Sempre

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ROMANCES MENSAIS

LIVRO VII – CASAMENTO DE JULHO

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CAPÍTULO XIV - SEMPRE

Apática com os olhos fundos, marcas das lágrimas pelo rosto e sem a sua típica eletricidade, Elena me encarava estática, completamente em choque. Já fazia pelo menos uns cinco minutos que estávamos naquele silêncio desconfortável, enquanto eu massageava sua barriga, e eu sentia os primeiros sinais do arrependimento se alastrando em meu coração. Não que eu estivesse arrependido de me declarar, mas definitivamente esse não é o melhor momento.

E aqui estava um dos meus maiores defeitos. Mais uma vez, eu havia agido antes de pensar e, como consequência, eu acabei assustando Elena quando tudo o que ela deveria fazer nesse momento era descansar e se recuperar das fortes dores que sentia. Eu havia jogado a bomba relógio em seu coloco no pior momento possível. Agora, eu além de me preocupar com seu estado de saúde, ainda sairia com um coração partido. Mesmo sabendo que Elena sente alguma coisa por mim, depois de anos nos odiando, eu duvido muito que ela esteja pronta para aceitar tantas mudanças de uma vez.

- Elena, eu... eu sinto muito por estar tornando tudo ainda mais complicado. Você não precisa corresponder aos meus senti...

E então Elena invadiu meu mundo mais uma vez com toda a sua impulsividade e loucura. Sem qualquer explicação ou aviso prévio, ignorando seu estado naquele momento, ela me beijou. Mas diferente da outra vez, não havia pressa ou brutalidade. Não havia aquele desespero ou a sensação de estar em uma luta. Tampouco aquele sentimento de culpa por estar indo contra a razão.

Com sua delicadeza e doçura, que poucas pessoas possuem acesso, Elena invade meu coração e minha mente. Minhas mãos contornam sua cintura, enquanto uma se suas mãos acariciava meu rosto e a outra me puxava contra si. E mais uma vez, eu me via completamente preso naquele sentimento único e intenso, que me causava conforto e paz. Porque de uma forma bastante contraditória, Elena é o meu céu e o meu inferno. O meu ying e yang. Em meio a todo o caos, ela continuava sendo a única garota que faz eu me sentir bem em ser quem eu sou. A única na qual sou incapaz de mentir.

E quando nos separamos, acabo me perdendo na intensidade de seus olhos. A forma como ela me encarava era única. Eu me sentia como o ser humano mais sortudo do mundo apenas por ter a certeza de que eu sou o motivo daquele lindo sorriso em seu rosto. E era assustadora a força esmagadora com a qual eu sentia daquele sentimento que mantive preso durante tantos anos invandindo meu coração.

- Eu não faço ideia do que vai acontecer de agora em diante e tenho ciência de que não teremos grandes obstáculos a serem superados, mas eu sinto que... que podemos lidar com qualquer coisa desde de que a gente permaneça juntos, confiando um no outro. - Elena acaricia meu rosto e suspira, sorrindo docemente. - Eu não sei explicar o que acontece conosco. Uma hora eu te odeio com todas as minhas forças e me imagino jogando a perigosa mistura de fluorídrico com pentafluoreto de antimônio apenas para ver a ação corrosiva mais letal do ácido sulfúrico a 100%. Em outros momentos, eu te amo tanto que eu simplesmente não consigo controlar o forte desejo que sinto de me jogar sobre você e te beijar como se não houvesse um amanhã. E isso me faz questionar o motivo de sempre agirmos com tanta intensidade. Ainda assim, eu quero estar com você, Damon. Eu quero me tornar o seu primeiro e último pensamento do dia. Quero continuar sentindo todos esses sentimentos conflitantes que sinto quando estou com você. Porque sempre foi e sempre será você, Damon Salvatore.

"Sempre foi a sua voz, o seu jeito, os seus efeitos e defeitos que me fazia perder a cabeça. De maneira irritante e extremamente incompreensível, sempre foi seu comportamento infantil, suas birras, dramas e carências que me divertiam sem que eu me desse conta. Sempre foi o seu jeito teimoso e incontrolável, sua implicância, sua arrogância e seu orgulho. Sempre foi essa sua mania de tentar fugir do mundo da forma mais estúpida e perigosa possível que me faziam entrar em uma constante contradição entre te odiar e me preocupar.

Sempre e sempre foi você, Damon. Desde que passamos a morar na mesma casa, eu tenho lidado com a certeza de que todas as vezes em que eu disse te odiar, eu queria gritar para o mundo que eu apenas não estava pronta para enfrentar esse sentimento complexo e exagerado que me corrói e me faz querer estar com você.

Desde o momento em que eu acordo, tudo o que eu consigo é pensar em você. Sempre é você. Então mesmo que dê tudo errado, que as coisas mudem, que o tempo passe, que todos digam que é errado. Eu sempre vou ter aquela necessidade maior por você do que por qualquer outra pessoa, sempre vou sentir sua falta mais do que eu pensei que fosse possível sentir de alguém um dia. Porque sempre foi assim. Eu sempre vou querer mais você, pedir mais você. Mesmo que as coisas saiam da forma contrária que esperamos por causa de nossos pais. Eu sempre vou querer seu abraço, seus beijos.

