Epílogo

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20 de Dezembro de 2014.

Volto ao escritório, dispersando as lembranças que teimam em invadir minha mente. Pela janela do escritório vejo minha esposa Sally montar um boneco de neve com Laila, minha filha de sete anos. Observo Sally por um momento, linda como sempre. Seus cachos agora pintados de um vermelho intenso que combina muito bem com a pele negra. Estamos vivendo felizes nos últimos vinte anos.

Do outro lado, sentado na poltrona na frente da escrivaninha, Louis me encara com expectativa. "Qual era de verdade sua relação com minha mãe, Senhor Miller? E o que realmente aconteceu naquele dia?"

E o que eu diria? Que o pai dele matou sua mãe por descobrir que éramos amantes?

Acho que ele mesmo já desconfiava disso.

Tiro os pés de cima da mesa, enchendo novamente o copo com uísque.

— Nós éramos melhores amigos desde a infância. Sua mãe morreu em um trágico acidente.

Uma mentira, quando repetida por vezes o suficiente, se torna verdade? Acho que ouvi ou li isso em algum lugar, mas porque ainda tinha um gosto tão amargo?

— É o que dizem. — Louis concorda. Seus olhos encontram os meus. — Eu sou mesmo filho dele?

Encaro aquele olhar. Os olhos exatamente da cor dos de Henry. Exatamente da cor dos meus. Essa pergunta Genna nunca me respondeu. Nunca me deixou me aproximar o bastante para saber. Talvez fosse o mais seguro para todos.

— Sim, para todos os efeitos, você é filho dele, Louis. Jamais o deixe questionar isso.

— Ele está morrendo. Câncer, para todos os lados. Quando atingiu o cérebro ele começou a devanear sobre minha mãe pedindo o divórcio. Diz que vê ela no quarto, que ela quer vingança. Eu encontrei os papéis do divórcio em um fundo falso na escrivaninha, foram assinados no dia em que ela morreu.

— Então você já sabe que ele sabotou o helicóptero.

— Eu só precisava ouvir isso de outra pessoa.

— Entendo.

— Ele não pode fazer mais nada contra o Senhor. Se um dia quiser retornar, estaremos de portas abertas.

— Greenderfield já não era meu lar muito antes de sua mãe morrer. Mas eu gostaria muito de visitar seu túmulo novamente, rapaz.

Ele assentiu e se levantou para ir embora. Peguei seu casaco, o entregando quando Louis chegou a porta. O observei partir até que sumisse ao virar a esquina.

Abri a mão, onde eu segurava o fio de cabelo de Louis.

— Vai fazer o teste? — perguntou Sally.

— Acho que algumas verdades não devem ser descobertas.

Sorrisos QuebradosOnde histórias criam vida. Descubra agora