TITANOMAQUIA

A FARSA

"Não era o que queria querido? Então aqui estou"

Cronos sabia da dissimulação de sua rainha, mesmo assim a aceitou, não havia como negá-la. Réia trouxe consigo Métis com o pretexto de tê-la servido como ninguém jamais havia feito. As cartas estavam à mesa, nada mais seria como antes.

O rei se agarrava a esperança de reconquistar a sua amada, a quem tinha dado menos valor do que agora via nela. Durante anos de ego inflado não encarou os desejos de Réia como relevantes para suas decisões e se sentia frustrado por ter sido tão cego. Curioso que tenha percebido tão tarde que o tempo não anda para trás, nem mesmo para ele.

A rainha se agarrava a esperança de ter seus filhos de volta e apesar de um dia ter amado aquele com quem dividia a farsa, já não sentia como antes, pelo contrário, se pudesse virar Cronos ao avesso e restar dele apenas o que estava dentro, sua prole, assim faria. Cada mágoa e submissão agora eram convertidos em resiliência e dissimulação para atingir seu objetivo máximo.

Métis havia preparado uma poção genérica para o titã, com a qual ele golfaria todo seu interior, até mesmo os deuses que lá estavam. Entretanto o elixir da salvação não estava completo, ele precisava ser adaptado ao organismo da vítima, principalmente se esse fosse um carnívoro tão inabalável quanto o Tempo.

A missão de Réia então era dar oportunidades a Métis para se aproximar de Cronos, conseguindo assim as diretrizes para a composição do restante do líquido. Elas sabiam como o rei era hábil e cuidadoso, mas seu amor por Réia o havia transformado, acreditavam, ele estava menos precavido. Cronos, que estava fadado a sofrer pelo resto dos seus dias, não conseguia aceitar que assim chegaria seu fim, totalmente consciente de que estava sendo iludido pela mulher de sua vida, mas, como a uma criança, ele deixava se levar pelo faz de conta. O amor e o tempo podem se autodestruir se não tivermos cuidado.