Conexão surreal

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Não sei o que aconteceu, mas nunca senti nada que se compare ao que senti ao olhar aqueles olhos castanhos claros. Eu nem sabia que eu era capaz de sentir o que eu senti. Pensava Gizelly, enquanto jogava água na nuca e se olhava pálida no espelho do banheiro. O coração ainda disparava e ela tentava se recompor e principalmente tentava entender o que havia acontecido. Por conta de sua profissão, já conhecera todo tipo de gente - homens e mulheres - e perdera a conta de quantos foram, sempre buscava se apresentar afim de seduzir e concluir o trabalho. Mas dessa vez algo de diferente estava acontecendo com ela. Será que estava enlouquecendo? Já havia espionado Marcela duas vezes: saindo do hospital e hoje, saindo de casa. Por que o encontro de olhares lhe ocasionou essa reação? Talvez por que era uma mulher extremamente sensual e linda? Sim, só pode ser isso. Concluiu ela.
Já esteve com outras mulheres mas nenhuma tão linda quanto aquela, cada detalhe de seu rosto, de seu corpo, era magnífico: como uma pintura perfeitamente desenhada. O efeito que causou em Gizelly deveria ser o típico efeito que causava em todas, era o que a morena acreditava.

Saiu do banheiro em direção ao bar e pediu um copo de whisky ao bartender, que prontamente a atendera. Bebeu em um gole só e procurou com os olhos por Marcela, em vão. Viu sua amiga com a anfitriã da festa aos beijos, mas não encontrou a loira.

— Procurando alguém? - uma voz suave invadiu seus ouvidos.
Quando se virou, lá estava ela: sorrindo e fitando-a com curiosidade e uma leve timidez no sorriso.
— Estava apenas olhando os convidados. 
— Alguém te interessa? 
— Sim.
— Certo, vou deixá-la em paz. Espero que encontre quem procura! - respondeu a loira com um sorriso fraco, já se distanciando.
Gizelly puxou-a pela mão e disse:
— Eu encontrei quem me interessa. Quer dizer, você me encontrou. - respondeu Gizelly, levantando a sombrancelha demonstrando seu interesse pela loira.
Marcela estava acostumada com flertes de homens e mulheres mas estranhamente sentiu um frio na barriga e não soube responder, apenas sorriu. Deve ser efeito da bebida, pensou consigo mesma.

— Você é amiga da Boca Rosa? - perguntou Gizelly, para puxar assunto.
— Sim. Não me diga que você é da imprensa e está tentando conseguir um furo comigo? 
— Não, pode ficar tranquila. - Gizelly respondeu rindo. Uma risada de verdade e não falsa? Estranhou mas deu de ombros.
— Prazer, me chamo Marcela. - disse estendendo a mão.
— Prazer Marcela, meu nome é Giovanna. - respondeu dando a mão.

Naquele momento, ambas sentiram o choque ao toque das mãos. Não sabiam explicar e nem como acontecera, mas a impressão é que já se conheciam, que o toque era familiar. Ambas olharam com confusão para as mãos unidas e desfizeram o aperto, ao mesmo tempo.

— Que lindo nome, Giovanna. E o que você faz nessa festa se não é da imprensa? - a loira decidiu puxar assunto e não pensar mais naquela sensação estranha dos toques.
— É... Obrigada! Eu vim com uma amiga, que é dessa área de blogueiros e etc. - sempre usava outras identidades quando trabalhava mas não gostou da sensação de outro nome saindo da boca da loira. Mas decidiu ignorar a sensação estranha, imaginou que fosse efeito do whisky.
— Entendi... E onde está sua amiga? Te deixou sozinha no bar?
— Ela deu PT e foi embora, perguntei se queria que eu fosse junto mas disse que preferia ficar com o namorado então pediu para que eu ficasse. - mais uma vez, se sentiu estranha mentindo para ela. Foca Gizelly, é seu trabalho e você está aqui para executar. Pensou, tentando desviar os pensamentos estranhos que ainda julgava ser efeito do whisky.
— Bom, minha amiga também tá ocupada... Se incomoda se eu ficar aqui com você? - disse Marcela, apontando para Mari e Bianca aos amassos no outro canto.
— Claro que não, adoraria sua companhia. - respondeu sorrindo, sendo correspondida com outro lindo sorriso.

Marcela pediu uma sexy on the beach ao bartender e, enquanto se deliciava da bebida, ambas ficaram em um silêncio confortável. Gizelly não entendia o que estava acontecendo e como podia se sentir tão bem com uma pessoa que acabara de conhecer, mas tentava o tempo todo não se apegar em detalhes e não esquecer que estava ali com uma missão. Ela teria que assassinar Marcela, não pode se apegar em absolutamente nada. 

Quando a música troca para Don't Give a F - Dua Lipa, Marcela dá um grito:
— EU AMO ESSA MÚSICA! Vou ter que dançar, vamos!
Antes mesmo de Gizelly responder, a loira pegou em sua mão e puxou-a para a pista de dança e começou a dançar e cantar. Gizelly ficou estática olhando para a cena: Marcela dançando era uma das coisas mais sensuais que já havia visto. Ainda que desengonçada, era fofa, o que deixava ainda mais sensual. Como era possível?
— Vai ficar parada ou vai dançar também? - disse puxando os braços de Gizelly forçando-a a se mexer.
— Desculpa, não sei dançar. 
— Nem eu. É só deixar o corpo fluir no ritmo da música e se jogar. Pensa que está sozinha e ninguém está te olhando. - respondeu rindo.
Automaticamente Gizelly seguiu o conselho e passou a dançar, basicamente imitando a loira à sua frente. Era a primeira vez que se divertia em muitos anos.

Antes mesmo de acabar essa música, o DJ mudou de forma agradável para Wicked Games - The Weeknd e toda a atmosfera mudou radicalmente. Todos que estavam perto se juntaram em casais, dançando colados. Marcela não pensou duas vezes ao puxar Gizelly para perto e colocar as mãos em sua cintura.
Gizelly permaneceu estática, seu corpo colado no da loira, a perna dela entre as suas. Marcela gentilmente pegou nos braços da outra e colocou em seu pescoço, e a morena instantaneamente começou a fazer leves arranhões na nuca da loira, que se arrepiou. Durante todo esse tempo, as duas se encaravam fixamente, do olho para a boca. Ambas no mesmo ritmo lento, alternando entre olhos e boca, sentiam a respiração quente e ofegante uma da outra. Marcela se aproximou lentamente para beijá-la quando ouviu um grito ao seu lado:
— FINALMENTE TE ACHEI PIRA... Ops, tô atrapalhando né? - disse Mari.

Assim que ambas se assustaram com o grito de Mari, se afastaram ao mesmo tempo. Marcela virou para perguntar o que Mari queria.
— Ô amiga, não é nada demais, tava só preocupada porque não te achava...
Revirando os olhos, Marcela se virou novamente para falar com Gizelly mas ela não estava mais lá. A morena havia fugido.

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