Eu sinto isso, Damon. Fortemente. Desesperadamente. Não importa o quanto as coisas estejam difíceis. Sempre vai ser você que deixará tudo melhor, mesmo quando parecer impossível. Sempre vai ser eu e você, nós. Mesmo depois das nossas intensas brigas e de todos os problemas que sempre nos cercam. No final, nós vamos dar um jeito. Porque somos orgulhosos membros da família Barton. Somos teimosos e inteligentes. Nós não sabemos desistir. Mesmo que nos derrubem sete vezes, nós levantarmos oito. Então acredite em mim. Sempre foi você, é você e será você a me fazer sentir esse amor arbitrário. E ninguém no mundo pode mudar isso." - E lá estava Elena mais uma vez, me fazendo experimentar emoções intensas demais para eu conseguir lidar. - Então, sim. Eu correspondo aos seus sentimentos. E te amo muito mais do que gostaria de amar.

Acabo com qualquer espaço ínfimo que havia entre nós. Eu a beijo, tendo a certeza de que também sempre foi Elena. Em meio a todas nossas brigas e desavenças, sempre foi ela quem me fazia passar por cima de meu maldito orgulho para me desculpar por ter exagerado. Sempre foi Elena a me controlar e me fazer andar na linha quando todos pareciam me temer. Sempre foi ela a me fazer sentir que eu era um humano e não apenas um ser irracional que a única coisa em que é realmente bom é em machucar as pessoas. Sempre foi Elena.

E enquantos nos beijávamos, ouço o estômago de Elena roncar. Nós nnos afastamos e eu não consigo evitar o riso ao ver o quão envergonhada ela estava. Vejo seu rosto assumir a colocação avermelhada e ela desviar o olhar. Sorrio ainda mais, sem conseguir controlar a felicidade que me invadia naquele momento. Eu nunca me senti assim antes.

- Parece que alguém está com fome. – Provoco, apenas porque é sempre divertido ver Elena irritada e envergonhada. Ela fica ainda mais linda quando sai do sério.

- Cala a boca. Eu não como nada desde ontem! – Resmunga, dando um tapa em meu ombro.

- Tudo bem. – Respondo, rindo. Deixo um beijo em sua testa e me levanto para ir buscar nosso almoço, que tinha chegado há muito tempo. – Como a pessoa doce e incrível que eu sou, pedi comida chinesa para almoçarmos, porque sei que você gosta. Espere um pouco que eu vou esquentar e podemos comer juntos.

- Obrigada. – Elena agradece com um sorriso envergonhado no rosto. Sorrio e nego, recusando agradecimentos.

- Está se sentindo melhor? Quer que eu também esquente a bolsa térmica de novo? Ela já deve ter esfriado. – Comento e ela me lança um sorriso divertido.

- Eu estou melhor. Agora, tudo o que eu mais preciso é de comida e do meu celular para tentar falar com minha mãe de novo. Eu não faço ideia de onde ele foi parar. – Confessa Elena, tentando se levantar para procurar o aparelho em meio ao caos de lençóis e roupas que estava seu quarto.

- Pode usar o meu. Eu duvido que a gente o encontre em meio a essa chiqueiro que está seu quarto. – Brinco, entregando o celular que estava em meu bolso. Ela me lança um olhar repreendedor e língua, antes de pegar o celular de minha mão. – Tão madura...

- Deixa de ser chato e me fala a senha. – Resmunga e eu rio, dando de ombros.

- É a data do Recomeço. – Revelo e ela me encara surpresa, antes de sorri compreensiva. – Bom, eu já trago nosso almoço.

Deixo o quarto, sem conseguir controlar o sorriso em meu rosto. Era tão estranho pensar em como minha vida havia mudado desde Elena deixou de ser a garota irritante que infelizmente possuía o mesmo ciclo social semelhante ao meu e passou a ser alguém com quem eu estou sendo obrigado a conviver por causa do casamento de nossos pais.

Nós estamos organizando uma cerimônia de casamento juntos e morando na mesma casa. Se alguém me contasse algum tempo atrás que essa junção aconteceria e que ao invés de estarmos tentando nos matar, nós acabaríamos nos declarando eu definitivamente daria uma crise de riso e mandaria a pessoa ir se tratar. No entanto, aqui estou eu, esquentando a comida e cuidando de Elena durante uma diabólica cólica menstrual.

Mas parando para pensar, a vida é mesmo imprevisível e nunca sabemos o que vai acontecer. Eu sou uma pessoa que sempre acreditei que o amor não era algo para mim. Minha mãe me deixou depois de afirmar que ninguém jamais seria capaz de me amar. E depois do que aconteceu com Sam, eu passei a acreditar ainda mais de que o melhor a fazer era esquecer esse sentimento perigoso que nos deixa vulneráveis.

No entanto, bastou apenas um olhar de preocupação de Elena e de todo o seu cuidado para saber que eu não estava tão imune a esse sentimento quanto eu pensava. Porque um simples toque dela foi o bastante para fazer meu coração bater mais rápido. Bastou ter seus braços ao redor do meu pescoço, puxando-me contra sua boca para perceber que Elena era muito mais do que apenas a garota irritante que me tirava do sério. Foi preciso apenas experimentar de seu beijo para saber que eu não poderia amar alguém tão intensamente quanto eu a amo.

E ainda que eu saiba que não será fácil conseguir me livrar das armações de Kai e convencer nossos pais a aceitarem nossos sentimentos, Elena estava certa. Nós somos membros da família Barton. Nós não desistimos, por mais difícil que seja a situação. Nós somos teimosos e inteligentes o bastante para mudar nossa estratégia de ataque sempre que for preciso até que tenhamos alcançado nossos objetivos.

Mas apenas por hoje. Apenas por um mísero dia, eu decido deixar todos os problemas de lado para aproveitar o momento. Porque pela primeira vez na vida, sinto aquela dolorosa e profunda solidão ir embora. Pela primeira vez na vida, eu finalmente entendo como é ser amado de verdade. E a sensação é incrível.

Casamento de JulhoOnde histórias criam vida. Descubra agora