A IRMANDADE

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"EU TE ODEIO."

Foi a única sentença que Zeus pode pronunciar a seu pai antes de ser engolido. Seus sonhos não se concretizaram, nem chegaram perto disso. Ele foi humilhado por Cronos e não podia perdoá-lo ou perdoar-se por isso. Ele quem deveria salvar seus irmãos, ele quem deveria agora estar num trono acima da barriga aberta de seu pai. Esse era seu destino, ser o maior, maior do que já era.

Mas o destino não respeita deuses ou titãs e lá estava ele, caindo nas entranhas paternas e se perdendo no breu de sua solidão.

Plaft.

- Ann... Éer... Como vão irmãos?

Envergonhado sem entender muito bem porque, olhando para aqueles rostos que não conhecia, tentou relacionar com os nomes que sabia de cor.

Ele não havia entendido como todos aqueles seres poderiam estar dentro do titã, mas logo foi introduzido a rotina inescapável daquele lugar. Logo estava discutindo com Hades sobre que locais poderiam explorar e qual seria a melhor forma de fazê-lo. Logo estava achando seu irmão Poseidon um pouco fora de tom, um pouco peixe fora d'agua. Foi tudo muito rápido, algo a mais o havia engolido e ele já não achava aquele exílio tão horrível quanto presumia, acreditou talvez que não seria libertação tirar seus irmãos de um ambiente tão aconchegante. Ele se sentia muito mais confortável que perto das cabras, elas não o admiravam como aqueles o admiravam, não o olhavam debaixo para cima como esses olhavam, não massageavam seu ego da mesma forma. É, talvez as cabras não fossem tão aconchegantes assim.

Hades percebeu que seu mais novo irmão caçula estava ganhando popularidade facilmente, mas não temeu perder a sua, sempre havia estado acima dos outros em liderança e essa não seria tirada dele por uma novidade tão curiosa quanto Zeus. Além disso, isso nunca o havia sido motivo de vanglória.

Poseidon gostou de seu irmão, gostou da ideia de ser mais experiente que alguém, talvez um guia, mas logo percebeu que não seria o caso. O deus raio agora já parecia saber quem era, quem eram eles e como estar ali, o que até aquele momento Poseidon não sabia, afogado em suas indecisões e indefinições. Em pouco tempo se afastou, deixou Zeus seguir o caminho que mais lhe parecia apropriado, ao abraço da comunidade que não cabia ao garoto de orelhas de abano. Mas não sem antes lhe dizer o que o ciclope havia dito, a pedra que ali estava era um claro sinal de que a vida lá fora valia e alguém lá iria salvá-los. Essa lembrança os afastou mais ainda. Será que não seria melhor se curvas aos sucos gástricos que os rodeavam e aí achar a paz e aceitação verdadeiras? Na morte que lhe convinha, tomada exclusivamente por si, sem a preocupação de mais ninguém. Solitário, como sempre havia sido.

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