Capitulo 11

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Isto não pode estar acontecendo. Ele está me abraçando pela cintura, e não consigo ver seu rosto conforme ele me puxa cada vez mais para o fundo. Atravessamos a água tão depressa que eu não deveria conseguir manter os olhos abertos... Mas consigo. Já estamos muito fundo para ver a tempestade à superfície, para escutar o trovão reverberar. Eu devia estar aterrorizada. Contudo, do mesmo modo que me senti no sofá, os braços de Galen parecem uma corda, um bote salva-vidas, um monte de músculos ao meu redor.

Quanto mais fundo vamos, mais escuro fica, porém meus olhos parecem se ajustar. Na verdade, eles mais que se ajustam — minha visão fica mais apurada. A princípio, parece que alguém apagou as luzes — tudo se torna uma penumbra. E as sombras tomam forma, transformam-se em peixes ou pedras. E então tudo fica claro como o dia, como se alguém voltasse a acender a luz. E estamos indo mais fundo, não mais próximos da superfície. De onde a luz está vindo?

E para onde estamos indo? Passamos cardumes de peixes que saem do caminho. Os maiores vão para o lado como se estivéssemos dirigindo um carro esportivo e potente na estrada. Como Galen está fazendo isso? Ele está me abraçando, por isso, não está usando os braços para nadar. E mesmo se estivesse, ninguém consegue nadar tão depressa. Eu olho para os nossos pés... Mas nossos pés não estão ali. Apenas os meus. E uma barbatana.

— Tubarão! — eu grito, engolindo água, esperando que ele entenda. Paramos tão depressa que meu cabelo cobre meu rosto.

— O quê? — Ele me abraça com mais força. — Não estou vendo tubarão, Emma. Onde você viu?

— Aqui embaixo... Espere. — Olho para trás, e não vejo nada. Olho ao redor de Galen para ver se o tubarão está mais à frente, apesar de ter certeza de que nem um barco com motor poderia nos passar, e começo a questionar a verdadeira capacidade de minha visão ali embaixo. Não há tubarão. — Acho que nós o assustamos. Como? De que jeito fizemos isso? Como eu estou fazendo isso?

Não é assim que o som sai dentro da água. Todas as palavras que dizemos saem claras, como se eu estivesse sentada no colo dele na sala de estar. O som não sai abafado como quando alguém está dentro de uma banheira e só ouve o próprio batimento cardíaco. Não há batidas, não há pressão em meus ouvidos. Apenas silêncio.

— Fazendo o quê? — Ele me vira e fico de frente para ele.

— Estou ouvindo você. Você me ouve. E eu consigo ver você, claro como o dia, só que não está de dia, nem mesmo estamos na praia. O que está acontecendo, Galen?

Ele suspira. Como consegue suspirar? Estamos embaixo da água.

— Este é o segredo, Emma. — Ele assente em direção aos nossos pés. Sigo sua linha de visão. E me assusto. E engasgo. O tubarão voltou — e engoliu a parte inferior do corpo de Galen inteira, até a cintura. Ele bate a barbatana, esforçando-se para permanecer agarrado nele.

— Você também, não! — eu grito. Chuto o máximo que consigo com os pés descalços. Galen faz uma careta e me solta.

— Emma, pare de me chutar! — diz ele, segurando meus ombros.

— Não estou chutando você, estou chutando... Estou chutando... Aiminhanossa. — Galen é o tubarão. O tubarão é Galen. O que quero dizer é que não tem tubarão. Só tem Galen. A parte superior do corpo dele ainda está ali, braços grandes, barriga bem desenhada, rosto lindo.

Mas... Suas pernas. Desapareceram. Não arrancadas, não engolidas. Não, apenas substituídas por uma longa barbatana prateada. Não acredito.

Balanço a cabeça e me livro de suas mãos.

— Não está acontecendo. Isto não está acontecendo. — Eu me afasto dele, no entanto ele me segue.

— Emma — diz ele, estendendo a mão em minha direção. — Acalme-se. Venha aqui.

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