Capítulo 13 - EU ESCOLHO GUERRA!

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Fomos ao galpão num pulo. A multidão que manifestava em frente à mansão acabou nos acompanhando até lá, compartilhando o choque da cena conosco. O galpão ardia em chamas e a fumaça preta subia ao céu num cilindro amedrontador.

Os portões pareciam estar trancados e uma gritaria tomava o lugar, eu não sabia se eles vinham de quem estava dentro ou fora. A polícia já estava lá, mas nenhuma providência estava sendo tomada. O primeiro que eu vi tomando uma atitude foi um pobre homem que tentou abrir os portões com as próprias mãos e gritou de dor em seguida.

- O que aconteceu? - perguntei alto esperando pela resposta de alguém.

- Teve uma explosão aí dentro - uma senhora ao meu lado me disse - e depois tudo começou a pegar fogo rápido, menino. Em um instante já tava tudo coberto.

O delegado observava a uma certa distância, acompanhado pelo filho.

Tentei me aproximar um pouco mas Margarida me impediu.

- Tá maluco? - ela disse.

- Eu quero saber se tem gente viva ainda - eu respondi.

- Deixa isso pros bombeiros.

- Só deus sabe a hora que eles vão chegar.

- Você ouviu a senhora dizer que teve uma explosão, pode ter outra ainda. A gente não sabe qual foi a causa.

- Ela tá certa, meu filho - a mesma senhora completou.

- Mas aí as pessoas que estão lá dentro vão simplesmente morrer?

- As vidas delas não estão em nossas mãos, Beto. - Margarida respondeu séria - Não somos heróis. Se a gente entrar lá vai morrer igual.

- Eu não estou nem aí pra isso, aquelas pessoas não podem morrer assim sem mais nem menos, elas já são vítimas!

- Beto... - eu saí correndo - BETO! - Margarida tentou me segurar, sem sucesso.

Cheguei perto do portão e não ouvia mais som algum vindo de dentro além do crepitar do fogo. A fumaça preta saia por cada fresta das paredes e deixava difícil a aproximação. Os policias já tinham desistido de tentar abrir o portão, mas eu estava determinado. Dei três chutes que não causaram efeito algum.

- Ele abre pra fora - uma voz disse por trás de mim. Olhei pra trás e vi que era Miguel enquanto se aproximava.

- Não é a hora do seu descanso?

- E policial tem descanso quando? Vai tentar abrir?

Uma explosão pequena veio lá de dentro e derrubou uma parte do telhado e o encanamento exterior na lateral. A fumaça saía com mais intensidade e nos forçou a nos afastarmos um pouco.

- É o inferno - um homem gritou ao longe.

Olhei na direção de Margarida e percebi que Sr. João e reverendo Augusto estavam entre a multidão nos observando. Provavelmente estavam na igreja quando a explosão aconteceu.

Era visível que o calor incomodava muito Miguel, o suor escorria por seu rosto copiosamente. Ele me deu um pano pra amarrar em meu rosto e amarrou outro em seu próprio. As tossidas ficavam cada vez mais frequentes. Ele tirou a própria camisa e amarrou em suas mãos, numa tentativa de se proteger do calor da maçaneta do portão, mas acabou ficando muito grosso e não encaixava o suficiente pra abri-la.

- Vamos tentar chutar juntos, os ferrolhos estão frouxos. Com a força certa vamos conseguir derrubar - ele sugeriu.

- Certo, vamos - olhei pra trás e os únicos perto do portão éramos nós. Todos os outros policias estavam longe pra manter a população distante da fumaça.

A Garota de BaskervilleOnde histórias criam vida. Descubra agora