Capítulo 8 - Luta como um touro

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O céu ainda estava fechado com nuvens escuras, mas não chovia mais. A aglomeração era intensa e o cheiro de queimado estava no ar, fazendo a imagem de Florinda me vir à mente, apertando meu coração.

Minha concentração nos cadáveres foi tanta que eu não consegui prestar atenção nos gritos ou no que as pessoas falavam. Eles estavam deitados, um sobre o outro, como se tivessem simplesmente sidos largados lá como lixo.

Parei ao lado de Jonas bem à frente dos corpos, ficando entre eles e a igreja, que parecia mais alta que o comum, com suas torres pontudas mirando o céu, em uma imagem completamente intimidadora, quase como um aviso: É isso o que acontece a todos que me desafiam.

Mas a pergunta era: De onde vinha essa ameaça?

Suas gárgulas pareciam nos observar a todo momento, procurando por qualquer mínimo pecado para nos punir. Elas eram criaturas cinzentas com asas e dentes pontiagudos, quase como pequenos demônios. Os tons pasteis das paredes tentavam dar uma amenizada em todo o ambiente macabro que aquela igreja era, mas não tinha sucesso algum, muito pelo contrário, davam um ar de morto, sem vida, sem esperança.

- O que é isso? - Jonas perguntou.

O sino da igreja começou a badalar, quase como uma canção em comemoração aos corpos depositados em sua frente e cada vez mais pessoas se acumulavam ali.

- São duas pessoas mortas. - respondi.

Os cadáveres não estavam completamente queimados, mas onde estavam não era possível ver cor alguma da pele, era completamente preto. Alguns fios de cabelo ainda eram visíveis, os dentes estavam completamente à mostra e estavam sem roupa. Eram aparentemente um homem negro e uma mulher branca e loira, mas era o máximo de informações que podíamos obter só de olhar, já que os rostos estavam completamente desfigurados, como se tivessem tido uma atenção especial por quem os queimou.

- Acho que sua chefe não vai ficar muito feliz de saber disso - ele disse.

- É um aviso - uma voz em meio a multidão disse.

- É sim!

- A Fera já começou sua matança!

- Ela chegou mais cedo!

Todos começaram a falar um por cima dos outros e logo ficou impossível entender o que era dito. Peguei Jonas pela mão, corri até minha casa e liguei pra Ágata.

- O que é? - ela disse em uma voz arrastada - São seis da manhã...

- Feche os portões! Você estava certa, acharam dois cadáveres carbonizados hoje. Eu acho que vão te atacar em casa!

- O que?

- Feche os portões! Você está em perigo!

- Tá, ok! Obrigada!

Ela desligou.

- Hoje vai ser um dia daqueles - eu disse.

- Pelo menos vai ser um dia daqueles comigo - os olhos dele brilhavam enquanto ele falava.

- É, vai.

Ele trocou meu curativo antes de eu entrar no banheiro. Como o corte não tinha sido grande, a cicatrização estava bem rápida e eu já não precisava usar aquela faixa na cabeça, só um curativo pequeno no local da pancada. Me banhei e saí, minha mãe já estava servindo café da manhã a todos na mesa. Seu Ricardo e Jonas já estavam servidos, o meu veio assim que eu sentei.

Eu estava apenas com uma bermudinha, já que estava com fome demais pra me arrumar antes de comer.

- O que foi todo esse alvoroço lá fora? - ela perguntou.

A Garota de BaskervilleOnde histórias criam vida. Descubra agora