Sete

3 1 0
                                    


Foram três meses de tempo roubado aqui e ali, na minha casa, em apresentações pessoais no palácio. Lembro-me de uma ocasião em específico em que eu saía do quarto de Genna quando esbarrei em Lilian no corredor. A amante de Henry, Genevieve já me avisara de seus olhos de águia e passos silenciosos. Era uma mulher baixa e cheia de curvas, com cabelos e olhos castanhos. Me encarou por alguns minutos enquanto me via encostar a porta atrás de mim.

— Você tem os olhos iguais aos dele. Exatamente o mesmo tom de azul esverdeado. — ela me disse.

— Já me disseram algo assim.

— Você gosta dela de verdade?

— Mais do que qualquer coisa.

— E é recíproco?

— Prefiro acreditar que sim.

Ela apenas assentiu e me deu as costas. Por dias me preparei para o pior, mas nada aconteceu. Lilian guardara nosso segredo a sete chaves até o fim, mesmo quando as coisas ficaram difíceis.

Quando o dia chegou, embarquei em um avião para os Los Angeles para começar minha turnê. Eu amava aquele lugar mais do que minha própria casa. Por impulso, bebendo com Paul, comprei uma casa com o dinheiro que vinha economizando ao longo dos anos. 

Era a casa mais bonita que eu já tinha visto em toda minha vida. Uma bela varanda e uma janela grande de vidro voltada para os fundos do local, em um cômodo que decidi que seria meu escritório particular. Talvez eu e Genna pudéssemos ser felizes lá um dia, bem longe de Greenderfield e seus títulos.

Meu pensamentos foram interrompidos apenas pela campainha insistente, alta demais para minha cabeça dolorida devido a ressaca.

— Oi, eu sou a Sally, sua vizinha! Ainda não acredito que sou vizinha de Timothy Miller, ai meu Deus! Eu conheço todas as suas músicas, você pode me dar um autógrafo?

— Opa, calma aí moça bonita. — levantei as mãos em frente ao corpo — Respira um pouco, Sally. Eu te ofereceria um copo de água, mas a única coisa que eu tenho aqui é um colchão que comprei ontem.

Ela me ignorou completamente enquanto me empurrava um bloco e caneta para minhas mãos. Suspirei e aceitei, assinando a página em branco que ela oferecia.

— Muito obrigada, eu nem acredito! Eu posso te convidar para almoçar como agradecimento, Senhor Miller? Faço um macarrão com queijo dos deuses.

— Claro, porque não?

Sally era uma garota legal e gentil. Tinha vindo para Los Angeles tentar a vida como figurinista e estava pegando um ou outro trabalho, o suficiente para se manter de forma confortável. Nós comemos e tomamos vinho, terminando a noite na praia, cantando e vendo as estrelas.

— Estou na praia conversando com Tim Miller, acho que já posso morrer feliz.

— Exagerada — ela riu e eu a acompanhei.

— Verdade, pra eu morrer feliz eu ainda teria que montar um figurino para alguma apresentação sua.

— Não é uma ideia ruim. Porque não?

— Você está falando sério?

— Claro, nós normalmente usamos o que já temos, seria legal diferenciar um pouco. Se isso for bem aceito, quem sabe não te contrato de forma permanente?

— Bem, isso seria incrível.

— Então — eu me levantei, tirando a areia dos jeans — mãos a obra, senhorita! Faça sua mágica.

Logo estávamos eu, Paul, Andrew e Gary no meio da sala de Sally sendo medidos e discutindo ideias para roupas que demonstram a personalidade da banda.

— Eu gostei da ideia de ter uma marca que nos identifique — disse Andrew analisando os desenhos que Sally esboçava

— Eu vou levar uns dias para terminar isso ainda.

— Não dá pra adiantar? Agora que eu te contratei não vou usar nada no show que não seja essa roupa que você está desenhando. — alfinetei.

— Vai ter que subir no palco pelado então.

— Isso é um desafio, Sally? — eu a encarei. Ela parecia se segurar para não rir.

— E se eu disser que é?

— Acho que vamos todos nos apresentar pelados, garotos.

No final das contas não nos deixaram subir ao palco nus, mas fomos apenas de cueca. Sally nos assistia do backstage entre gargalhadas e versos cantados aos gritos. A polêmica desse show aumentou substancialmente nossa fama e, por consequência a venda dos ingressos dobraram. Os garotos adoravam Sally e tenho que admitir que ela tinha talento.

Infelizmente, elas só nos acompanhou durante o mês em que estivemos nos Estados Unidos, voltando para Los Angeles enquanto seguíamos em direção ao México. Esse tempo todo sem notícias de Genevieve. Perigoso demais, ela dissera.

Era um dos motivos que me levavam a pensar que eu deveria seguir em frente, mas ela ainda dominava meu coração.

Sorrisos QuebradosOnde histórias criam vida. Descubra agora