Capitulo 9

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Entramos na rua de paralelepípedos e preciso me recostar no assento para ver tudo a meu redor. A casa de praia dos meus sonhos. Quatro andares, talvez cinco — dependendo se aquele quadrado em cima é um quarto ou não. Tudo de madeira, pintado de verde-água e janelas brancas. Há uma enorme varanda branca com cadeiras de balanço brancas e vasos de madeira combinando, cheios de amores-perfeitos vermelhos. Um portão de ferro forjado leva ao fundo, que deve dar vista para a praia — adentramos tanto na mata que pensei que chegaríamos à água antes de encontrarmos a casa dele.

— Bela casa — digo a ele.

— Eu troco com você.

— Quando quiser.

— É mesmo? Você gostou? — Ele parece realmente contente.

— O que tem ali para não se gostar?

Ele fica de pé e analisa a casa como se fosse a primeira vez. Assente.

— Hum. Bom saber.

Subimos os três degraus da varanda, mas eu seguro seu braço quando ele leva a mão à maçaneta. O contato esquenta meu corpo, faz com que eu me sinta toda queimando.

— Espere.

Ele para no meio do movimento e olha para minha mão.

— O que foi? Alguma coisa errada? Você não está mudando de ideia, está?

— Não, mas é que... Eu tenho que contar uma coisa para você.

— O que é?

Forço um riso nervoso.

— Bem, a boa notícia é que você não tem mais que se preocupar com a minha rejeição.

Ele balança a cabeça, negando.

— É uma boa notícia. Só que você diz isso como se não fosse.

Respiro fundo.

Um belo raio nunca cai na nossa cabeça quando precisamos.  Porque mesmo que eu respire fundo cem vezes, isso continuará sendo humilhante.

— Emma?

— Eu disse à minha mãe que estamos namorando — digo. Pronto. Ficou melhor? Não. Não ficou.

Apesar de me surpreender, o sorriso dele acaba me encantando além do que seria racional.

— Está brincando? — pergunta ele.

Balanço a cabeça, negando.

— É a única coisa em que ela acreditaria. Então, agora... Agora você tem que fingir que estamos namorando, se for à minha casa. E não se preocupe, não precisa ir nunca mais. E dentro de poucos dias, vou fingir que terminamos.

Ele ri.

— Não, não vai fazer isso. Eu disse a mesma coisa a ela.

— Não. Fala. Isso.

— Por quê? O que eu poderia dizer?

— Não, eu quero dizer, você falou mesmo isso a ela? Por que faria isso?

Ele dá de ombros.

— Pelos mesmos motivos que você. Ela não aceitaria um não como resposta.

Perceber que podíamos ter tido a mesma conversa com minha mãe deixa tudo girando ao meu redor. Depois, vejo muitos pontos pretos à minha frente. Quando éramos pequenas, Chloe e eu costumávamos rodar e rodar na cadeira do escritório do meu pai. Certa vez, ela me rodou tão rápido e por tanto tempo que, quando fiquei de pé, caminhei na direção oposta à que eu queria. Na infância, achávamos isso hilário, como inalar hélio para falar com a voz fina. Mas agora já não é tão divertido, ainda mais desde que o rosto de Galen desapareceu atrás de um ponto preto.

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