Eu não sabia exatamente onde Tracy poderia estar escondida, mas tinha a vaga sensação de que seria no mesmo lugar no jardim que eu a vira com Myrella algumas semanas atrás. Lembrei que ela havia dito que aquele canto costumava ser pouco visitado, o que me fez deduzir que era para lá que ela costumava ir quando precisava ficar sozinha. Ela poderia ter ido até a clareira da floresta nos arredores do palácio — não seria surpresa se ela tivesse rasgado a saia do vestido, corrido até o estábulo e cavalgado até lá. Mas estava escuro, então não parecia possível, embora eu não fosse me surpreender se ela tivesse tomado tal atitude.
Felizmente, eu estava certa em minha dedução. Virando uma parede de plantas que dava acesso à porta do jardim privado, encontrei Tracy deitada no chão, usando as mãos como apoio para a cabeça enquanto observava a lua cheia sob nossas cabeças, tão grande e brilhante que, apesar da pouca iluminação nas arandelas acesas pelos criados, a luz da lua fazia um trabalho fantástico em nos dar o necessário para enxergar.
Tentei não fazer barulho, mas pisei em um galho e o parti sob meu peso, o que deixou a princesa em alerta. Ela se sentou e olhou para trás, e percebi que seus olhos estavam vermelhos, brilhantes e úmidos, o que ela se apressou em secar para disfarçar como se esperasse que eu não tivesse percebido suas lágrimas.
Tracy era orgulhosa demais para deixar que alguém a visse chorar. Ela queria apresentar para o mundo uma mulher indestrutível, sem fraquezas e endurecida. Mas ela era feita de carne, sangue e osso como qualquer outra pessoa, e senti meu coração se partir diante de sua fragilidade sempre tão mascarada.
— O que está fazendo aqui? — ela perguntou, a voz embargada, embora ela tentasse injetar um tom de voz neutro que falhou miseravelmente em seu trabalho. — Deveria estar no baile.
Comprimi os lábios e juntei as mãos diante da cintura, entrelaçando meus dedos, enquanto voltava a caminhar em sua direção com insegurança.
— Fiquei preocupada. Não conseguiria aproveitar a festa sabendo que...
— Estou bem — ela interrompeu, fungando e passando as costas da mão no nariz. Ela evitava olhar diretamente para mim.
Parei de andar e considerei por um segundo pedir desculpas e dar meia volta, dando-lhe a privacidade que tanto desejava, mas considerei que ela não precisava ficar sozinha naquele momento, embora agisse de maneira contrária. Respirei fundo e então voltei a caminhar, dessa vez decidida, sentando-me ao seu lado no chão. Não me importei com o mato, terra ou lama que grudasse em meu vestido.
— Não, você não está — eu lhe respondi de modo altivo. Tracy virou o rosto e eu coloquei a mão em seu queixo, suavemente puxando-a para olhar diretamente para mim. Meu coração se partiu mais uma vez ao ver a fragilidade em seu olhar e o esforço que fazia para não chorar, e olhei-a de maneira terna e amorosa, preocupada com seu estado de espírito. — E acho que não deveria ficar sozinha. Não agora — respondi em um sussurro, e inconscientemente minha mão deslizou pelo seu rosto em um carinho gentil.
Ela se endureceu com meu toque, o que me fez perceber minha atitude e logo afastei a mão, eu mesma desviando o olhar e sentindo a face enrubescer. Estava cada vez mais difícil me desenrolar nos fios que prendiam meu coração a ela. Quanto mais esforço fazia, parecia que mais presa eu estava.
Ficamos caladas por alguns minutos antes que ela finalmente quebrasse nosso silêncio constrangedor.
— Como você consegue?
Eu a encarei, confusa.
— Como consigo o quê?
Ela respirou fundo antes de responder, os olhos se fechando e os ombros se tensionando.
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Segredos Ilícitos
RomanceA princesa Tianne Flerniss Asturis de Grimlee foi prometida ao príncipe Derek Millorana Semptus de Savian. Com a intenção de que conhecesse melhor o noivo antes do dia marcado para o casamento, o rei de Grimlee a envia para Savian para que os dois j...