Capítulo 7 - Segredos

168 14 1
                                        

Quase uma semana já havia se passado, e eu estava surpresa com a minha capacidade de evitar Tracy. É claro que durante as refeições eu ainda precisava vê-la, mas acabei aprendendo a evitar contato visual e responder suas perguntas monossilabicamente. Para evitar que ela tentasse estender algum assunto comigo, comia rapidamente e fazia o máximo para manter a conversa entre mim e Derek.

Eu sabia que era horrível fazer isso, e que ela não merecia ser tratada assim já que sequer se lembrava que havia me beijado, mas eu estava tentando proteger o meu próprio coração de se partir em ainda mais pedaços. O que eu estava sentindo eu não sabia dizer — ou não queria admitir. Toda vez que Tracy povoava meus pensamentos, eu gritava contra o travesseiro e corria para encontrar algo para me distrair, encontrar um livro para ler, qualquer coisa que ocupasse minha cabeça. Mas nem sempre dava certo, já que, quando eu me dava conta, eu não havia entendido absolutamente nada do que estava escrito nas páginas e pensava novamente em Tracy e seus lábios macios.

Deus, como eu queria sentir novamente os lábios dela pressionando os meus! Quando me lembrava, meu estômago se enchia de borboletas e meu coração disparava. E logo em seguida era a culpa que caía sobre mim como uma enorme rocha sólida. Não sabia mais o que fazer, mas acreditava que evitar Tracy era a solução e que, em algum momento, eu não pensaria mais nela como... Bom, da maneira que pensava.

Estava deitada na cama, tentando ler um livro, quando a porta se abriu e Alyssa entrou. Minha amiga estava cada vez mais estranha; percebi bolsas escuras abaixo dos olhos e ela parecia cada vez mais desanimada. Uma vez, entrei no quarto e a vi cercada de tecido, linhas e carretéis, mas ela não estava trabalhando. Estava com as mãos sobre os olhos, chorando copiosamente, e se assustou quando percebeu minha presença. Quando perguntei o que estava acontecendo, ela disse que estava bem.

— Saudades de casa — ela explicara, mas eu sabia que era mentira. Além de saber que ela odiava passar mais do que cinco minutos com sua família — por conta da cobrança de um bom casamento para salvar a família —, eu conhecia Alyssa desde que éramos crianças. Se existe uma coisa que sei sobre ela, é todos seus trejeitos quando está mentindo. E ela definitivamente mentiu para mim.

Não insisti no assunto, mas estava preocupada com ela.

— Você está bem? — perguntei, fechando o livro e me arrastando para fora da cama. Alyssa parecia preocupada.

— Sim — ela respondeu, mas não acreditei. — Apenas... — Alyssa ficou alguns segundos em silêncio, apenas agitando a cabeça para os lados, como se não soubesse o que deveria dizer. — Posso dormir aqui hoje?

Não era um pedido estranho, era muito frequente que ela dormisse comigo. Minha mãe odiava, dizia que minha amizade com ela era muito inapropriada, que uma dama de companhia tinha o dever de servir e não de ser uma amiga, mas eu simplesmente ignorava. Aly era a pessoa que eu mais amava no mundo, mais do que meus pais ou meus irmãos, porque era a única que me ouvia de verdade. Mas, quando ela fazia isso, geralmente era porque estava triste.

— Aly, o que está acontecendo? — perguntei com um suspiro longo, indo em sua direção para segurar suas mãos. — Alguém está te maltratando? Você precisa me dizer para que eu posso ajudá-la.

— Não! — ela guinchou, olhando para mim chocada. — Não, ninguém está me maltratando. — Ela respirou fundo. — Não quero te preocupar, não é nada demais. Pode não fazer perguntas? — ela suplicou.

Suspirei derrotada. Alyssa era teimosa e não mudava de opinião muito fácil, então decidi que não faria daquele momento uma briga. Fosse o que fosse o que estava acontecendo, ela precisava de mim. Concordei com a cabeça e caminhei até a cama, deitando do lado esquerdo daquele espaço enorme, batendo do outro lado suavemente para que ela deitasse ao meu lado. Ela abriu um sorriso aliviado e correu em minha direção, jogando-se no colchão e ficando de costas para mim. Comecei a acariciar os cabelos vermelhos dela, distraidamente.

Segredos IlícitosOnde histórias criam vida. Descubra agora