Capitulo 2

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Os irmãos se recostam com os cotovelos na cerca, observando as meninas que acabaram de conhecer tirando a camiseta, ficando só de biquíni para entrar na água com a prancha de surfe entre elas.

— Ela deve estar usando lentes de contato — diz Rayna. — Já existem lentes de contato daquela cor, sabia?

Ele balança a cabeça.

— Ela não está usando lente. Você a viu bem de perto, como está me vendo. Ela é uma de nós.

— Você está maluco. Ela não pode ser uma de nós. Veja o cabelo dela. Não dá nem para dizer que é loiro. É quase branco.

Galen franze o cenho. A cor do cabelo também o surpreendera — antes de tocá-la. O simples contato ao segurar seu braço quando ela caiu acabou com todas as dúvidas. Os Syrenas sempre se sentem atraídos por seres da própria espécie — o que os ajuda a encontrar uns aos outros a quilômetros de distância. Na maioria das vezes essa atração é transmitida na água, onde podem sentir a presença uns dos outros. Ele ainda não tinha ouvido falar que podia acontecer em terra nem nunca havia sentido com tanta força, mas ele sabe o que sentiu. Ele não iria — não podia reagir daquela maneira a um ser humano. Ainda mais levando-se em conta o quanto os desprezava.

— Sei que é incomum...

— Incomum? É impossível, Galen! Nossos genes não vêm com a opção "loiro".

— Pare de ser dramática. Ela é uma de nós. Dá para ver como ela é ruim como ser humano. Pensei que ela fosse bater a cabeça na cerca.

— Certo, vamos dizer que ela, por acaso, tenha aprendido a clarear milhares de anos de genética do cabelo. Agora, explique por que ela está passando um tempo, ou melhor, de férias, com os seres humanos. Está infringindo a lei bem debaixo do nosso nariz, brincando na água com sua amiga humana alheia a tudo isso. Por que, Galen?

Ele dá de ombros.

— Talvez ela não saiba quem somos.

— Como assim? Todo mundo sabe quem somos!

— Claro que não. Nós nunca a encontramos, lembra?

Ela ri.

— Você pegou muito sol? Ela viu nossa marca. Nós não a estamos escondendo.

— Talvez ela pense que é uma tatuagem — diz ele.

— Uma o quê?

— Olhe em volta, Rayna. Está vendo a marca no tornozelo daquela garota humana? — Ele aponta em direção a um homem que sobe as escadas. — Está vendo aquele homem? Ele tem marcas no corpo todo, que os seres humanos chamam de tatuagem. Talvez ela tenha pensado...

Rayna levanta a mão.

— Pare. Ela reconheceria o tridente. Se ela fosse uma de nós.

Galen concorda. Ela está certa. Um Syrena reconhece outro pelo pequeno tridente azul na barriga — visível nos dois agora, que estão vestidos para ir à praia dos seres humanos. Então, ela tem cabelo loiro — branco —, e não os reconheceu como Reais. Porém ele sabe o que sentiu. E ela tem os olhos...

Rayna resmunga.

— Ah, não.

— O que foi?

— Você está fazendo aquela cara.

— Que cara?

— A cara que faz quando acha que está certo.

— Estou? — Ele observa Emma pegando a prancha, espirrando água salgada no rosto da amiga sem pena. Ele sorri.

— Não vamos para casa, vamos? — pergunta Rayna, encostando-se na cerca.

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