O RETORNO

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Cronos agora já não era tão grande quanto havia sido, já não ligava tanto para o caos do mundo. Haviam muitos abaixo do chefe do mundo, mas ninguém ao seu lado. A falta que Réia fazia talvez fosse fardo mais pesado que o corpo de seu pai que continuava caindo e essa falta ele não parecia ser forte o bastante para suportar. O Caos que um dia foi seu inimigo, hoje desfilava a sua frente zombando de quem o Titã havia se tornado, o príncipe nunca amado, agora temido também parecia não ser. Sem medo do tempo, os seres se digladiavam como se não houvesse um amanhã, e não havia. Os rios já não corriam e tanto eles quanto as ninfas ainda eram os mesmos, não importava o quanto elas se banhassem em suas águas.

Talvez o filicídio mais duro dentre os 6 que havia cometido tivesse sido mesmo o de Zeus, talvez esse fosse realmente o mais importante, pois foi o último, a última prova de que um dia Cronos e Réia haviam se amado. E agora só restava silêncio.

Réia de nada mais queria saber, apesar das investidas de Métis para tentar alguma investida contra o ditador, agora que tinha ao seu lado a rainha. Mas a mãe de Zeus queria esquecer todos aqueles filhos que jaziam dentro de seu marido. Arava a terra de Oceano, cuidava das plantas de Tétis e encorajava a sua sobrinha em toda empreitada que não parecia levar ao monte Ótis.

Até que sem anuncio aparece uma garota esguia, que lembrava muito a rainha, mas lhes pareciam tão sofrida que não deram tempo de se explicar. Deram-na abrigo, água, alimento e descanso, tudo o que poderiam oferecer. Após se recuperar, acordou. Ou não? Os anfitriões perceberam-na assustada naquele instante, ela não os via, e não importa o quão amáveis fossem suas vozes, ela os temeria num primeiro impacto. Mas Themis teve de confiar, era a retribuição mais justa a quem a salvou.

Era a mesma Themis que havia deixado os irmãos no estômago de Cronos. Ela escapou da forma mais surpreendente, ou melhor, morreu. Sim, ela havia desistido de procurar alcançar o que é justo dentro das entranhas do Tempo, todos aqueles irmãos que não ligavam tanto para isso não eram merecedores de sua presença e quem um dia se tornaria a Deusa da Justiça, desistiu de viver, se tacou nos sucos gástricos que a corroeram até sobrar apenas o que era imortal, sua coragem, sua garra e seu senso do que é acertado. Mas seus olhos estavam destinados a não permanecer e por isso ficou cega. Ela se exalou pelos poros de Cronos sem que ele percebesse, depois de toda sua matéria ter sido dolorosamente corroída, já não era mais mortal. Havia procurado aliados por toda a terra, mas já tinha desistido uma segunda vez, até que chegou nas áreas dominadas por Oceano. Mas agora estava ali, frente a frente com sua mãe, que a abraçou ignorando complemente toda a imortalidade da jovem. Sua filha havia retornado dos mortos e ainda lhe trouxe as boas novas. Todos os seus filhos estavam lá dentro, vivos, ainda que trancafiados.

Réia, em um suspiro de felicidade unicamente comparável ao de admiração por Cronos no primeiro patricídio, cedeu aos planos de Métis e resolveu usar toda sua intimidade com o titã rei para libertar seus filhos.

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