaço de pedra no lugar de Zeus. Pedaço que o Titã engoliu achando ser mais uma das crianças sem sorte que iriam definhar em sucos gástricos divinais e apodrecer em pensamentos de como seria o mundo fora da barriga de um rei.
E agora lá estava Zeus, aquele garoto, com cabelos da cor das nuvens, físico esguio de quem foi nutrido com mel e leite de cabra até ser capaz de caçar seu próprio alimento e alimentar em sua cabeça a imagem de seu fatídico destino: ser para seu pai o mesmo que Cronos foi para o Urano na época gloriosa contada por Réia, e cometer o mais novo mais relevante patricídio de todos os tempos sem chances de haver um próximo.
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TITANOMAQUIA
FantasyA Titanomaquia, na mitologia grega, foi a guerra entre os titãs, liderados por Cronos, contra os deuses olímpicos, liderados por Zeus, que definiria o domínio do universo. Zeus conseguiu vencer Cronos após resgatar seus irmãos depois de uma luta que...