Capítulo 15 - Verdade

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Todo o calor que havia em mim, provocado pela sessão de beijos e carícias com Tracy alguns segundos atrás, se esvaiu. Meu corpo inteiro congelou, sem conseguir se mover, os olhos quase se rasgando de tão arregalados ao olhar diretamente na direção da minha melhor amiga. Meus lábios tremeram, e parte de mim gritou para que eu me levantasse e tentasse contornar a situação, mas meu corpo não se mexia e eu sequer conseguia falar.

Alyssa parecia igualmente mortificada. Seus olhos passavam de mim para Tracy, que respirava com dificuldade e levara uma das mãos para esconder o rosto, tão morta de vergonha quanto eu por ter sido pega em flagrante com a futura esposa do seu irmão. Pelo o que eu a conhecia, deveria estar pensando em maneiras de se punir por ter sido descuidada e, mais do que isso, por ter se deixado levar por seu desejo por alguém que não poderia ter.

Alyssa estava tão vermelha quanto seus cabelos ruivos. Abriu a boca algumas vezes, tentando dizer algo, mas apenas agitou a cabeça para os lados e saiu correndo porta afora. Isso me tirou do meu estado de torpor, me fazendo pular da mesa e correr na direção dela, esquecendo completamente que Tracy estava na biblioteca e precisava de apoio. Meu primeiro ímpeto foi ir atrás da minha amiga, temendo o que ela poderia estar pensando de mim. Eu sabia que ela não revelaria meus segredos, mas poderia estar enojada. A ideia me deixou apavorada.

— Alyssa! — gritei seu nome assim que ela escapou, correndo atrás dela. Segurei a saia do vestido, me atrapalhando um pouco com a barra e quase tropeçando ao correr, mas mantive o ritmo e corri o mais rápido que conseguia. Não foi difícil alcançá-la no corredor; puxei seu pulso e a virei para mim, meus olhos marejando e transparecendo o pavor que sentia, que a pessoa mais importante no mundo para mim me virasse as costas. — Alyssa! Me deixe explicar.

Alyssa ainda estava corada, claramente constrangida, mas não tentou se soltar. Olhou para mim, perplexa, o fôlego lhe faltando a breve corrida nos corredores.

— Você e a princesa Astracyane... Vocês duas estavam... — ela guinchava.

Tampei a boca dela com a mão.

— Quer falar baixo? — sussurrei em tom de ordem. Alyssa estremeceu e assentiu com a cabeça, trêmula, e eu soltei sua boca com um suspiro profundo. Olhei em volta, procurando olhares curiosos que pudessem ter escutado nosso barulho. — Ótimo. Vamos conversar em meus aposentos, e eu vou explicar tudo — instrui, secando as lágrimas que ainda não haviam descido pelo meu rosto.

Olhei para a biblioteca, sentindo vontade de voltar para ver como Tracy estava. Sabia que nesse momento ela estaria se condenando e que isso nos afastaria novamente, talvez para sempre. Meus olhos se encheram de lágrimas novamente com o pensamento, mas antes que eu pudesse secar meus olhos, Alyssa veio ao meu lado e passou os dedos para secá-las, parecendo preocupada.

— Não chore — sussurrou. Aquilo me comoveu; Alyssa ainda era minha amiga, ela não estava com nojo de mim. — Você precisa... Falar com ela?

Eu assenti com a cabeça.

— Vá para os meus aposentos. Te encontro lá.

Alyssa assentiu. Ainda parecia mortificada com o que havia visto, mas me abraçou e beijou meu rosto, uma demonstração de afeto que sempre usávamos uma com a outra para dizer que tudo estava bem. Eu sabia que eu precisava contar toda a verdade para ela, mesmo que ela desaprovasse totalmente. Talvez ela pudesse colocar algum juízo na cabeça, já que eu andava completamente movida pelos meus sentimentos e não agia de acordo com a sensatez.

Eu respirei fundo e caminhei novamente para a biblioteca. Tracy ainda estava lá dentro, sentada em uma das poltronas com os cotovelos apoiados nas coxas, e o rosto escondido pelas mãos. Parecia completamente arrasada, e isso me doeu na alma. Eu odiava vê-la assim

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