Capítulo 10 - Primeiras 24 horas

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O impacto fez levantar muita poeira, então era difícil dizer quem tinha se machucado ou não. Olhei ao meu redor e todos próximos a mim estava bem, já que o reflexo os tinha feito pular para o altar. Os gritos eram incessantes e pelo buraco na abóboda era possível ver todo o trajeto feito pelo sino até o chão.

- Tá todo mundo bem? - Ágata perguntou.

- Sim! - eu respondi - Vamos sair daqui, o resto da igreja pode desabar!

- Sim, vamos - Jonas respondeu.

- Não, eu quero ver quem fez isso - ela respondeu.

- Ágata, não! Precisamos sair, nossa segurança vem primeiro - Má disse.

- Vocês saiam, eu vou lá em cima!

- ÁGATA! - gritei - Que ÓDIO!

Ela levantou um pouco o vestido, tirou os saltos e subiu correndo a escada que ficava à direita do altar.

- O que vamos fazer? - Jonas perguntou.

- Vou ter que ir atrás dela. - respondi - Má, leve minha mãe e Ricardo pra fora. Você também, Jonas.

- Não vou deixar você ir lá sozinho - ele respondeu.

- Você está ferido. Vocês dois - eu disse.

- É melhor sairmos todos - minha mãe falou.

- Sim, não sejam teimosos. Se a gente sair agora vai ficar tudo bem - Seu Ricardo disse.

- Saiam logo! - falei e saí em disparada, indo atrás de Ágata. Pedaços pequenos da abóbada ainda caíam.

- Ágata! - a chamei enquanto subia as escadas.

Não houve resposta.

Nunca havia visto aquela parte da igreja, então eu não sabia exatamente onde ela estava indo e como tinha tirado os saltos, seus passos não faziam som para que eu pudesse seguir. Aquela área não era visível do salão, a escada levava para atrás do altar, que era protegida por uma parede e parecia um porão. Não havia nada lá além de caixas vazias, provavelmente para armazenar os alimentos que foram doados, e alguns suprimentos. O brasão da família Albuquerque estava, imenso, na maior parede dali. Nada fora do comum. Parecia que aonde quer que eu fosse, a imagem da Fera me perseguia, como se ela quisesse ver tudo.

O barulho da queda das estruturas da igreja ainda ecoava, mas eu não podia deixar Ágata desarmada e sozinha ir encontrar com quer que tenha sido o causador daquilo. Procurei a corda que servia para tocar o sino, mas notei que era óbvio que ela caiu junto com ele, então subi a primeira escada que achei, que foi uma de madeira que rangia aos passos que eu dava nela.

- Ágata! - eu gritei novamente, sem resposta imediata.

...

- Beto... - uma voz baixinha respondeu só alguns momentos depois.

Subi correndo a escada de madeira e cheguei quase no topo da construção, em um piso totalmente de madeira e menos resistente que os outros. Havia uma janela que dava visão da rua de trás da igreja, mas nenhuma luz entrava por lá, a única iluminação que tínhamos era de uma lâmpada velha que deixava tudo em um tom amarelo desagradável.

A cena que vi foi chocante. Ágata estava deitada lutando pela vida enquanto Alex estava montado em cima dela, sufocando-a. Um de seus braços estava engessado, provavelmente por consequência dos dedos quebrados, e ele a enforcava com uma mão só.

Ágata era uma mulher alta e mais forte que o comum, mas Alex era quase um monstro. Seu braço tinha a circunferência aproximada da minha coxa e ficava apertado naquela roupa de penitenciário que ele usava.

A Garota de BaskervilleOnde histórias criam vida. Descubra agora