OS PRESENTES

26 1 0
                                    

Quem a boca do filho alimenta, a da mãe adoça.

Os ciclopes teriam forjado armas muito potentes para tentar abrir as portas do Tártaro e derrotar os Titãs, entretanto as ferramentas eram tão poderosas que somente alguém que havia transcendido a mortalidade podia usá-las. E assim os grandes engenheiros deram aos filhos de Réia essas armas. Zeus ganhou um catalizador de energia, para concentrar os raios que já emanavam de seu novo corpo celestial. Poseidon recebeu o tridente que concentrava todos seus pensamentos, antes muito confusos. E Hades ficou com o elmo da invisibilidade, já não sentia mais os holofotes como encarava no passado e percebeu que preferia as decisões e ações em anonimato.

Por isso ao dividir a partilha do mundo entre os três irmãos interessados ele escolheu o submundo, aonde estaria mais perto de seu pai, se pra lá ele tivesse ido e poderia se dedicar a seres que já haviam morrido e não deviam nada a ninguém, por isso eram muito mais interessantes que quando vivos - parece que Brás Cubas o chamou nos Campos Elísios um dia para contar em primeira mão sobre um livro de um defunto-autor, nunca o contrário.

Poseidon se apaixonou perdidamente mil vezes depois e teria mais mil filhos, de ciclopes a Percys, porém, em sua primeira aventura pós cárcere, se encantou por Anfitrite, uma Nereida do mar, que o convenceu a escolher as águas como refúgio e calmaria. Alguns anos após, lembrando de seu tio Crio, encontrou um de seus irmãos, era Oceano, de quem acabou se aproximando muito e encontrou nele companheiro de grandes histórias sempre passando em suas terras para visitar Tétis, Themis que lá ficou e as vezes sua mãe Réia que também sempre visitava quem a abrigou em tempos difíceis.

Zeus montou morada no Monte Olimpo e logo convidou Métis para viver ali com ele, mas o espírito virtuoso da jovem a impediu de ficar ali mais que o tempo necessário para dar à luz a Atena, que herdou a ambição do pai e astúcia da mãe. Logo após os primeiros embates da filha, entendeu seu trabalho como concluído e partiu para terras mais distantes do que seu pai, Oceano, jamais havia chegado, onde o tempo nunca a alcançou.

O Deus Raio já não via graça no mundo, mas todos viam nele, elegeram-no novamente como o senhor dos senhores, o mais popular entre os seres e nele fiaram todas as fichas. Ele nunca mais seria o garoto sonhador que um dia foi, sempre pensando que o tempo dentro de seu pai, surpreendentemente, teria sido a melhor época de sua vida, quando ainda temia por ela, quando sua matéria não havia perecido em ácido e tudo aquilo fazia um pouco mais de sentido, simplesmente por ter um fim, quando ele ainda sonhava em cometer o patricídio da profecia, mas quando isso ainda era algo que poderia ser feito depois, ele podia aproveitar mais um pouco e retardar o seu destino.

Urano caiu pela última vez. Sussurrou nos ouvidos de Zeus, seu neto, a mesma profecia que havia dito a Cronos em outra era. "Os erros dos pais são sempre desculpas dos filhos para deslizes cometidos." E o Tempo ainda ouve o sussurro do Céu em algum lugar entre os Campos Elísios e o Tártaro.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 29, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

TITANOMAQUIAOnde histórias criam vida. Descubra agora