- Por que eu faria algum acordo com você? - ele me perguntou
- Porque eu vou te dar as duas coisas que você mais deseja. Sua liberdade e a cabeça de Ágata.
Ele usava um casaco de policial por cima da roupa cinza de detento e sua expressão não mostrava medo algum do destino que lhe aguardava.
- Acha que preciso da sua ajuda pra conseguir isso?
- Já que eu sou o único que possui essas chaves, sim - as balancei enquanto falava, deixando o cintilar enfeitar minhas palavras.
- Vou deixar que fale.
- Preciso que retorne ao seu posto como delegado e que que arme uma armadilha amanhã à noite pra Ágata.
- Prossiga - ele deitou na cama, seu nariz pontudo mirava no teto, era impossível não o assemelhar a um ratinho.
- Ela matou todos os funcionários da mansão e planeja fazer o mesmo com todos os presentes no culto de sacrifício e depois disso nada vai impedir ela de ir atrás de quem também não estava lá! Em troca de me ajudar com isso eu te solto, sei que não foi você que incendiou o galpão.
- Por que veio pra mim e não pra meu filho? Ele é inocente - ele estava de olhos fechados e parecia muito relaxado. A cela tinha um tom de azul desbotado, beirando o cinza, e as barras de ferro que nos separavam não eram muito grossas. Acima de sua cama havia uma pequena janela quadrada e as paredes da cela eram de pedra.
- Ele não tem o ódio por Ágata que você tem e eu preciso apostar no que me dará mais resultados e esse é você.
Ele não respondeu.
- Além disso... Sr. João me mandou também, de forma indireta.
- João te mandou? - ele gargalhou, parecia não ter medo de atrair outros guardas - Parece que aquele velho finalmente se desesperou.
- Ele está morto.
Sr. Manuel me olhou imediatamente, ele mostrava uma surpresa que eu nunca o havia visto expressar.
- Foi a doença, né? - ele perguntou.
- Foi Ágata... Ela se vingou pela morte da mãe.
Ele ficou alguns instantes em silêncio com a lamentação pesando em suas costas curvas. Enquanto eu esperava sua recuperação, uma figura surgiu silenciosamente ao meu lado, arrepiando até o meu último fio de cabelo, era seu filho. Automaticamente empunhei meu canivete e adotei uma pose defensiva.
- Já está pronto? - ele perguntou.
- Pode vir! - falei.
- Ele está falando comigo. - o delegado respondeu - Pode abrir, meu filho.
- Como assim? - relaxei o corpo - Ele já vinha soltar você de qualquer forma?
A porta foi aberta e, enquanto saía, ele me deu um sorriso cínico. Mesmo com toda aquela situação sua energia arrogante e prepotente permanecia e imaginei que seria o mesmo com a fidelidade dos seus policiais.
Ele caminhou até o centro da recepção e tocou uma sirene que ecoou por todos os corredores da delegacia. Seu filho o ajudou a subir no balcão e em menos de cinco minutos o lugar já estava tomado por homens armados vestidos de preto, incluindo Miguel.
- Cavalheiros! - ele começou, enquanto colocava as duas mãos pra trás - É chegada a hora do nosso ataque final, onde vamos mostrar o porquê trabalhamos e servimos por todos esses anos! As presas quentes da Fera ameaçam mais uma vez a nossa cidade, junto com aquela vadiazinha egocêntrica e a cidade precisa de nós! Quem vai me acompanhar nessa última jornada em direção à morte?
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Garota de Baskerville
TerrorEntre ser devorada por uma entidade como sacrifício ou ser perseguida e morta pela seita que a adora, Ágata Albuquerque resolveu lutar por sua vida! Depois de revirar a biblioteca antiga de Baskerville ela encontrou o diário de seu avô, bravo guerre...